Meu pai, Meu herói

Numa Quarta-feira, 10 de Julho de 1968 eu nasci, não sei a hora, dizem que foi de madrugada e para os meus pais, apesar da alegria, devem terem tido preocupação, pois não é fácil ter um filho como eu! Se fosse hoje, provavelmente nem teria nascido, seria feito um aborto e eu nem teria existido! Por isso digo que faço parte de uma raça em extinção, mas naquele tempo isso nem se punha e os meus pais apesar de tudo me aceitaram, me amaram, cresci e vos confesso que amo viver! Meus pais foram uns heróis, os meus heróis! Penso ou imagino, que nesse dia meu pai tenha bebido uma cerveja para festejar com uma lágrima nos olhos, uma de felicidade e outra de tristeza. Se a vida deles não era fácil, imagina agora com alguém como eu… um filho que provavelmente não ia sobreviver e se sobrevivesse aos olhos do mundo nunca seria ninguém, serias mais um ponto negativo na família,um gasto sem lucro. Meus pais venceram todas essas coisas, os medos, os olhares dos outros e até me puseram na escola, aprendi lá a ter mais liberdade. Lembro-me de um comentário da minha última professora, dizer para os meus pais que não valia a pena porem-me a estudar no segundo ciclo, eu não era inteligente. Apesar de isso, meus pais me perguntaram se queria ir estudar e eu, naquela altura só me queria ver-me livre da escola, disse basta! Na verdade acabei por aprender a minha forma de aprender e para isso, foi importante certas pessoas na minha vida. A ironia de tudo isto, é que a tal professora andou a procura de uma pessoa para lhe ensinar mexer num computador para comunicar com os filhos e eu, o tal não inteligente, ofereci-me para a ensinar. Ela não aceitou, acho que a vida acabou para lhe dar a resposta ao ser inteligente ou não. A ironia não acaba aqui, no ano 2010, no dia 10 de Julho fazia eu 42 anos e o meu pai faleceu, foi a minha vez de deixar cair umas lágrimas. Pensei que 42 anos antes ele tinha chorado por eu ter nascido, agora 42 anos depois chorava eu por o ter perdido…

No dia em que escrevo este texto é o dia do pai e não podia deixar de fazer-lhe esta homenagem com orgulho, pois talvez o tivesse perdido num segundo, mas dou-me 42 anos de amor, não tenho motivo para ficar triste e sim, cheio de amor. Deixou-me viver, lutou para eu crescer e nada me faltasse, além de não poder andar… eu amo viver pai! A tua luta não foi em vão, o teu amor não caiu por terra, apanhei-o todo e hoje faço como tu, deixo viver e amo a todos, sem pôr rótulos e recordo-te todos os dias, sempre que passo na sala vejo-te lá assentado e sorrio, como se tu pudesses ver. Na vida nunca é tudo dito, nunca é tudo feito! Faltou muito, mesmo muito! Porém ficamos perto de tudo…

Sempre que escrevo sinto que morro um pouco, é como botar as minhas flores na vida ou as minhas tempestades, nem sempre é fácil florir e um homem também se cansa, nunca fui um super herói e nem nunca quis ser, a minha face é sempre a mesma ao espelho, a penas mais cansada e cada vez mais impotente para as coisas da vida. Lá fora temos que ser fortes, cá dentro somos de vidro e a falta de um beijo pode na deitar a baixo em mil pedaços. Nem sei como este vidro é tantas vezes tão forte ao ponto de aguentar uma lágrima para ela não cair, haverá peso maior do que a lágrima que nos esmaga contra o chão? Talvez exista, mas eu cá prefiro a violência de uma bofetada, do que uma lágrima no olhar.