Kurt Cobain – O Ídolo incompreendido de uma Geração

23 anos. Foi há 23 anos, assinalados hoje, que Kurt Cobain morreu. Um ícone de uma geração, um “inventor” de um novo estilo musical chamado Grunge, um herói para muitos, inclusive, para as lojas que vendiam camisas de flanela. No dia 5 de Abril de 1994, Kurt Cobain suicidou-se, levando assim ao fim de uma das bandas mais icónicas do século XX e sobretudo dos anos 90. Kurt Cobain era e será sempre, para todos os fãs de Nirvana ou de música em geral, um rosto marcante de uma era musical explêndida.

Kurt Donald Cobain, nasceu em Aberdeen, Washington a 20 de Fevereiro de 1967, filho de Wendy Elizabeth, empregada de mesa e de Donald Cobain, um mecânico de automóveis. Assim que nasceu, Kurt estava inserido numa família que tinha, algumas tradições na música. O seu tio fazia parte de uma banda chamada The Beachcombers e a sua tia tocava guitarra por várias bandas na sua localidade. Desde muito pequeno que a sua família o incutiu numa vida músical e artistica. Segundo a tia, Kurt Cobain já cantava aos 2 anos de idade e, aos 4, começou a tocar e a escrever uma canção sobre uma ida ao parque. É possível, ver assim que Kurt recebeu vários estímulos familiares, para começar uma carreira artística. Kurt tinha, igualmente, muito jeito para o desenho, já que, fazia desenhos das suas personagens preferidas e espalhava-os pelo quarto. Um dos seus desenhos mais famosos é o do Pato Donald, que é possível ver no filme Cobain: Montage of Heck, cuja crítica pode ler aqui.

Kurt teve, tal como, possivelmente, várias crianças da sua idade um grande desgosto quando aos 9 anos, os seus pais se resolveram divorciar. Contudo, Kurt dizia que tinha sofrido bastante e que isso o levou, inclusivamente, a ter vergonha dos pais. Segundo o próprio numa entrevista dada em 1993, Kurt afirmou ter ficado “ressentido” com os seus pais durante vários anos. “Eu não conseguia encarar alguns dos meus amigos na escola, porque eu queria ter, desesperadamente, uma família clássica, típica”.

Aliás devido à separação dos pais, Kurt começou a ficar mais inquieto, chegando a ter atitudes de bullying para com um colega da escola. Talvez devido ao facto de ter presenciado várias atitudes de violência doméstica, sofridas pela sua mãe às mãos do companheiro, já depois da separação. O certo é que, Kurt chegou a consultar um psicólogo que reconheceu que o jovem Kurt Cobain necessitava de um abiente familiar estável e único. Como tal, em 1979, Kurt passa a ficar apenas com o pai.

Sabemos que Kurt era bastante solitário durante a sua infância. Durante esta, criou, até por ser filho único, um amigo imaginário a quem chamou de Boddah. Boddah foi um dos seus melhores amigos durante a sua vida, ao ponto de lhe dedicar a sua carta de suícido. (Imagem à esquerda)

Cobain sempre foi conhecido por abraçar algumas causas sociais importantes, uma das quais era a homossexualidade, que apesar de não ser a sua orientação sexual, Kurt sempre a defendeu, tendo sido bastante amigo de um rapaz homossexual na escola, onde o protagonista desta crónica sofreu gozo por parte dos outros colegas, dado que estes o consideravam gay, por se dar com um homossexual. Numa entrevista em 1993, Kurt Cobain referiu que era “gay em espírito”, e que “até poderia ser bissexual”. Para se perceber bem a sua ‘paixão’ pela causa dos homossexuais, pode-se ler numa das suas notas pessoais: “Eu não sou gay, apesar de gostar de o ser, só para irritar os homofóbicos”. Para mim, autor desta crónica, esta sua ‘confissão’, evidência aquilo que eu conheço de Kurt, que era bastante irónico, sarcástico e defensor acérrimo das causas em que acreditava.

