Quando marcar cá dentro tem pouco valor lá fora.

As razões que levam os tubarões europeus a não caçarem os ponta-de-lanças da Primeira Liga Portuguesa.

O que têm em comum Jackson Martínez, Jonas, Lima, Óscar Cardozo, Falcao, Lisandro López, Benni McCarthy, Jardel ou Liédson? Todos actuam ou actuaram em Portugal, todos partilham o faro pelo golo e nenhum saiu de um dos Três Grandes para um colosso europeu como Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Manchester United ou Chelsea. As razões? Já vai descobrir.

A época que terminou há poucas semanas, e que teve como campeão o Benfica, foi uma época que para além de uma proximidade pontual entre os dois primeiros classificados, o Benfica e o Porto (separados por apenas três pontos), ficou marcada por uma luta equilibrada pela Bota de Prata, prémio que consagra o melhor marcador do futebol português. Jackson Martínez, avançado do Futebol Clube do Porto com 21 remates certeiros, acabou por levar a melhor sobre os dois avançados do Benfica, Jonas e Lima, que marcaram 20 e 19 golos, respectivamente. Com este prémio, o colombiano repetiu o feito das duas passadas edições, onde também foi o maior goleador da competição. Feitos que levam a imprensa a especular sobre uma eventual transferência para uma equipa de uma liga mais competitiva a nível europeu. O que é certo é que até agora ninguém se chegou à frente para a sua contratação, muito menos um clube de topo. Algo que não é inédito em Portugal, como prova a minha análise. Vejamos adiante.

Jonas, depois de ter desiludido no Valência foi contratado pelo Benfica a custo zero e voltou a mostrar todo o talento que possuí e já tinha exibido quando ainda estava no Brasil ao serviço do Grémio. A contratação “surpresa” de Jorge Jesus fez 31 golos em 35 jogos a contar para todas as competições e tornou-se no melhor jogador da Liga em 2014/15. Aos 31 anos agarrou a oportunidade num grande clube, arrancou grandes exibições e tornou-se num dos obreiros do título encarnado, algo que não tinha conseguido numa equipa de 2ª linha europeia como os “Che”.

Ao lado de Jonas jogou Lima. O avançado brasileiro voltou a fazer mais uma época de bom nível, mesmo tendo de dividir protagonismo no ataque do Benfica e conseguiu apontar 19 golos em todas as competições. Já nas épocas de 2012/2013 e de 2011/2012 tinha apontado 20 golos na Liga quando ainda estava ao serviço do Sporting de Braga, números que terão influenciado a contratação por parte do Benfica. Sair para o estrangeiro não se coloca para já.

O paraguaio Óscar Cardozo esteve sete épocas na Luz (2007-2014), foi o melhor marcador da Liga em 2011/12 (com 20 golos) e em 2009/2010 (com 26 golos). Teve sempre boas médias anuais e tornou-se num dos melhores marcadores da história do Benfica. O seu estilo aparentemente pouco competitivo e a sua pouca mobilidade não agradava a todos, mas o que é certo é que o homem tinha um remate de pé esquerdo fortíssimo e se fartava de marcar. Aos 31 anos acabou por sair para a Turquia e assinar pelo Trabzonspor, uma equipa com muito menos ambições e valia que o Benfica no panorama internacional.

Um dos pontas-de-lanças mais entusiasmantes que passou em Portugal nos últimos anos foi Radamel Falcao. O colombiano que se vestiu de azul e branco entre 2009 e 2011 nunca chegou a ser o melhor marcador a nível interno, no entanto, apresentou bons números e deixou saudades. A nível europeu foi decisivo na conquista da Liga Europa em 2010/11 e estabeleceu um novo recorde de golos na competição, num total de 19 tentos. Tido como um dos melhores ponta-de-lanças da Europa, acabaria por rumar ao Atélico de Madrid e repetir a conquista da Liga Europa e ainda, a Supertaça Europeia numa tremenda exibição contra o Chelsea onde apontou um hat-trick. Em 2013 mudou-se para o recém regressado à primeira divisão francesa, o Mónaco, a troco de 60 milhões de euros e de um ordenado bem mais elevado do que aquele que auferia em Madrid. Uma lesão acabou por afectar o seu rendimento naquilo que foi uma época decepcionante a nível individual. Na época que agora terminou, chegou finalmente a um clube de topo, o Manchester United, por empréstimo do Mónaco e com opção de compra do clube inglês. Quatro golos em vinte e nove partidas ilustram bem mais uma época para esquecer por parte do colombiano que já se sabe, não irá continuar a jogar em Old Trafford. No primeiro teste a sério falhou.

