Lá na minha terra… – Ídolo, pelo menos em título

Lá na minha terra ninguém canta, quanto mais encanta. Por lá não se ouve falar muito em ídolos, não somos um povo muito musical, só mesmo nas festarolas dos Santos pelo Verão. Mas falando em ídolos, parece que vamos conhecer um próximo em meses. O programa televisivo Ídolos está de volta, as datas para os castings estão marcadas. Mas fica a pergunta, dos vencedores quais são ídolos de alguém? Pois…

Maioria dos que concorrem lutam por um sonho, outros pela via mais fácil. E talvez por ser um sonho os pés não estejam assentes no chão, o que importa é encantar o júri nas primeiras provas para fazer parte da elite que vai cantar nos directos. Mas isso chega para se ser um ídolo? Não, nem de perto. Viver da música é algo que me intriga, muitos querem sabendo que dá tudo menos segurança económica. Agora pergunto, o que é feito dos outros ditos ídolos de Portugal? Chegaram realmente a ser ídolos de quem quer que seja? Quem concorre agora com certeza que acha que consigo será diferente. Esse espírito a mim agrada-me, assim como o formato do programa, mas a verdade é que serão mais uma fornada de caras novas para a imprensa cor-de-rosa e depois desaparecem do mapa dos conhecidos. É a lei da fama fácil.

Este tipo de concursos dificilmente dá fama a alguém, dificilmente dá aquilo que se realmente quer: viver da música. Ninguém compra cd’s (até agora, veremos se a SOPA não nos dará mais azia), quase ninguém ouve música portuguesa (malditos americanos), são raros os que têm como ídolos estas caras larocas dos programas de televisão. Os concorrentes são presenças nas nossas mentes e conversas num curtíssimo espaço de tempo, depois passam a anónimos de novo. Nuno Norte, venceu, lançou um álbum em conjunto com a Filarmónica Gil e participou no Festival RTP da canção, alguém sabia disto? Sérgio Lucas venceu a segunda edição do concurso, após isso canta nos programas da SIC, participou no musical Jesus Cristo Superstar, lançou dois álbuns e um livro. Sabia? A terceira edição contou de novo com um homem a vencer, Filipe Pinto, o menino bonito das jovens portuguesas: foi para Londres graças ao prémio conquistado com a vitória e participou na digressão nacional de um festival de Verão. A última edição contou com Sandra Pereira como vencedora que foi a voz do genérico do Peso Pesado. Sabia estas coisas sobre os ídolos? Não? Pois nem eu, tive que pesquisar, pois os ídolos não o chegam realmente a ser. É pena, mas é a realidade.

Esta alternativa nunca é uma perda de tempo, pode não se abrir uma porta mas uma janelazita deixa-se encostada. É tão mais fácil colocar os estudos ou o emprego de lado e tentar a sorte num programa de televisão, mesmo sabendo que o que mais ganhará se não dores de cabeça. Quem quer realmente viver da música, apostar no seu dom e talento para singrar na vida pode seguir os estudos na área, formar-se, frequentar conservatórios e escolas de musica seja em Portugal ou no estrangeiro. Mas não, a caixinha mágica é a solução mais fácil, a televisão continua a iludir.

Crónica de Daniela Teixeira
Lá na minha terra