Meus amigos, eu vi a luz!

Olá, meus caríssimos amigos. Venho, por este meio, partilhar convosco uma descoberta pessoal que promete mudar o meu mundo – e quem sabe, talvez o vosso! Porque, meus caríssimos amigos, eu vi a luz! Foram anos e anos de uma intensa procura, mas finalmente consegui alcançar a luz! E como nutro um especial apreço pelos meus caríssimos amigos, sinto-me na obrigação de partilhar a minha descoberta convosco. Sentem-se como deve ser. Encostem bem as costas na cadeira, porque estão na iminência de, igualmente, verem a luz! Porque, eu, pessoa preocupada com o bem-estar das pessoas que perdem minutos preciosos da sua vida a ler o que escrevo, vou partilhar convosco a maravilhosa experiência que tenho vivido ao longo das duas últimas semanas. Já estão sentadinhos e bem acomodados? Então, vamos a isso.

Todos os dias da minha vida laboral eram preenchidos por uma rotina que me aproximava perigosamente do sedentarismo. Todos os dias, pela manhã, pegava na minha viatura e conduzia durante uns míseros 5 minutos até ao meu emprego. Uma curta viagem, em que nada se passava para além de uns bocejos matinais, e de muita rejeição – e por vezes com vagos flashes mentais de auto-mutilação (Que graças a deus, nunca passaram disso…) – pelo facto de ter pela frente mais 8 horas de pura infelicidade por laborar numa área que repudio com todas as forças do meu ser. Eram 5 minutos tristes, aborrecidos, e sem um pingo de realização pessoal. Mas, meus caríssimos amigos, isso mudou. Mudou, porque eu vi a luz!

Certo dia, passou-me uma simples ideia pela cabeça: “porque não, passar a ir a pé para o trabalho?” Se assim o pensei, assim o executei no dia seguinte. E, meus caríssimos amigos, foi uma das melhores decisões da minha ainda curta vida. De repente, passei a fazer caminhadas de 20 minutos, onde todo um novo mundo me foi dado a conhecer. Eu, meus caríssimos amigos, estava completamente privado da realidade. Mas isso mudou, porque eu vi a luz!

Tomei conhecimento de experiências que até então estavam completamente ocultas para mim. Novas descobertas, que me fizeram sentir um verdadeiro Vasco da Gama, navegando não pelos mares do mundo, mas sim pelos passeios da minha terriola – até porque eu não sei nadar lá muito bem, e podia muito bem correr o risco de me afogar.

“E que descobertas fantásticas foram essas, ó Ricardo?”, perguntam os meus caríssimos amigos.

Foram descobertas que mudaram a minha visão do mundo, meus caríssimos amigos.

“Sim, está bem. Mas… e que descobertas foram essas, ó Ricardo?”, insistem os meus caríssimos amigos.

Descobertas que revolucionaram a minha forma de encarar a vida, meus caríssimos amigos…

“Porra! Deixa lá de ser parvo, e diz lá que descobertas foram essas, antes que, certo dia, um piano te caia em cima dos cornos, sabe-se lá vindo de onde…”, ameaçam os meus caríssimos amigos, fazendo transparecer uma certa dose de impaciência.

Foram descobertas incríveis, meus caríssimos amigos… Verdadeiramente Incríveis!

 “Ai, o car…”, soltam os meus caríssimos amigos…

Ok, vamos a exemplos. Descobri que, ao contrário do que antigamente pensava, os pombos não atacam apenas viaturas. Os pombos também acham graça às pessoas, considerando-as como verdadeiras retretes humanas, fazendo pontaria e descarregando-lhes quantidades industriais de fezes – de tal forma que, na passada terça-feira, as pessoas pensavam que eu estava mascarado de cocó de pombo, enquanto caminhava pelas ruas da minha terriola…

Descobri igualmente que os idosos madrugam relativamente cedo, decidindo atrapalhar quem caminha em passo acelerado em direcção a casa, por se encontrar coberto de cocó de pombo. O que, convenhamos, é bastante chato.

E, para finalizar, descobri que andar cansa muito! Por mais incrível que pareça, andar maça um pouco, e deixa as pernas num estado de intensa súplica por repouso. E eu satisfaço-lhes a vontade, assim que chego a casa, estampando-me completamente ao comprido na cama.

Por isso, meus caríssimos amigos, eu vi a luz! Eu tive a sorte de ser um dos privilegiados de usufruir da oportunidade de ver a luz! E sabem o que é que me diz a luz…?

“O quê, Ricardo? O que é que a luz te diz…?”, perguntam, entusiasticamente, os meus caríssimos amigos.

Ui, diz-me tanto… Vocês nem imaginam o que ela me diz…

“MAU! TANTO PALEIO, TANTO PALEIO, E NÃO DIZES NADA DE CONCRETO?! OU DIZES JÁ O QUE É QUE A LUZ TE DIZ, OU AMANHÃ FAZEMOS-TE UMA ESPERA À PORTA DE CASA, E ROUBAMOS-TE AS SAPATILHAS, OBRIGANDO-TE A IR A PÉ PARA O EMPREGO!”, retrucam vocês, caríssimos amigos, já um pouco exaltados…

Simples, pá! A luz diz-me que, de facto, é melhor eu voltar a ir de carro para o emprego, pois a vida de peão, meus caríssimos amigos… é verdadeiramente um inferno!

 

Até para a semana, malta catita.


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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