Liguei à Dona Alice do Intermarché

Caros leitores, a história que vos trago aqui hoje é real, apesar da sátira que acrescentei. Foi a minha prima Catarina que me contou, aconteceu há sensivelmente dois meses, numa noite de lua cheia, com a irmã da prima da amiga dela, a Joana.

Eram 23 horas, Sexta-feira, Joana tinha combinado um encontro com um tipo jeitoso, o Francisco, andavam a curtir há dois meses (nos dias de hoje não se namora, curte-se, que é quase a mesma coisa, com a pequena diferença de que quando se namora só se faz amor seis meses depois, quando se curte dá-se uma keka logo na primeiro encontro, assim se o tipo não prestar vai logo de vela, poupando tempo, constrangimentos e cuecas novas). Encontraram-se na Marina do Freixo, tomaram um café, conversaram o suficiente, e dirigiram-se para o automóvel do Francisco com o objectivo de dar uma keka-popó.

Depois das caricias iniciais, beijo ali, beijo acolá, desaperta a camisa, levanta a saia, tira o cinto das calças, não tira as meias, troca de olhares, sorriso malandro, tira as cuecas…

Mor coloca o preservativo.

– Ei porra, esqueci-me! Foda-se. Não tens nenhum na tua mala? Que não esteja usado de preferência.

E se te calasses, ó porco! Vou ver. Irresponsável pá.

Joana procurou mas não encontrou.

Não tenho. Que frustração! Estava com tanta vontade.

– Mor, eu ejaculo para fora, não há stress…

– Não meu querido, já caí nessa cinco vezes, não caio novamente.

– Ah? Não percebi!

– Esquece! Agora as farmácias não vendem preservativos, os hipermercados já fecharam, aonde vamos comprar preservativos a esta hora? Ah, já sei, vou ligar à Dona Alice do Intermarché.

– O Intermarché vende preservativos?

Deve vender, se nas lojas dos chineses têm preservativos, no Intermarché também deve ter.

Trim, trim, trim, trim…

Estou?

– Boa noite Dona Alice, eu estou a ligar-lhe a esta hora porque precisava de um produto da sua loja.

– Ah? Como? Desculpe, deve ser engano.

– A senhora não é a Dona Alice?

– Sou sim.

– Então é mesmo consigo Dona. Eu precisava de preservativos.

– Jovem, o que é que eu tenho a ver com isso? Eu não sou a farmácia nem o Centro de Saúde!

– Irra, você na televisão é muito mais simpática! Você abriu o raio da loja, às tantas da noite, para aqueles pais negligentes comprarem leite para o pirralho, que não parava de chatear só porque tinha fome, e agora eu precisava de uma caixa de preservativos e você não vai abrir a loja.  Eu daqui a cinco minutos estou à porta da sua loja em Oliveira do Douro, ok?

– Oh minha querida, espere sentada! Coise sem preservativo e com sorte sai um filho com a cara do pai!

– Dona Alice, eu já tenho três filhos, os três de pais diferentes.

– Três filhos? E aonde andam os seus filhos enquanto está no roça roça?

– O de 9 anos está com o pai, o de seis está com a avó e o de três está com os tios, o tribunal decretou assim a guarda, porque eu não tenho condições para os criar.

– Que bela vida a sua! Olhe se engravidar faça um aborto que é legalmente permitido.

– Não posso Dona, já fiz dois abortos em menos de dois anos, os médicos já nem me podem ver à frente.

– Em último recurso, tome a pílula do dia seguinte.

Não posso Dona, já tomei tantas que o médico não sabe como é que ainda tenho útero.

Nesta altura da conversa o Francisco estava atónito, paralisado, pensava que a Joana era praticamente virgem, mas afinal de virgem só tinha as orelhas, o ambiente esfriou totalmente e ele só queria pirar-se dali para fora…

Isto não pode piorar pois não? Que idade você tem?

– 23 anos.

– 23 anos, três filhos, o mais velho tem nove anos significa que foi mãe aos quatorze…estudar não minha querida?

Não posso estudar porque a psicóloga disse-me que tenho incapacidade de 1% em raciocínio.

 – Ai, puta que pariu a minha sorte! E trabalhar népias?´

– Não posso trabalhar porque tenho uma hérnia discal que me provoca enxaqueca e dores na coluna muito fortes.

Não podes vergar a mola para trabalhar, mas podes vergar outras partes do teu corpo! Ai juventude, que será da minha reforma se o Estado anda a gastar o guito todo com estas parolas sem cérebro!

– Dona Alice, a conversa está óptima, já percebi que a Dona Alice é boa pessoa e tal, mas eu só queria saber se vai abrir a loja para eu poder comprar o produto que quero!

– Olha minha querida, eu podia ir abrir a loja a esta hora da madrugada para ti, mas a verdade é que…o Intermarché não vende preservativos! Nem comercializamos qualquer produto do género. Boa noite.

Passados nove meses nasceu o quarto filho…o Francisco pirou-se, mas pelo caminho a Joana encontrou um Tiago. E a culpa de quem é? Da Dona Alice pois claro.