Luís Castro: solução de recurso ou aposta segura de futuro?

Não estamos habituados a ver o FC Porto passar por momentos tão conturbados como esta temporada. A mudança de treinador a meio da época não é inédita, mas não deixa de ser sinal de alguma instabilidade, se atendermos ao fato de que a saída de Paulo Fonseca apenas não se deu mais cedo por “casmurrice” de Pinto da Costa.

Embora o ano desportivo já tenha reservado uma Supertaça para o museu azul e branco e outros três troféus ainda estejam ao seu alcance, no FC Porto as coisas funcionam de forma diferente. Se em qualquer outro clube a conquista de uma Supertaça e a presença em fases tão avançadas da Taça da Liga, Taça de Portugal e Liga Europa fosse motivo mais que suficiente para se considerar positiva uma temporada, no reino do Dragão a exigência é outra. A distância pontual para o seu maior rival e com o segundo lugar quase perdido, juntando as exibições sofridas na maioria dos jogos e a eliminação precoce da Champions, deixaram Paulo Fonseca sem mais margem de manobra junto dos adeptos portistas e fazendo partir a corda que o mantinha ligado à direcção.

A escolha de Luís Castro, pelo menos até final da época, acaba por ser a solução mais óbvia e mais segura. É um homem da casa, conhece bem o plantel, a cultura do clube e não tem a pressão que qualquer outro que viesse numa altura tão conturbada viria a ter. Até ao momento o trabalho do anterior técnico da equipa B azul e branca tem sido positivo e voltou a fazer do Estádio do Dragão a fortaleza a que os adeptos portistas há muito se habituaram. A eliminatória com o Nápoles e a vitória diante do Benfica, aliadas a boas exibições, foram os pontos altos e de grande afirmação do treinador que tem demonstrado um discurso coerente mas seguro, coisa que não se via no seu antecessor. Jogadores como Defour, Jackson Martinez, Diego Reyes, Quintero, entre outros, ganharam nova alma e são a prova viva de que a confiança é a base de um jogador profissional.luiscatro

Luís Castro devolveu ao FC Porto a posse de bola, o domínio de jogo e a segurança defensiva, mesmo com todas as lesões e castigos nesse sector, para além do modelo de jogo que o clube tem apresentado ao longo dos últimos anos e que tão bons resultados têm dado. Desmontou o duplo pivô, deixou Fernando sozinho como ele gosta, libertou Defour e a equipa ganha mais tempo de posse de bola, facilitando a vida a Jackson Martinez que tem mais apoio na frente. Juntando a tudo isso uma emersão categórica de Diego Reyes no seio da defesa, uns furos acima de Mangala e a milhas de distância de Abdoulaye, de momento o elo mais fraco da defesa, com a irreverência de Ricardo Quaresma (embora nem sempre com as melhores decisões em prol da equipa), o futebol do FC Porto ganha outra dinâmica e outro equilíbrio que não se viu em grande parte da temporada.

Com tudo isto a seu favor, Luís Castro reúne todas as condições para continuar como treinador do FC Porto na próxima época, no entanto, tudo poderá ainda depender de como terminar a presente temporada (não esquecer que o 3.º lugar não está garantido) e que troféus a equipa conseguir resgatar. Seja qual for a decisão de Pinto da Costa e da direcção portista, Luís Castro tem já do seu lado a nação azul e branca e o facto de ter devolvido a confiança a alguns jogadores que pareciam ter desaparecido para o futebol.

 

A magia da Champions é o néctar do futebol modernochampios

A Liga dos Campeões é, por estes dias, a grande competição a nível de clubes em todo o mundo. Qualquer jogador, europeu ou não, anseia entrar em campo e ouvir o hino desta enorme prova. Estão reunidas as melhores equipas e os melhores jogadores. A emoção da fase a eliminar supera tudo o resto que uma equipa tenha feito ao longo de toda a competição. Nesta fase não é permitido falhar, se a primeira mão correu mal, na segunda é obrigatório arriscar e nenhuma eliminatória fica decidida depois dos primeiros 90 minutos.

Senão vejamos: o Real Madrid bateu de forma categórica o Borussia Dortmund na primeira volta por claros 3-0, numa partida em que os alemães desperdiçaram algumas boas ocasiões para fazer golo. Uma semana depois a turma de Klopp demonstrou que os 4-1 da última edição da prova não foram um acaso e, somente não conseguiu igualar ou mesmo dar a volta à eliminatória por manifesta infelicidade e algum desacerto na finalização. Di Maria desperdiçou uma grande penalidade que mataria as aspirações dos germânicos e tudo mudou nesse lance. O Dortmund cresceu, empurrou um Real que se mostrou demasiado nervoso sem Ronaldo e, duas “ofertas” merengues, resultaram em dois golos alemães, aproveitados pelo fantástico todo o terreno do meio campo para a frente, Marco Reus. Tanto desperdício na segunda parte acabou por deixar os vice-campeões europeus fora das meias-finais, deixando os comandados de Ancelotti a 180 minutos de regressar a uma final europeia.

Jose-Mourinho-001Outro jogo de grande emoção teve como palco Stamford Bridge, em Londres, numa país onde o futebol se vive de forma impar e onde José Mourinho acabou por repetir uma corrida triunfal ao longo da linha lateral até junto da bandeirola de canto. Após ter sido derrotado em Paris por 3-1, diante do milionário PSG, o Chelsea tinha uma missão difícil e complicou-se quando Hazard saiu lesionado aos 17 minutos, equilibrando as contas, uma vez que do lado parisiense a estrela sueca, Ibrahimovich estava de fora por lesão. Acabou por ser o substituto do belga nos “blues”, Schurrle, quem daria vantagem aos ingleses no jogo ao fazer o 1-0. O golo do triunfo surgiu já muito perto do minuto final, com Demba Ba, também saído do banco, numa altura que Mourinho já jogava com Torres e Eto’o ao lado do costa-marfinense, a despoletar a euforia nas bancadas e no banco do Chelsea. José Mourinho reeditou a mítica corrida de Old Trafford após o golo de Costinha e caracterizou de forma perfeita o que é o espírito da Champions e as emoções que esta competição desperta. Pela oitava vez na sua carreira o técnico português marcará presença numa meia-final da prova rainha do futebol europeu de clubes.

O campeão europeu em título, o Bayern de Munique, também não se livrou de um susto na recepção ao Manchester United que tentava a salvação da época. O golo de Evra apenas serviu para acordar o gigante alemão que rapidamente virou o jogo e colocou a eliminatória a seu favor, numa partida completamente dominada pela equipa de Pep Guardiola que atropelou por completo a formação inglesa.

E quem continua a surpreender, ou não, é o Atlético de Madrid que deixou pelo caminho o todo-poderoso Barcelona. É certo que o tiki-taka já não é tão eficaz como noutros tempos, os próprios jogadores blaugrana mostram-se desgastados com esse sistema e o apagão de Messi nesta segunda mão não ajudou em nada a turma de Tito Martino. Por seu lado, Simeone continua a demonstrar um conhecimento táctico fantástico, e somou o seu 5.º jogo este ano com o Barcelona sem ceder qualquer derrota. Para muitos pode ser o outsider da competição, mas para quem segue esta equipa já não surpreende ninguém com o seu jogo colectivo de um rigor tremendo e com o seu técnico a tirar o que de melhor cada jogador tem para dar.

Estão, assim, reunidos todos os ingredientes para que os próximos jogos da Champions tragam a mesma emoção e a mesma qualidade que estes quartos-de-final proporcionaram ao mundo do futebol.

Artigo de André Costa