Mad Max: Estrada da Fúria

É verdade, estreou há um mês nas salas portuguesas e está prestes a desaparecer do grande ecrã, mas é impossível escapar a um dos filmes de acção da década. Um filme que prende do inicio ao fim com pouca história e muitas explosões, como um verdadeiro Mad Max deve ser! Mas o que destaca esta Estrada da Fúria e de que modo mantém o legado do guerreiro da Wasteland?

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Titulo Original: Mad Max: Fury Road

Ano: 2015

Realizador: George Miller

Produção: George Miller, Doug Mitchell, P. J. Voeten

Argumento: George Miller, Brendan McCarthy, Nick Lathouris

Actores: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult

Musica: Junkie XL

Género: Acção, Aventura, Sci-fi

Ficha técnica completa em:

http://www.imdb.com/title/tt1392190/

George Miller é um homem de extremos, de um mundo pós-apocalíptico de Mad Max até aos famoso filmes com porcos ou pinguins para a criançada ver – falo de Babe: Um Porquinho na Cidade (1998) e Happy Feat (2006-2011) – o realizador e produtor já passou pelos mais variados géneros. Decidiu regressar nos seus setenta anos à saga que marcou o cinema há mais de trinta, e em boa hora o fez, porque o cinema de acção precisava urgentemente de uma direcção experiente e de um estandarte a seguir.

Mad Max é uma saga como nenhuma outra, a sua primeira fita em 1979 introduziu uma narrativa sem grande contextualização, onde faltava uma grande dose de informação num mundo em construção na sua ambiguidade e com um orçamento certamente apertado. Felizmente o sucesso seguiu-a e já com o pé nos anos 80 surge Mad Max: O Guerreiro da Estrada (1981). Finalmente somos informados sobre todo o background da narrativa, a própria historia faz o esforço para atingir uma coesão com ela própria e com o universo que apresenta. Mad Max: Além da Cúpula do Trovão (1985) mergulha ainda mais no tribalismo, na desumanização e no exótico. A verdade é que os filmes têm evoluído de qualidade em cada nova fita embora por vezes os críticos não sejam tão consensuais assim. O que é certo é que trinta anos depois surge uma sequela, que dispensa qualquer tipo de formulação cronológica que permitisse o regresso de Mel Gibson oferecendo algo de novo com a personagem lendária que se presume a mesma, embora existam teorias estranhas de que este é outro Max tendo em conta pistas deixadas durante o filme.

Retirando o peso das teorias da conspiração o novo Mad Max segue as pegadas dos anteriores, o protagonista vê-se envolto numa nova aventura sem qualquer ligação com as anteriores e que introduz um novo local e uma nova história que se debruça sobre os mesmos temas: a dependência de petróleo, a desumanização que advém da dependência de combustíveis fosseis e a desvalorização da água em relação ao ouro negro. Temas recorrentes na saga e que moldam o mundo pós-apocalíptico, marcado também pela regressão dos ideias de igualdade e democracia em prol de autoritarismos dos poderosos que controlam os recursos. Os avanços tecnológicos enriquecem o universo que a cada fita se afasta cada vez mais  do mundo que conhecemos e se transforma numa decadência civilizacional baseada num tribalismo industrial.

A historia não é rica nem original, não é a primeira vez que Max foge dentro de uma camião de combustível ajudando alguém a alcançar um novo começo e uma nova vida enquanto é perseguido por dezenas de inimigos em carros personalizados e únicos. É a “mercadoria” que é outra, é a mensagem e as personagem que são outras, e é também as consequências dessa viagem e a forma como a história evolui que diferencia este filme dos outros. E mais do que tudo, a acção e a criatividade das batalhas tornam este o melhor filme de acção da década e também o melhor filme de Mad Max de sempre! Parte também do certo grau de realidade que o realizador decidiu atribuir à película com carros verdadeiros e duplos treinados com uso de efeitos especiais apenas no que foi humanamente impossível, em 20% do total de efeitos do filme. E isso enriquece o filme e torna-o mais real do que muitos filmes das ultimas décadas. A surrealidade das cenas de acção e das perseguições, das personagens que nada dizem mas que enriquecem o universo por exemplo pelos seus adereços originais – aquela guitarra lança-chamas!

Embora com muita acção poucos filmes vivem sem actores. Tom Hardy interpreta um Max excelente mas de poucas palavras em comparação com Mel Gibson. Charlize Theron, a Imperator Furiosa, mostra mais uma vez a sua capacidade para representar com mais um papel diferente do habitual que dispensa o charme natural da actriz em prol de uma personagem bem estruturada na narrativa, forte e determinada. Para grande ironia Tom Hardy enfrenta um vilão, Immortan Joe, que se parece com uma versão tribal do seu Bane de O Cavaleiro das trevas Renasce (2012). O actor que interpreta este vilão, Hugh Keavs-Byrne participou no primeiro filme de Mad Max interpretando uma personagem muito diferente, sendo quase irreconhecível por detrás da mascara e da maquilhagem. O papel de Nicholas Hoult, Nux, dá-nos uma falsa ideia de que existe para justificar romance, porque, e usando a ironia: o que seria de Hollywood sem um romance num filme de acção? No entanto, não poderia haver maior engano com o avançar da narrativa.

A musica é atribuída a Junkie LX que dá um toque industrial num filme que põe um pouco de parte a parte musical com as inúmeras explosões e com algo sempre a acontecer. Algumas peças destacam-se, especialmente os apontamentos de guitarra eléctrica que por momentos quebram a barreira e sintonizam filme e banda sonora.

Mad Max é um filme obrigatório, compromete-se a duas coisas essenciais, manter o legado de uma das sagas mais coerentes do cinema em qualidade e a entreter como poucos filmes de acção têm feito nos últimos anos. Um exemplo a seguir e replicar com uma suposta sequela a caminho que certamente vamos acolher de braços abertos. Pois foi necessário um veterano da realização regressar para nos mostrar como de facto se fazem filmes deste calibre…

7.58,5

Volto para o próximo mês com mais cinema…