É sabido que Kurt foi, durante grande parte da sua vida, viciado em drogas. Heroína, principalmente, mas também vários comprimidos diferentes e até de LSD, como conta Kris Novoselic, antigo membro dos Nirvana e um grande amigo de Kurt Cobain. Uma das razões que o terá levado a este vício foi o facto de sofrer de bronquite e das várias dores que padecia, devido à sua não dignosticada doença crónica no estômago. Porém, este seu vício prejudicou-o um pouco durante a sua vida profissional, ao serviço dos Nirvana. Sobretudo devido à grande pressão que Nevermind gerou nele, mas já la irei. Várias tentativas de desintoxicação foram feitas, mas o vício era muito grande e após conhecer Courtney Love, que veio a ser sua mulher, os hábitos foram piorando. Aliás, foi com recurso a drogas que Kurt Cobain terá feito a sua primeira tentativa de suicídio, com uma mistura de Rohynopol e de champagne, por alturas da Primavera de 1994.

Mas vamos ao que verdadeiramente me traz aqui, a escrever uma crónica sobre aquele que é, não só uma das minhas referências musicais, mas também um ídolo, por aquilo que representa: A sua música. Eu comecei a gostar de Nirvana, bastante tarde, pelo menos para aquilo que me parece que é o natural. Tinha 19 anos, refugiando-me de um período menos bom, virei-me para os Nirvana como forma de ultrapassar. Até porque, eu sempre fui um grande apreciador de música, sobretudo, de música rock, devido ao excelente gosto musical que os meus pais me habituaram. Os Nirvana foram para mim, não só uma inspiração, mas levaram-me a ver a vida de uma outra maneira.

Aos 19 anos, sabia claro quem era Kurt Cobain, sabia claro quem eram os Nirvana, mas não conhecia a sua música, não conhecia a história. Conhecia sim a música da minha geração, da geração de 90, a conhecida geração X. “Smells Like Teen Spirit”, a música que já foi o meu toque de telefone e a música que levou basicamente os Nirvana ao expoente máximo da sua popularidade. Como forma de conhecer mais, o YouTube foi uma ferramente muito útil, dado que ia conhecendo e ouvindo músicas enquanto fazia trabalhos para a faculdade.

Apaixonei-me assim pela música dos Nirvana, sendo eles uma das minhas bandas preferidas, estando naquele top 5 que todos temos. Nesse Natal, pedi quando perguntado pela minha avó paterna o que gostaria de receber como presente de natal, referi e cheguei mesmo a escrever que queria o álbum preto dos Nirvana. Eu referia-me ao álbum de Greatest Hits, lançado em 2004, como forma de assinalar os 10 anos da morte de Kurt Cobain. No entanto, a minha avó, levada pela minha descrição compra-me aquele que foi o meu primeiro álbum dos Nirvana, e que foi igualmente o primeiro álbum que eles lançaram. Refiro-me é claro a Bleach!

Bleach é o primeiro álbum de estúdio dos Nirvana, que tinham sido compostos em 1987 e cujo álbum sai em 1989. Faziam parte da banda, Kurt Cobain, Kris Novoselic e Chad Channing. Deste álbum fazem parte grandes músicas como “Blew”, “School”, “About a Girl”, “Love Buzz” ou “Floyd, the Barber”. Apesar de não ter sido um êxito de vendas, Bleach recebeu notas muito boas por parte dos críticos, como é o caso da Revista NME que atribuiu um 8/10. Praticamente todas as músicas foram escritas por Kurt, excepto “Love Buzz”, já que é uma cover dos Shocking Blue. Dale Crover, um dos vários bateristas da banda, foi creditado nas músicas “Floyd, the Barber”, “Paper Cuts” e “Downer”. No lançamento dos 20 anos, foram adicionadas mais algumas músicas a este disco, que conta com um single de 1991, chamado “Molly’s Lips”, mas também com “Been a Son”. Músicas incontornáveis dos Nirvana!

Seguiu-se Nevermind em 1991. Onde o estrelato começa! Nevermind foi um caso de sucesso, não só por ser dos Nirvana e na altura já existir uma legião de fãs consideravelmente grande, mas também devido às suas músicas, mais concretamente, do “Smells Like Teen Spirit”, que uniram toda uma geração à volta dos Nirvana. 24 de Setembro de 1991 foi a data em que o álbum foi lançado. Produzido por Butch Vig e continha já a adição de Dave Grohl, o actual vocalista e guitarrista dos Foo Fighters, como baterista dos Nirvana.

