Mau tempo no canal

 “ Por culpa do deslocamento para sudoeste do anticiclone subtropical que, ao largo dos Açores, costuma condicionar o estado do tempo naquele arquipélago, bloqueando a passagem dos temporais para o território do continente, choveu hoje tanto, na capital portuguesa, que ficando entupidas algumas das suas principais artérias, a própria cidade é que correu o sério risco de sucumbir ao ataque de pânico que sentiram quase todos os seus moradores das zonas mais afetadas.

Contrariando o pessimismo do responsável de edilidade, para quem há tão pouco que se possa fazer para contrariar esta tendência de subida das águas, como para controlar o nível de subida e descida das marés, que estando em alta impede o rápido escoamento da água para o mar, os lisboetas ainda têm esperança de que o executivo da Câmara providencie obras no sentido de minorar os atuais problemas.

Era nisto ou na elaboração de um plano de ajuda aos munícipes que, no dizer de algumas pessoas que ouvimos, supostamente deveria estar a pensar mais recentemente o senhor presidente da Câmara, num daqueles raros momentos em que não aparece ao serviço de um canal televisivo como comentador político ou num telejornal em campanha eleitoral para o congresso nacional que vai haver no interior do seu Partido.

Ouvidos os proprietários de alguns estabelecimentos, cujas portas fechadas à pressa, ao primeiro sinal de anomalia, não sustiveram o ímpeto das águas, estes queixavam-se de toda a espécie de detritos de pequena dimensão acumulados nas sarjetas que, por não serem removidos na estação seca vêm a causar os maiores dissabores nos primeiros dias em que começa a chover.

Quer-nos parecer, enquanto repórteres no local, que pelo volume e pelo peso das pedras arrastadas, a corrente da água terá sido forte e, até aqui ao lugar onde me encontro, ela deve ter-se prolongado por centenas de metros pois não vejo, em redor, árvores de onde pudessem ter caído os pesados ramos que se lhes vieram juntar, aumentando o lixo que há para limpar.

Ao mesmo tempo que os meteorologistas dizem que nos próximos dias há condições para que se repitam os curtos períodos de chuva intensa, os comerciantes falam em avultados prejuízos materiais, que não podem repercutir nas vendas, quase todos da ordem dos milhares de euros, que só não deverão repetir-se em breve porque, para limpezas, avaliação dos estragos e reposição dos stocks, algumas dessas lojas estarão de portas fechadas ao público.

Fala-se que futuramente a pessoa que vier a presidir aos destinos da edilidade, será o próximo candidato que garanta vir a resolver o problema das inundações em Lisboa, e uma vez eleito não se deixe dissuadir desse propósito pela luta interna ou questões do foro partidário que venham distraí-lo dos compromissos que assumiu perante o seu eleitorado.

E assim damos por finda esta reportagem a partir de um local atingido pelas cheias que fazem, por estes dias, de Lisboa uma cidade falada pelos mesmos motivos no espaço de duas semanas, e dos seus habitantes aqueles que há mais tempo gostariam de ver as suas queixas atendidas, só para não terem que repeti-las sempre que chove com um pouco mais de intensidade.

No nosso canal, estas foram as notícias do mau tempo, as outras seguem dentro de momentos. Devolvo a emissão ao estúdio. Obrigado. “