Também ao serviço do FC Porto, Lisandro López foi o melhor marcador da Liga em 2007/08 com 24 golos. Na altura da saída, muito se falou do interesse de grandes equipas em adquirir o avançado argentino. Acabaria por sair para o campeão francês, o Olympique Lyonnais. Em França não desiludiu e logo na primeira época foi o melhor marcador. No entanto, a nível desportivo não deu o salto e mudou-se para uma equipa com muito menos historial que a equipa da Cidade Invicta. Uns anos antes, o sul-africano Benni McCarthy a principal figura do ataque dos dragões, também protagonizou uma transferência para uma das principais ligas da Europa, a inglesa. O “problema” é que o máximo que alcançou foi um Blackburn Rovers e um West Ham United, longe de serem grandes clubes.

Voltando agora a Lisboa, dois dos jogadores que mais saudades deixam nos adeptos leoninos são de certeza, Jardel e Liédson. Dois goleadores brasileiros que muitas alegrias deram ao Sporting e que conseguiram ser melhores marcadores da Primeira Liga. Jardel está intrinsecamente ligado ao último campeonato ganho pelo Sporting onde apontou, espante-se, 42 golos em 30 jogos! Já Liédson fez sete épocas de leão ao peito (2003-2011) e em 313 partidas marcou uns fantásticos 183 golos. Quando se pensava que “Super Mário” poderia continuar brilhar em Alvalade, abandona o Sporting e “enterra” a sua carreira por completo. Teve breves passagens pelo Ancona, Palmeiras, Bolton,  Newell’s Old Boys, Alavés,  Goiás, Beira-Mar, Anorthosis,  United Jets, Criciúma e outras tantas equipas que nem de perto, nem de longe, se podem comparar ao clube leonino. Já o “Levezinho”, regressou em 2011 ao clube de onde tinha vindo, o Corinthians, saindo assim do principal palco do futebol, a Europa, para passar dois anos no Brasil, sendo que o segundo foi ao serviço do Flamengo. Em 2013 regressou a Portugal, a título de empréstimo e para o rival do Sporting, o FC Porto. Nunca apresentou o nível mostrado em Alvalade e embora tenha conquistado um título, dificilmente ficará na memória dos adeptos do Porto. Já os adeptos do Sporting certamente não esquecerão a “traição”.

Os anteriores parágrafos provam que a maioria dos últimos grandes goleadores que actuam/actuavam no campeonato português não consegue dar o salto para os maiores clubes europeus. A minha teoria é que os grandes clubes da Europa olham com grande desconfiança para a Liga Portuguesa, olham para ela como uma Liga “menor” da Europa e pouco competitiva. Podemos até discordar e alegar que a Liga é competitiva, que costuma haver “luta” pelo título, pelo acesso às competições europeias e até pela manutenção, mas a verdade é que a comparar com outras ligas, a nossa continua a ser bem menos disputada. Outro factor é o número de golos. A maioria dos avançados em Portugal pouco passa da barreira dos 20 tentos por época, algo que não impressiona clubes com altas ambições. Estes preferem muito mais gastar o seu dinheiro em jogadores que tenham mostrado potencial (mesmo marcando menos golos) e que sejam de equipas da mesma liga, ou de ligas de valor semelhante à sua. Se mostrarem argumentos positivos em competições internacionais, melhor.

O histórico de jogadores que já saíram, não abona a favor dos avançados que foram bem sucedidos em Portugal. Quando saem é para equipas de menor valor (quando comparadas com Sporting, Benfica e Porto) e nem sempre se conseguem impor no estrangeiro. O máximo que, jogadores como Jackson Martínez, podem ambicionar é jogar em equipas que possam ganhar a Liga Europa e nunca uma Liga dos Campeões. A verdade, por muito que doa tanto a sportinguistas, como a benfiquistas ou portistas, é que os “nossos” melhores jogadores só têm lugar em equipas secundárias das principais ligas europeias. É claro que há excepções, como Dí Maria, Pepe, Deco, ou os portugueses Cristiano Ronaldo, Figo e Rui Costa. Mas neste texto fala-se de bons jogadores que cumprem com os objectivos internos, não de jogadores fora-de-série. E também se fala da posição de ponta-de-lança. Jogador de uma posição muito específica e que teima em não vingar de caras lá fora, quando colocado em equipas cujas aspirações sejam muito altas. Primeiro, são jogadores que dificilmente são contratados e segundo, são jogadores que costumam fracassar.

Garanto-vos aqui, que se um jogador tiver mesmo qualidade para jogar num Real Madrid ou num Bayern de Munique, não é uma cláusula de 25 ou 30 milhões de euros que vai impedir algum tubarão de “caçar” em Portugal. Maior impeditivo é sim, a sua real qualidade.