We do meet for a reason.

Odeio andar de autocarro. Suporto o Metro, é rápido, prático, limpo. Odeio andar de autocarro.

Hoje dei por mim feliz, num autocarro lotado que faz o percurso Foz – Marquês. Tinha à minha frente uma senhora vestida de azul-marinho, cabelo branco curto, olhos cor do céu e pele como que intocada. Linda.

Pensei em quantas vezes ela olhou para uma senhora vestida de azul-marinho, de cabelo branco curto, de olhos cor do céu, quando tinha a minha idade. Quantas histórias cabem dentro de nós quando temos 70 anos? Quantas maldades fizemos, que filhos tivemos, bons? Maus? Filhos amados, tratados, crescidos, malvados?

E o amor? Dura até hoje? A aliança no dedo permanecia, mas lembraria o quê, quem… a morte ou a eternidade de alguém? Uma vida conjunta ou apenas junta? Mãos dadas em passeios de barco e contos idealizados na mente que rapidamente se transformaram em verdade? E o amor, hum?

Parece um cliché dizer que toda a gente passa na nossa vida por uma razão, mas eu acredito. Olhei-a infinitamente nos 45 minutos de viagem, com óculos escuros que não a constrangessem, e pensei que por alguma razão maior do que eu, maior que universo, aquela senhora estava ali, desde a paragem na Foz, até ao Marquês, para me mostrar que a vida é feita pelas nossas mãos e que nos esquecemos que as histórias são escritas por nós. Eu quero “deixar marca”. E depois de muito pensar, cruzei-me com uma frase feita que define exactamente o que eu quero: “I want to inspire people. I want someone to look at me and say: because of you I didn´t give up”.

Porque em momentos decisivos, eu tive a sorte, a lotaria, de ter sempre quem o fizesse comigo. Eu tive pessoas, que fizeram de mim pessoa.