Last Christmas

Durou cinquenta e três anos a sua presença física no mundo, mas, entre nós, a lembrança da voz inconfundível de George Michael irá permanecer, para as gerações vindouras, como o exemplo de um artista multifacetado que, além de cantor, foi um compositor de tão vastos recursos como seria um futebolista que possuísse a determinação de Ronaldo, usufruísse do bom jogo de cabeça de Slimani e tivesse o pé esquerdo de Messi.

Descendente de britânicos grego-cipriotas, mas daqueles que se davam tão bem como anteriormente à disputa pela posse da ilha de Chipre, George Michael criou em parceria com o londrino Andrew Ridgeley, uma dupla cujo sucesso a meio dos anos oitenta, somente haveria de equiparar-se ao que o próprio continuaria a ter mas desta vez numa carreira a solo, que começaria com o álbum “Faith” lançado em oitenta e sete.

A dupla, que se fazia acompanhar de outros três elementos, chamava-se Wham! Mas com o apoio incondicional dos fãs, dos inúmeros locais onde iam tocar foram saindo com o epíteto de fantásticos e, ao nome original, juntaram-se variados adjetivos que, entre os fãs de música pop os tornaram uma lenda.

Ao cabo de cinco anos de existência, estávamos em mil novecentos e oitenta e seis e, ainda os êxitos dos singles extraídos do álbum “Make It Big” ecoavam nas rádios como se os tocassem no fundo de uma caverna que fazia ouvir-se na China, já a banda formada pelos antigos colegas de escola que se conheceram em Bushey, nas imediações da cidade de Watford, anunciava o seu fim.

Todavia, não só era bonito como talentoso e dando provas do seu virtuosismo, George Michael encetava então uma carreira a solo que o haveria de projetar no firmamento. Estrela maior do panorama artístico, foi convidado a participar em espetáculos, como o de Wembley em homenagem aos Queen em noventa e dois, e gravou duetos com artistas como Aretha Franklin, consagrados desde o tempo em que a ele, ainda faltava percorrer mais de três quartos do caminho até atingir os quarenta anos de carreira.

A solo, George Michael estreou-se com “Faith”, premiado com o Grammy de melhor álbum do ano e que marca a ascensão aos lugares cimeiros nas tabelas americanas de Rhythm and Blues, feito à medida de quem acha que na música cabem todos os compositores e intérpretes que são verdadeiramente originais. Filho de um cipriota emigrante no Reino Unido e de uma bailarina inglesa, a quem uma morte precoce não retirou o prazer de ver a carreira do filho reconhecida publicamente, George Michael encontrava-se a preparar um novo trabalho, quando a sua morte nos ceifou a esperança de tornar a ouvi-lo ao nível a que nos habituou desde a estreia.

Nascido em Londres, Georgios Kyriacos Panayiotou viria a falecer em Oxfordshire, na quadra natalícia deste ano, pacatamente na casa onde morava, de onde se esperava que anunciasse um documentário sobre a sua vida para ser exibido em março e onde era suposto que estivesse feliz e não, neste vinte e cinco de dezembro de dois mil e dezasseis, a viver o seu “Last Christmas”.