Lazy Days – Carla Vieira

Antes de termos empregos, somos estudantes. Acima de tudo, ser estudante é ser trabalhador sem salário. Estudamos para nós, claro, mas estudamos para trabalhar para outros. É extenuante e quase um abuso, porque não só temos de entregar trabalhos a cinco ou seis pessoas diferentes (leia-se professores), temos de passar testes e exames com um mínimo de esta ou aquela nota, fazer relatórios sobre assuntos tão rebuscados que parecem tirados do antigo testamento e aguentar com vinte ou cinquenta colegas de turma, um quarto dos quais falam como se andassem perdidos na vida e só se safam fazendo aquele velho truque de enfiar notas no forro do casaco.

Ou usando o iPhone, nestes dias. Sim, já vi este fenómeno.

Depois do curso feito temos os empregos part-time a recibos verdes, ou os empregos a tempo inteiro se formos mesmo mesmo felizardos. Mais ou menos pessoas a quem responder, menos “estudo” mas mais trabalho, dinheiro ao fim do mês mas contas para pagar… E família, amigos, namorados. Tudo ao mesmo tempo, sete dias por semana.

De estudar para trabalhar a diferença é alguma, os horários tornam-se inflexíveis e impiedosos, e por isso o stress aumenta alguns níveis, as saídas tornam-se quase invisíveis e as pessoas não se organizam como costumavam. Perdem-se os velhos hábitos de estudante de faculdade.

Com isto tudo comecei a perceber o porquê dos adultos andarem sempre com olhar cabisbaixo e cansado, aquela postura digna de velhotes e a expressão aborrecida de quem passa pela vida sem olhar para ela. Agora mais do que nunca eu também entendo que é importante termos um dia de repouso em que possamos fazer aquilo que quisermos, ou, simplesmente, não fazer nada. Cada vez mais precisamos de um espaço nosso e cada vez menos o temos. Pelo que vejo, até os fins-de-semana são dias de trabalho, embora não um trabalho que compense monetariamente, mas ainda assim um emprego full-time que, a meu ver, pouco compensa.

Eu sou sortuda e tenho sempre um dia quase só meu. Claro que não é bem assim, mas posso passa-lo da maneira que mais me der jeito, e a maior parte das vezes é ficando em casa e arranjando coisas para fazer sozinha. Estarmos sozinhos em paz também é importante, por muito que a vida grite por nós acerca de dinheiro, impostos, preocupações e afins. O nosso tempo já de si é tão limitado que às vezes acabamos por deixar de nos reconhecer.

Eu faço o que posso para, pelo menos uma vez de quinze em quinze dias, ter um tempinho só meu para relaxar. Eu sei que com o estado do país, talvez a palavra “relaxar” assuste algumas pessoas. Afinal de contas, enquanto relaxamos não ganhamos dinheiro. Mas para ser sincera, mesmo com tanta falta de verdes, o nosso maior problema é o stress, e esse não vai embora assim por nada. Por isso Portugueses, relaxem um bocadinho. Vai fazer bem.

Até para a semana!

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente