Manual de sobrevivência à Rui Vitória

Rui Vitória fez algo nos últimos dois anos que é raro se ver no futebol, num mundo onde muitos vivem e morrem pelas suas ideias, o treinador do Benfica sobrevive com aquilo que dá mais jeito a cada altura. Isto não é uma crítica, antes pelo contrário, é um elogio à sua capacidade de adaptação, e até se compreende pelo plantel herdado dos tempos de JJ.

Senão vejamos, se o melhor jogador da equipa é o chamado vagabundo, um jogador que faz da inteligência com que aparece nos espaços entrelinhas a sua grande arma, como colocá-lo sozinho na frente dando-o à marcação dos defesas contrários? Impossível. Pelo menos, impossível para um Rui Vitória que chegava ao Benfica ainda muito verdinho, daí, manter as ideias que vinham detrás foi uma atitude inteligente, aliás, talvez a única atitude a tomar.

E com as ideias alheias ele venceu. Colocando Jonas o mais confortável possível, abdicando do seu 4-2-3-1, e levando com as críticas dos adoradores de Jesus sem medos, porque a vitória é a única coisa que interessa no futebol, tirando para o já citado Jorge e seu séquito de jornaleiros a “comenteiros”.

Mas eis-nos chegados a esta época, com Pizzi “morto”, com uma concorrência mais forte do lado portista e sportinguista, com menos alguns jogadores de classe mundial, o 4-4-2 não estava a responder, a dinâmica das ideias alheias perdeu-se. E como bom sobrevivente, Rui Vitória recuou e atirou-se para o seu sistema preferido, o 4-3-3.

Os resultados são uma equipa bem mais consistente, claro que se perde um bocado de Jonas pelo meio, mas se existe mérito na gestão de Rui Vitória é a forma como ele convence os seus jogadores a serem aquilo que a equipa precisa, e não aquilo que os seus agentes precisam.

No meio desta mudança um jogador apareceu, Krovinovic. Um jogador a reter, que faz da inteligência, do passe, da forma como aparece nos espaços vazios as suas grandes armas, mais um lançado por Rui Vitória, por muito que ninguém lhe reconheça esse mérito, Renato Sanches, Nelson Semedo, Krovinovic, Ederson, e mais alguns estão aí para lhe dar o mérito que ele merece.

Dito isto, claro que um treinador fiel às suas ideias em qualquer momento é uma ideia mais romântica de futebol, mas um treinador que sobrevive em qualquer situação também é de valorizar. Rui Vitória é um sobrevivente que ganha, e esse é o maior elogio que lhe podemos tecer.