Mercúrio – Hot spot… – José Ligeiro

Mercúrio!

Não, não vos vou falar do elemento químico que é um dos seis elementos que se apresentam líquidos à temperatura ambiente ou a temperaturas próximas. Este é um metal líquido e inodoro conhecido desde os tempos da Grécia Antiga e também nomeado de hidrargírio, hidrargírio, azougue e prata-viva, entre outros. Tem como símbolo “Hg”, um ponto de ebulição de 356,7 °C e um número atómico 80 (80 protões e 80 eletrões). O símbolo “Hg” vem do grego “hydrargyrum” que significa prata líquida. Foi descoberto por um desconhecido por volta de 2000 a.C. Como podem ler, já é velhinho.

Comparado com outros metais, não é um bom condutor de calor, mas sim bom condutor de eletricidade. Estabelece facilmente uma ligação metálica com muitos outros metais como o ouro e/ou a prata, produzindo amálgamas. É solúvel em ácido nítrico e insolúvel na água e quando a temperatura é aumentada, transforma-se em vapores tóxicos e corrosivos mais densos que o ar. É extremamente perigoso quando inalado, ingerido ou entra em contacto com a pele, causando irritação na mesma, nos olhos e/ou nas vias respiratórias. É compatível com o ácido nítrico concentrado, acetileno, amoníaco, cloro e com outros ametais.

Devido à sua toxicidade, este deve ser manipulado com muito cuidado. Habitualmente vemo-lo nos medidores de temperatura corporal, nos chamados Termómetros de mercúrio ou barómetros, lâmpadas fluorescentes e/ou como catalisador em reações químicas variadas.

Também não vos irei falar da “Mercury”, uma marca de automóveis pertencentes à Ford Motor Company. Criada em 1939 e fechada em 2011, surgiu como alternativa intermediária entre a marca mais popular Ford e a refinada Lincoln. Apenas produziu meia dúzia de carros, mas em grandes quantidades, o que elevou o seu valor.

Não irão ler muito sobre o deus “Mercúrio” que na mitologia romana era o mensageiro dos deuses. Estava encarregado de levar as mensagens de Júpiter e com ele trazia uma bolsa, umas sandálias e um capacete com asas, uma varinha de condão e o caduceu. Era o deus da eloquência, do comércio, dos viajantes e ladrões, a personificação da inteligência. Este era associado ao deus grego “Hermes” protetor dos rebanhos, dos viajantes e comerciantes e é também o deus da venda e lucro.

Tendo nascido em Cilene, monte de Arcádia que é na península do Peloponeso, Grécia, o seu nome está relacionado à palavra latina merx (mercadoria). Por ser visto como muito rápido, foi nomeado de “mensageiro”. Sim, até parece que o estou a ver a cruzar os céus com asinhas no capacete e nos pés, lourinho e vestido apenas com um lençol de linho. Uma imagem comovente…

Na realidade, quero-vos apresentar o primeiro planeta do nosso sistema solar. Sim, esse MERCURIO.

É um dos quatro planetas telúricos do Sistema Solar e seu corpo é rochoso como o nosso. É o mais pequeno planeta do sistema solar com um raio equatorial de cerca de 2 440 km e embora mais massivo, é ainda mais pequeno que os dois maiores satélites naturais do sistema solar, as luas Ganimedes e Titã. É formado por cerca de 70% de material metálico e 30% de silicatos e os cientistas calculam que a crosta terá algo como 100 a 300 km de espessura, um manto com cerca de 500 a 700 km constituído de silicatos e um núcleo com uns bons 1.800 km de raio.

É o mais interno planeta do Sistema Solar, com uma lenta velocidade de rotação de 58 dias e 15.5 horas, orbitando o Sol a cada 87,969 dias terrestres. A sua órbita tem a maior excentricidade e o seu eixo apresenta a menor inclinação em relação ao plano da órbita de entre todos os planetas do Sistema Solar. Este planeta completa três rotações em torno de seu eixo a cada duas órbitas e tem uma distância do Sol que varia entre 46 a 70 milhões de Km.

A sua aparência é brilhante quando observado da Terra, dando-lhe uma magnitude aparente que varia entre −2,6 a 5,7 graus. Uma vez que Mercúrio se perde no intenso brilho solar, com exceção dos eclipses solares, apenas pode ser observado a olho nu durante o crepúsculo matutino (principio do dia) ou vespertino (principio da noite).

Mercúrio tem uma aparência similar à da Lua com crateras de impacto e planícies lisas, não possuindo satélites naturais nem uma atmosfera substancial. No entanto, possui uma grande quantidade de ferro no núcleo que gera um bom campo magnético e cuja intensidade é cerca de 1% da intensidade do campo magnético da Terra. É excecionalmente denso devido ao tamanho relativo do seu núcleo, tendo o maior de todos os planetas telúricos por comparação.

