Matematicamente Sonhando

Ano após ano, há um objecto que não falta na mesa dos portugueses. A calculadora. Enquanto para uns é um útil instrumento de ajuda nas contas e no IRS, para outros, e no que ao futebol diz respeito, serve para sonhar. Somas, subtrações, divisões, multiplicações, todas as operações são usadas nos sonhos que cada equipa alenta.

É costume dizer-se que o exemplo vem de cima, pois bem, assim se passa em Portugal. A nossa seleção tem como apanágio andar sempre bem agarradinha à calculadora até ao final, tudo isto porque em Portugal não se gosta de facilitar, prefere-se dificultar o fácil e, por exemplo, empatar 4-4 com o Chipre em casa. Seja como for as coisas até acabam por correr bem, sendo o final digno de um filme de Hitchcock e com algumas inquietações para cardíacos lá pelo meio.

No que toca ao campeonato, esta é a altura das grandes decisões, é o agora ou nunca para muitas das equipas. Na questão do título, a coisa parece estar mais ou menos encaminhada, o Benfica está com sete pontos de avanço sobre o Sporting e faltam apenas cinco jornadas. Só uma hecatombe faria com que o título fugisse aos encarnados. A história parecia ser diferente na corrida ao 2º lugar. Sporting e Porto estavam separados por cinco pontos à entrada para esta jornada e mantinham em aberto as hipóteses de serem vice-campeões nacionais e, assim, garantirem o acesso directo à Liga dos Campeões, bem como mais uns milhões em caixa. Porém, os dragões escorregaram e encontram-se agora a oito pontos do leões. As coisas parecem bem mais negras e complicadas para uma equipa que parecia estar com uma ambição renovada sobre a liderança de Luís Castro. No entanto, será até ao fim.

Se o título parece encaminhado, o mesmo não se pode dizer da luta pela Europa. O Estoril, apesar da derrota deste Domingo na Amoreira com o Rio Ave, parece ter a sua posição europeia mais ou menos consolidada, estando a 9 pontos do 6º lugar, agora ocupado pela Académica. No entanto, o cenário torna-se muito confuso no acesso ao 5º lugar. O lugar neste momento ocupado pelo Nacional, é cobiçado e almejado por mais seis clubes, uma vez que, a distância do 5º ao 11º lugar é “apenas” de oito pontos. Os clubes farão, com toda a certeza, contas até ao fim do campeonato, uma vez que, equipas como o Braga, o Guimarães e o próprio Marítimo, construíram equipas a pensar na Europa, e a sua não ida seria um desastre imenso. Há 15 pontos em disputa, a ver vamos.

Por último o mais… Angustiante, diria. Se por um lado temos o Gil Vicente tranquilo, o certo é que não está livre destas contas da descida, vão ter jogos complicados e a praticar o futebol que têm praticado, nunca se sabe. Mais a baixo, mas com uma equipa super confiante, está o Arouca. A vitória sobre o Vitória de Setúbal, leva-os a olhar para cima e a respirar muito mais tranquilamente, não esquecendo que ainda têm de receber o Benfica e de jogar no Restelo, no último jogo da época. O que foi em tempos uma corrida a três, com Paços, Belenenses e Olhanense, parece, neste momento, uma corrida a dois, corrida essa que o Paços parece ter deixado quando Jorge Costa assumiu o comando. Na cauda do pelotão estão Belenenses e Olhanense. A esperança não é muita, mas enquanto a matemática permitir, tanto o Belenenses como o Olhanense terão os olhos postos no 14º lugar, ou, se tudo falhar, no 15º que, graças ao Boavista, poderá dar lugar ao playoff, que será disputado com o 3º classificado da Liga Cabovisão. Uma coisa é certa, nenhum dos clubes deitará a toalha ao chão antes de Maio. Muito suor vai correr antes das lágrimas se tornarem pano de fundo.

E assim está o futebol português. Uma salganhada de contas em que o número mais importante é o coração. A frase, “enquanto há vida, há esperança”, é agora substituída por “enquanto a matemática o permitir, sonharemos”. Um sonho comandado pelos números que só acabará quando for, “matematicamente impossível”.

Crónica de António Barradas
A Bola Nem Sempre é Redonda