Em Janeiro de 1992 (aqui para nós caro/a leitor/a, o melhor ano de sempre), tinha conseguido superar o álbum de Michael Jackson, Dangerous, no topo da tabela da Billboard. Nevermind continha ainda mais três singles de grande sucesso. Para além do “Smells”, foram igualmente singles, as músicas “In Bloom” (uma das minhas preferidas), “Lithium” (se pelo nome não vai lá, é aquela do “I’m so happy, ‘cause today I found my friends”) e “Come As You Are”.

Algo que talvez não saiba sobre Nevermind e Kurt Cobain é que, para o líder dos Nirvana, tal como Dave Grohl contou “a música vem primeiro, a letra vem em segundo”. E como tal, durante a produção de Nevermind, Kurt ainda estava a escrever as letras. Todos sabemos que algumas das letras das músicas dos Nirvana, referem-se muitas vezes a situações de vida de Cobain, aliás, “Drain You”, refere-se à relação disfuncional que Kurt teve com Tobi Vail, uma das namoradas que Kurt tinha antes de conhecer Courtney Love. Inclusivamente, as letras de “Lithium” foram mudadas para referenciar a relação com Vail.

Nevermind tem algumas das melhores músicas dos Nirvana. Para além das músicas já referidas, é preciso nomear também músicas como “Polly”, “Stay Away”, “On a Plain”, “Something In the Way”, “Territorial Pissings”. A crítica mais uma vez considerou um álbum dos Nirvana como muito bom. A revista NME deu um total de 9 em 10, a Rolling Stone deu 4 estrelas em 5 possíveis. Ou seja, excelentes críticas por parte de revistas conceituadas. Porém, muitas das críticas que Nevermind recebeu devem-se muito ao single “Smells Like Teen Spirit”, dado que incialmente, muitas publicações ignoraram o álbum.

Todos sabemos que foi Nevermind que lançou uma completa histeria sobre os Nirvana e sobretudo sobre Kurt. Ele que foi apelidado logo pelos media de ícone da geração e ainda como a voz da geração. Algo que, para Kurt era impensável e que ele não queria, apesar dos media insistirem nisto.

O seguinte álbum de estúdio de originais foi In Utero, lançado já em 1993. Mais concretamente em 21 de Setembro de 1993. Contém das minhas músicas preferidas como “Pennyroyal Tea”, “All Apologies”, ou até, “Heart-Shaped Box”. Também fazem parte deste álbum outras excelentes músicas dos Nirvana, como “Rape Me”, “Dumb”, ou até “Tourette’s”. Mais uma vez, este álbum contém pedaços da vida de Kurt, ao que Grohl explicou como “muito do que ele tem a dizer está relacionado com a quantidade de mer** que ele tem passado. E já não é só uma raiva de adolescente. É de algo completamente diferente: raiva de estrela de rock”.  Mais uma vez a crítica adorou o álbum, tendo a NME dado 8 em 10 e a Rolling Stone atribuido 4 estrelas e meia.

Mais tarde, ainda em 1993, veio um das performances mais intemporais de sempre. O MTV Unplugged in New York. Um álbum gravado ao vivo, tal como de Reading em 1992. Contudo o álbum só iria ser lançado mais tarde, já depois da morte de Kurt Cobain. Neste álbum/concerto, várias músicas dos álbuns anteriores foram interpretadas, inclusivamente, a cover de David Bowie, “The Man Who Sold the World” e ainda a “Where Did You Sleep Last Night”.

Kurt Cobain morreu, no dia 5 de Abril de 1994. Suicidou-se devido à grande pressão que sofria e dos vários problemas derivados das drogas. Perdemos um ídolo. Um dos seus melhores amigos e membro dos Nirvana, Dave Grohl considerou que a data da morte de Kurt foi “provavelmente um dos piores dias da minha vida. Eu lembro-me que no dia seguinte acordei e fiquei destroçado que ele já não estava entre nós. Pensei ‘então eu acordo hoje e tenho outro dia e ele não’”.

Será, para sempre, uma das figuras incontornáveis do rock e da música americana. Desde a sua morte que não existiu, no Rock nenhuma figura tão consensual e problemática como Kurt. Devemos muito do rock actual a Kurt. Devemos grande parte da qualidade da música dos anos 90 a Kurt Cobain. Obrigado Kurt! Até sempre!