A temperatura há sua superfície vária entre os −173°C e 427°C devido à ausência de uma atmosfera e a um abrupto gradiente de temperatura entre o equador e os polos. O ponto subsolar alcança aproximadamente 427°C durante o periélio (ponto mais perto do Sol), passando aos 277°C durante o afélio (ponto mais longe do Sol). No lado escuro do planeta, a temperatura média é de cerca de -164°C.

Apesar das temperaturas serem no geral extremamente altas à superfície, as observações sugerem a presença de gelo no planeta. Os pisos das crateras mais fundas dos polos e nunca expostos diretamente à luz solar, faz com que a temperatura no local permaneça abaixo de 172°C, bem abaixo da temperatura média global. Acredita-se que estas regiões geladas possam ter aproximadamente uma tonelada de gelo, que pode estar coberta por uma camada de rególitos que inibe a sua sublimação. A origem específica deste gelo no planeta ainda não é conhecida, mas as duas fontes mais prováveis são a desgaseificação do interior do planeta ou a deposição pelo impacto de cometas.

As mais antigas observações registradas deste planeta estão inscritas nas tabelas Mul.Apin. Estas observações foram feitas por um astrónomo assírio por volta do século XIV a.C.. A escrita cuneiforme utilizada para designar o planeta na tabela é transcrita como UDU.IDIM.GU4.UD (“O planeta que pula”). Registros babilónicos de Mercúrio datam do primeiro milénio a.C., quando o planeta era chamado de Nabu, o mensageiro dos deuses na sua mitologia. Já na Grécia, os astrónomos gregos acreditavam que se tratava de dois objetos distintos: um visível no nascer do sol, ao qual chamavam Apollo, e outro visível ao pôr-do-sol, chamado de Hermes.

Diz-se que no início da história do Sistema Solar, o planeta pode ter sido atingido por um planetesimal com aproximadamente um sexto de sua massa e várias centenas de quilómetros. Este impacto pode ter removido uma grande parte da crosta e manto originais, deixando o núcleo como o componente majoritário. Nas fotos tiradas pelas várias sondas para este enviadas, uma das características da superfície mais notada é a presença de numerosos penhascos estreitos que se estendem por centenas de quilómetros. Pensa-se que estas estruturas se formaram quando o núcleo e manto esfriaram e contraíram, algures num momento em que a crosta já havia solidificado.

O planeta foi intensamente bombardeado por cometas e asteroides durante e seguido à sua formação, há cerca de 4,6 bilhões de anos e também durante um possível episódio subsequente denominado “Intenso bombardeio tardio”, que acabou há 3,8 bilhões de anos. Durante todo esse momento de intensa formação de crateras, o planeta recebeu impactos sobre toda a sua superfície e que foi facilitado pela ausência de uma atmosfera. Julga-se que durante esse período, o planeta tenha tido atividade vulcânica e bacias que foram preenchidas por magma do interior planetário, produzindo planícies suaves similares aos Mares lunares.

Mercúrio é muito pequeno e quente para que a sua gravidade retenha qualquer atmosfera significativa por um longo período de tempo. Possui uma ténue exosfera não estável de superfície em que os átomos são continuamente perdidos e repostos vindos de várias fontes e que contem hidrogénio, hélio, oxigénio, sódio, cálcio, potássio e outros.

Apesar do seu pequeno tamanho, tem um campo magnético significativo e aparentemente global. É possível que este seja gerado por meio de um efeito dínamo e de modo similar ao campo magnético terrestre. Este efeito seria o resultado da circulação de um núcleo líquido rico em ferro e o efeito de maré provocado pela alta excentricidade orbital do planeta serviria para manter o núcleo no estado líquido necessário para a existência deste mesmo efeito.

Este campo magnético é suficiente forte para deflectir o vento solar em torno do planeta, criando uma magnetosfera que captura o plasma do vento solar, contribuindo assim para a erosão espacial na superfície do planeta.

Por fim, a palavra “Mercúrio” influenciou o nome de uma série de elementos em vários campos da ciência, tais como o planeta Mercúrio e o elemento mercúrio. A palavra mercurial é geralmente usada para se referir a algo ou alguém errático, volátil ou instável, derivado da rapidez dos voos do planeta Mercúrio de um lugar a outro. O termo provem da astrologia e descreve o comportamento esperado por alguém sob a influência do planeta Mercúrio. O próprio planeta provavelmente recebeu este nome porque se move rapidamente no céu.

As primeiras naves a explorar bem o planeta foram a Mariner10, que mapeou aproximadamente 45% da superfície do planeta entre 1974 e 1975, e a MESSENGER, que mapeou outros 30% durante 2008 até 2011.

Freddy Mercury não é nenhum elemento químico, mas era um bom cantor, líder dos Queen…

Caros leitores, deixem que vos diga que é tudo natural e sem espinhas.

JoséLigeiroLogoCrónica de José Ligeiro
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