Medicina do séc. XXI. Onde andas?

O mês de Fevereiro vai ser repleto de chuva, frio e vento. As temperaturas podem baixar até 10 graus.

E isto tem sido o mote de muitas notícias dos últimos dias. Frio? Mais frio!? Alguém se esqueceu de me avisar que me teletransportei para o Pólo Norte enquanto dormia?! Diariamente ando com três camisolas, quatro casacos, collants, calças, cachecóis, dois ou três pares de peúgas e, ainda assim, consigo a proeza, inconscientemente, bater o maxilar inferior no superior! No meio de tanto agasalho aconteceu o impensável: reparei que tenho dois dedos mutantes! Não sei como; se olhar para baixo vejo roupa, para a esquerda mais roupa, para a direita há, ainda, mais do mesmo. Parece humanamente impossível reparar-se em algo mais.

Uma destas manhãs tentei, em vão, cerrar a mão e esfregar os olhos. Não consegui! Havia ali um impedimento esquisito no mindinho e no anelar da mão direita. Por entre os  lençóis polares, os edredons, os cobertores e os pijamas (sim, os pijamas!) descobri que esses dois pequenos membros estavam anormalmente gordos, deformados e vermelhos. Numa tentativa inútil, e um pouco ilógica, de que passasse abri e fechei a mão centenas de vezes e nada… ali continuavam as impeditivas dobras, aquele incómodo inchaço como pneuzinhos dignos do boneco da Michelin!

Fui ter com a minha mãe; as mães sabem sempre tudo, têm sempre o diagnóstico certo, com o medicamento perfeito e a cura irrefutável! Cuidam da nossa saúde como mais ninguém! “Ah isso são frieiras! É bem feito, andas sem luvas!” Espera aí… Onde está o amor maternal?! Eu não consigo dobrar os dedos e ela diz-me que é bem feito!? Claro que não uso luvas! Eu tenho uma costela espanhola, eu vejo com o tacto, tenho de mexer em tudo; aliás toda a minha caixa torácica é parente de los hermanos! Ingenuamente perguntei o que podia fazer para terminar com o inferno que me despojara os dedinhos! “Só as águas de maio é que curam isso!” Bom … há água de rosas, água das pedras, água termal, água do Vimeiro, água d’el cano, água de tudo e mais alguma coisa… O que é água de maio? “É uma expressão, Inês Alexandra! Só em maio é que isso passa.” Chamou-me Inês Alexandra, significa duas coisas: que me odiava quando nasci para me dar esse belo nome e que o caso é sério!  Portanto é simples: são só mais três meses a coçar-me com o calor e a doer-me com o frio! Não, não vai acontecer.

Expus o caso à minha médica de família que, tal como a minha estimada mãe, também sabe tudo de todas as minhas patologias! “Só o pó de maio cura isso.” Outra vez maio?! Basicamente a minha médica eleita para cuidar de mim durante toda a minha existência dá-me exatamente a mesma solução que a minha mãe, mas um pouco mais… toxicodependente! Fantástico!

Parti. Fui pedir socorro à minha avó! Precisava de salvação! Ela anda na terra há muitos anos, passou por pragas, enfermos e calamidades; esperava mesmo que me dissesse como readquirir o habitual formato da minha mão! “Fazes xixi em cima das frieiras, deixas atuar e depois lavas a mão. Faz isso muitas vezes ao dia, vais ver que passa.” Hum? Como é que é? Deixo atuar? Mas deixo atuar o quê? Aqilo que ingeri ontem e que o meu corpo está a expulsar?! Então a única pessoa que me deu uma solução mandou-me urinar na minha própia mão e manter-me fechada na casa de banho enquanto, qualquer coisa, vai atuar em sabe Deus o quê.

Farmácia! Outra vez a história de as minhas mãos estarem sempre abaixo de zero, de estarem sempre com a cor de uma berigela e se não poder tocar em ninguém sem que essa pessoa grite de frio! “Devia comer alho. Ativa a circulação, ia fazer bem a isso.” Ok. Aceito. E entretanto vou tirar um curso de linguagem gestual e passo a socializar por gestos! Nesta maravilhosa solução, sempre que eu abrir a boca, vou precisar de uma redoma, um perímetro de segurança devido ao odor que vou libertar… pouco agradável, digamos!

Ahhhhhhhh, a pomadinha (tratamento socialmente aceite) não resultou, obviamente!