Made In 1985

“A minha Cate pequenina!!”

Pois é, eu tinha 18 anos quando entrei na Sacoor Brothers e os fatos ficavam-me bem para caraças. Cara de menina, vestuário de mulher, maquilhagem a preceito e eu lá vendia milhões, nos tempos áureos em que as lojas em Portugal atingiam objectivos com uma mão atrás das costas, e os pagavam aos funcionários sem torcer o nariz.

Quando a Massimo Dutti me ofereceu mais e melhor, saí sem hesitar. A loja na Galeria Península era um ícone da marca e servia apenas clientes masculinos, meios chatos e snobs, meios endinheirados, alguns meio que obcecados com funcionárias que marcam bainhas nas calças, não fosse a posição de joelhos em que elas se mantinham… Houve também um louco “serial-killer” (era o que eu lhe chamava) que me seguiu durante uns meses e me aterrorizou, mas depois de lhe dizerem que me tinha mudado para Lisboa (mentira!) ele desapareceu.

Nas lojas, todos os dias se serve arroz com arroz.

Depois disto, veio a Tentazioni onde vendia jóias e a discoteca Vogue durante 3 anos, onde fui caixeira e assisti às mais tristes e corruptas cenas da minha vida.

Voltei à Massimo Dutti, Norteshopping e posteriormente a convite da empresa, fazer a abertura da loja do Marshopping. No meio de tudo isto já tinha passado pela Woman´s Secret, Gant Home, Promotora Ibici, Vodafone, …bem, ficaríamos aqui horas…

Passados 8 anos de maquilhagem e corrector de olheiras, de arroz com arroz e poucas perspectivas futuras, desisti. “Acabou”.

Impulsiva como seria de esperar, deixo as lojas do dia para a noite e faço um curso de Secretariado, finalizo o 12º ano. Fico logo colocada, trabalho 1 ano como administrativa numa empresa de engenharia ( Pinto & Cruz) e mais 2 anos como Assistente Financeira (AIC Banco de Imagens). Entretanto faço a licenciatura em Serviço Social e um estágio de 7 meses na freguesia mais pobre do Porto (Campanhã, 14 bairros sociais.)

Desempregada há 2 anos, sou chamada novamente para ingressar no mundo dos trapos por 4 meses (é Natal e de repente as lojas precisam de nós…)

“Já passaram 4 meses?! Ups. Fim do Contrato.

Esta crónica deveria ser um texto exausto, cansado de tantas voltas que deu, de tanta gente que conheceu, de tantas mudanças que sofreu. Esqueçam.

Chegar aos 30 anos com toda esta bagagem e conhecimento é mais do que bom. Perceber que passei por tudo isto e hoje me mantenho sã é uma vitória que sinto com orgulho. Ter 30 anos, 13 de descontos na Segurança Social, um namorado que adoro, um cão que me abraça e amigos como os meus…bem, não há preço.

Nada de casórios, de me perguntarem para quando engravido, de me dizerem que “está na hora” disto ou daquilo…o futuro é imenso minha gente. Há 5 minutos atrás pesquisava missões voluntárias pelo Mundo, depois disso deu-me a fome e depois percebi que ainda não liguei à Rita (que já me ligou 3 vezes). Portanto, a ideia é deixar fluir…com um plano pela frente claro, mas que seja um plano preparado para mudar de forma no dia em que eu estiver infeliz. Cheio de surpresas e contornos moles, cheio de gente boa e notícias felizes, cães adoptados e gelados de noz, miúdos a rir e adultos a brincar. Melhor do que isto, seria escrever exactamente o mesmo quando fizer 60 anos.

E quanto à tua Cate pequenina Miguel Fonseca, continuo aqui, com todo o meu síndrome de Peter Pan.1175704_815901581786055_1297292627594386228_n