Lá na minha terra… – Modas

Lá na minha terra não somos muito de modas, as velhinhas optam pelo preto, os senhores pelo confortável, os miúdos pelo prático e os jovens pelo enfim. Eles até andam na moda, roupinha nova, toda bonita e engomada, pena a moda de agora ser cada vez mais estranha, mais copiada, mais comercial.

Agora é moda ter os dentes tortos e andar assim com eles ou ter os dentes direitos e usar aparelho. Agora é moda ver mal e usar óculos grandes e quadrados (os famosos Ray Ban Wayfarer) ou ver bem e usar óculos na mesma. Agora é moda usar calças pelos joelhos, com os boxers à mostra e com o cinto a atrofiar o andamento. Ou então andar com calças tão justas que um ar da nossa natureza rebentaria as custuras. Agora é moda andar com um ténis de cada nação e com atacadores todos floribelas. Ou então com sapatinhos de vela de todas as cores e feitios.

Agora é moda as raparigas raparem parte do cabelo e deixarem a franja e os rapazes andarem gadelhudos sem ver ponta à frente. Agora é moda as miúdas vestirem-se como gente grande e saírem de um dia normal de aulas numa escola básica com um decote e tacão. Ou então vestir camisolas onde cabem três pessoas. Agora é moda os quadradinhos, as flores, as calças verdes, laranjas, amarelas, roxas e cor de burro quando foge. Os padrões animais e animalescos. Agora é moda vestirem leggings amarelas e saias florescentes com camisolas de malha e casacos de pelo. Agora é moda ir ao baú da mãe e da avó e vestir aquilo que elas vestiam. Ou usar toda e mais alguma bujiganga. Estes dizem-se vintage mas às vezes vestem-se que nem avózinhas. Agora é moda andar com máquinas fotográficas profissionais a fotografar tudo e todos. Agora qualquer um é amante da fotografia. Agora é moda dizerem-se poupados, vintage que usam roupas e bijuteria antiga mas terem um iPhone.

Agora está na moda os jovens adultos, ou os adolescentes velhos, serem hipsters, vestirem-se de maneira diferente ou serem todos alternativos. Ser hipster é fazer parte de uma contra-cultura, ter ideais vincados mas opostos aos comuns, mais modernistas. Ser vegetariano, gostar de um determinado tipo de música, ser ambientalista, artista, modernista. Pena é a ganapada de hoje saber lá o que é uma cultura quanto mais uma contra-cultura, ter um ideal ou uma opinião para confirmar ou refutar, mas dizem-se hispters porque afinal o que conta é a aparência, para isso basta se vestirem como aqueles que vêem em sites estrangeiros.

Nunca fui grande apologista de “modas”, prefiro tentar seguir as tendências, vestir aquilo que está “in” sem cair no ridículo de ser uma cópia dos demais, afinal qual é a piada de nos vestirmos todos do mesmo modo? Pena estas ditas modas serem aquilo que realmente importa para os jovens, muito por culpa da facilidade de acesso a determinadas roupas e lojas, agora está tudo mais à mão de semear e não é esta pseudo-crise que impede os mais novos de esbanjar dinheiro em roupa. Eu com os meus 14 anos queria lá saber se andava vestida como os outros, queria era paz e sucesso e muita brincadeira, e tentações não faltaram, sou do tempo dos punks, dos góticos e mesmo dos betinhos da Foz. São escolhas, e na verdade na altura não havia  a facilidade em ir a uma loja de roupa e comprar tudo o que queria. Abençoada minha mãe que cedo me meteu travões. Hoje, os pais não conseguem mais ter pulso nos filhos, muito menos naquilo que vestem. Agora estar na moda é ser-se diferente mas vestir-se como todos os outros que se dizem diferentes.

Crónica de Daniela Teixeira
Lá na minha terra