Manning up America – Viriato Queiroga

Manning Up.

Um estrangeirismo tão indicado quanto indelicado no imaginário inglês, designa a chamada de atenção de alguém a um dos seus pares, genericamente um homem, para que este, em bom (péssimo?) português, “cresça e apareça”. Uma particularidade linguística capaz de aplicabilidade 100 aos sete mil milhões societários que são as cegas normas e tradições.

É num contexto societário que surge a existência de um estado. Intencionalismo? Nada mais que assegurar a real interação entre seres humanos, coexistência, por académicas palavras. Livres! É esta a palavra de ordem do revolucionário Francês, Americano, e de muitas outras nacionalidades, proclamando a liberdade como um dado adquirido, a revolução da humanidade sobre a teo, a ego e a eco centria. A maravilha instala-se no sangue de um qualquer ser, como oxigénio processado por qualquer alvéolo pulmonar, permitindo a oxigenação celular e, em última análise, a sobrevivência de todo o organismo. Pelo menos… Durante um tempo limitado.

Oh! O choque da perceção de quando todo um raciocínio é posto em causa pela dura realidade, parede de tijolos caída em cima do leitor (e do autor, claro está), como resultado de um terramoto mal registado por um sismograma…

Não tenha dúvidas, Bradley Manning, o irmão mais novo de Edward Snowden, no que à revelação de documentação ultra secreta norte-americana diz respeito, foi condenado pelo seu crime: a traição do seu país, 35 anos de cadeia, ao ter revelado crimes de guerra cometidos pelos EUA durante as invasões do Iraque e do Afeganistão. Tais revelações colocaram em causa Manning. Sem dúvida que este sabia que estaria em risco. Sem dúvida que ele sabia que o estado dos EUA iria ficar um tanto… Chateado, com estas revelações, e o seu impacto na política (e economia) internacional. E no entanto… O nome, Manning, foi arrastado em hasta pública, como o de Snowden é, com o objetivo de culpabilizar homens que decidiram revelar injustiças e ilegalidades dos estados contra os seus cidadãos e os estrangeiros.

Os EUA parecem esquecer duas pequenas regras (curiosamente inscritas e destacadas no seu sistema legal):

  1. A sacralidade da vida humana – e portanto a impossibilidade de subversão da mesma aos interesses de um estado ou de um princípio e/ou objeto;
  2. A possibilidade de um qualquer cidadão proceder à desobediência civil – sim, caro leitor. Em todos os sistemas de direito (democrático, supõe-se), um cidadão tem o direito a desobedecer a uma lei, desde que justificada e provada como prejudicial.

Pois bem: a não revelação da realidade da suposta “guerra moral” travada pelos EUA com o mundo Árabe teria graves consequências, nomeadamente a legitimação de mais crimes de guerra e o perdão dos que haviam sido comprovados.

Assim sendo, terá Manning agido erradamente?

A resposta não é complicada, mas mais interessante, é a opinião dos EUA. Não tenha dúvidas, caro leitor. Bradley Manning faz, nesta história, o papel que Crixus fez, na épica história de Spartacus: Snowden verá a cabeça de Manning numa bandeja, antes de os EUA atentarem contra si.

Provando, sem dúvida (e de maneira alguma a minha ironia com esta frase) que o Estado Americano, e a sua democracia (que faz uso magistral de “execuções públicas” fazendo os ossos dos romanos verdes de inveja), cresceram bastante nos últimos anos. Yes, dear readers, they have “Manned up America” (sim, caros leitores, eles fizeram a América crescer).

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