A loucura pelo filho pródigo

“Filho pródigo à casa torna”, e assim foi. Foi exactamente sob esta égide que Luís Carlos Cunha voltou ao Sporting sete anos depois de ter abandonado o clube de alvalade e sendo, até hoje, o maior encaixe financeiro da história dos verde e brancos. Depois de se ver relegado para segundo plano em Manchester, Nani decidiu arriscar e voltar ao sítio onde já foi feliz e onde será, por um ano apenas, a estrela maior. A chegada do internacional português é apenas mais um caso de um filho pródigo que voltou a casa. Como será o seu regresso? Terão os meninos que voltam a casa outro tipo de responsabilidade?

Todo o adepto rejubila com o jogador que volta. A euforia que se gera em torno de um profissional que foi outrora fulcral no clube e que, seja em que altura for, decide voltar é avassaladora. Os jornais fazem capas, a direção negoceia, os adeptos sonham e a obra nasce, neste caso é o bom filho que regressa. Quem se diz fanático por futebol, até mesmo os que são simpatizantes, desde miúdos a graúdos, todos imaginam o regresso do seu D.Sebastião, aquele que não surgirá num dia de nevoeiro mas que numa qualquer janela de transferências voltará ao clube do coração, ou aquele que lhe paga mais, para erguer de novo um símbolo.

Seja porque motivos for, o certo é que a nossa Liga é profícua em casos destes. Os jogadores, como profissionais que são, acabam por, mais tarde ou mais cedo, dar o salto. Um salto muitas vezes maior que a perna, no entanto, muitos acabam por voltar. Seja por falta de oportunidades em emblemas de topo europeu, seja pela vontade de acabar cá a carreira, ou simplesmente por pensarem que tanto tempo afastado do “clube do coração” é muito. Não há uma razão fixa, o que há, e isso acontece sempre, é um entusiasmo desmedido e uma exacerbação em excesso. Quem volta é sempre levado pela euforia, é constantemente pressionado pelo público e muitos deixam-se levar. Não é fácil carregar o sonho de um campeonato aos ombros, não é fácil ser visto como a musa inspiradora ou o salvador da pátria. Ser filho pródigo e voltar à casa onde já se foi feliz – há quem diga que é um erro – acaba por ser um misto de emoções, levando quem volta a estar constantemente num limbo entre o amor e o ódio, algo que não é nada fácil de gerir e em que qualquer passo em falso pode levar a uma condenação de carreira.

Vejam-se os exemplos mais ou menos recentes de Quaresma e Lucho, no F.C.Porto, Nuno Gomes e Rui Costa no Benfica e o mais recente de Nani, no Sporting, entre muitos outros. Nem todos os casos foram iguais e os motivos de regresso divergiram, contudo, algo os unia, a vontade de voltar a singrar na casa onde foram felizes e lhes abriu horizontes. A pressão e o contentamento foram proporcionais, havia a ânsia de os ver actuar, a necessidade de berrar um golo seu mais do que qualquer um, os inúmeros pedidos de fotografias e camisolas como se de ídolos se tratassem. Nem todos souberam lidar bem com a obrigatoriedade de fazer sempre o melhor para corresponder às expectativas, uns vacilaram e acabaram por destruir a boa imagem que haviam deixado, outros não se deram por vencidos e cravaram uma vez mais o seu nome na história do clube.

Por mais cultura táctica, vertente física, treinos e imprensa que exista os adeptos continuarão sempre a valorizar quem tudo fez pelo clube, quem gosta e gostará sempre da instituição e aqueles que jogam e valorizam o símbolo que trazem ao peito. É disso que vive o futebol, das paixões despoletadas por um simples beijar de símbolo, por um simples “é bom voltar a casa” ou um sincero sorriso na hora de vestir a camisola. Tudo isto é o que se espera de um filho pródigo que voltou a casa, uma casa que bem conhece e que deposita nele o sonho de uma época. Nani, no dia em que pôs Alvalade em apoteose, falhou um penalty que podia ter ditado o segundo empate consecutivo, será que sobreviverá à pressão da massa adepta e sairá desta época de empréstimo como o salvador da pátria? Veremos.