Meter os Cornos – Amílcar Monteiro

Estou um pouco triste. Estou assim porque a minha namorada me meteu os cornos. Mas o que me magoa e desilude não é a questão da infidelidade. Isso a mim não me incomoda, muito pela forma como fui educado: os meus mais sempre me ensinaram a partilhar os meus brinquedos com os outros meninos.

O que me deixou desiludido foi o facto de não me terem nascido mesmo cornos. Eu sempre pensei que quando nos metiam os cornos, nos cresciam literalmente dois pontiagudos chifres no meio da testa. É que na minha ideia, já que fomos traídos, isso era o mínimo que podia acontecer para nos compensar: por um lado perdíamos um par de mamas, mas por outro ganhávamos um par de esbeltos e perigosos espigões ósseos.

Eu cá adoraria ter cornos. Primeiro porque ficava logo a parecer um daqueles animais selvagens, majestosos e imponentes. E isso dá logo aquele toque de bad boy. O que ia fazer com eu sacasse montes de gajas, porque as mulheres adoram bad boys. Aliás, se eu tivesse cornos, vestia-me só de vermelho para ficar parecido com o diabo. Porque não existe maior bad boy que o diabo, não é verdade? É um gajo de que toda a gente tem medo, que anda na rua com um tridente gigante e que vive mesmo no meio de um incêndio.

Ou então, caso não funcionasse com as gajas, tenho a firme convicção que conseguiria copular com vacas. Não que eu nunca tenha fornicado uma vaca, nada disso. A questão é que as vacas são bichos espertos e topam sempre que eu não sou um boi porque não tenho chifres, o que faz com que estejam um bocado distantes durante o sexo. Mas se eu tivesse cornos, talvez conseguisse enganá-las e tornar a cópula mais carinhosa e intimista. E com sorte, podia mesmo conseguir que me fizessem o famoso “felácio ruminante”.

Outro aspecto agradável de ter cornos seria se tivesse que andar à porrada. Independentemente do tamanho ou força do adversário, eu partiria para qualquer luta em vantagem porque teria sempre duas armas brancas incorporadas na cabeça. E se por acaso o meu oponente tivesse também um par de robustos apêndices no crânio, isso apenas tornaria o combateainda mais interessante para quem está a assistir, pois iria assemelhar-se  a uma daquelas batalhas épicas que vemos no National Geographic. Penso que só poderia sofrer uma derrota se enfrentasse um conjunto de forcados de Santarém.

Mas enfim, para além de não me terem crescido cornos, agora também não tenho namorada. E tenho pena de já não estar com ela, porque a minha namorada era muito parecida com a Michelle Brito. Mas só quando fazíamos sexo anal.


Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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