Lá na minha terra… – Este país é para velhos

Lá na minha terra existem muitos bebés, muitos e cada vez mais, crescem que nem cogumelos e ao ritmo do aumento de casais com o rendimento mínimo, ou de inserção social, o que soar menos rude de dizer. Mas parece que a minha terra é um caso à parte – tanto a nível de crianças quanto a nível de jovens casais preguiçosos e esbanjadores com o tal subsídio. Portugal é o segundo país do mundo – sim, da imensidade do mundo – com a menor taxa de natalidade. Segundo!

Numa crónica já havia lançado as cartas e previsto o futuro dos jovens. Não sou vidente mas não fujo muito à verdade. Não mencionei as emigrações e fugas mas falei em filhos, ou na falta deles. As mulheres adiam cada vez mais a maternidade, se calhar não por vontade própria, mas por vontade da situação que as rodeia. Não é possível ser mãe e dar o necessário a um bebé – que não é sempre bebé, a criança cresce, vai para a escola, usa roupa, pratica desporto, come sem fim, vai para a universidade, etc. etc. – sem ter um emprego, e uma casa, mas principalmente dinheiro certo e suficiente durante o mês. Morar em casa dos pais é a solução mais viável dos dias de hoje. A adolescência não é mais uma etapa, é um estado permanente. A solidão parece certa e nem sempre é possível passar pela fase adulta, da adolescência prolongada rápido se chega à velhice. Velhice precoce.

Contam-se os trocos e as moedas de cêntimo a cada vez que se abre a carteira. Fazem-se planos a curto prazo consoante as moedas que sobram. Como podem as mulheres pensar em filhos? Quer dizer, as mais desafogadas bem que podiam fazer o gosto à maternidade mais cedo e mais vezes, mas como vão elas saber se daqui a uns cinco anos estarão economicamente bem? Nada é certo, nunca foi, muito menos agora. A única certeza é que não podemos fazer fiado e pensar em grande. A única certeza é que caminhamos para velhos e cada vez haverão menos jovens a caminhar no mesmo sentido. Nos dias que correm é cada um por si, cada um por si só, e os que aí vêm serão poucos e ver-se-ão à rasca para se desenrascar. A velhice é certa, assim como o aumento de idosos nos anos que se seguem. Serão muitos avozinhos sem netos para contar as histórias da sua vida.

Em Portugal, cada mulher tem em média 1,32 filhos. De crise económica vamos passar a crise demográfica, bem mais grave. Seriam precisas dois nascimentos por mulher em idade fértil para assegurar as gerações. Parece-me que vamos ficar pela metade, mais uma vez. Menos nascimentos implicará menos crianças e menos jovens no futuro, a juventude vai ser rara e nem sempre o que é raro é bom. Os idosos vão ser cada vez mais a maioria da população. Estamos um país velho e esta velhice afecta cada um de nós. Estamos velhos em espírito, velhos em cooperação, velhos em mentalidade, e caminhamos para velhos em idade o que vai envelhecer ainda mais este país em todos os aspectos possíveis e imaginários. Se agora nos queixamos de desemprego, não tarda queixámos-nos de falta de mão de obra jovem. Com tão pouca oportunidade e tanta vontade de emigração, resta-nos a velha guarda. Este país é para velhos.


Crónica de Daniela Teixeira
Lá na minha terra