Milagre económico ou fraude ? – João Cerveira

Há alguns dias que se falava que um banco alemão apelidava Portugal como o “milagre económico”. Nem uma semana depois o FMI vem desmentir, dizendo que Portugal ainda tem muito que cortar. E eu que nem gosto muito do Pacheco Pereira, sou obrigado a concordar com o artigo de opinião que ele escreveu no Público.

Onde está o milagre económico? O próprio líder parlamentar do PSD dizia que “a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor”. O que é o país sem as pessoas? Como é que o país pode estar bem, quando as pessoas não estão?

Se fizerem um simples exercício de pesquisa online, poderão constatar que muitas das empresas com melhores resultados (certamente não todas), são empresas que constam, com alguma frequência, nas tabelas de várias publicações como os melhores locais de trabalho. Porque esse é o caminho e não o inverso.  Até porque já se viu que não funciona.

A politica de estrangulamento de famílias e empresas, vulgo “austeridade”, tem tido o resultado oposto ao que se pretendia. O défice não vai ser de 3% como inicialmente previsto no primeiro memorando, a dívida pública aumentou para cerca de 130% do PIB (segundo o artigo mencionado anteriormente) e o desemprego bate recordes (e só baixa porque a população activa está a abandonar o país e porque retiram as pessoas da lista de desempregados quando estas estão em acções de formação, mesmo que estas só durem 2 semanas). E reparem que o défice previsto é de 5% apesar de todas as receitas extraordinárias e, supostamente, temporárias. O que quer dizer que, quando não existirem estas receitas extraordinárias, o défice do Estado irá disparar exponencialmente.

Ou seja, não há reformas de fundo. E não me venham falar que não há porque o Tribunal Constitucional não deixa, porque o anterior Governo fez a reforma do sistema da segurança social (garantindo a sustentabilidade do mesmo até 2025, sendo que agora nem isso deve ser possível, pois Vítor Gaspar e Pedro Mota Soares gastaram dinheiro do sistema para pagar dívida pública) sem violação de normas constitucionais. Ou seja, PSD e CDS não andam a resolver o problema. Simplesmente andam a empurrá-lo para debaixo do tapete, para que ninguém o veja. O problema continua a existir e agravou-se com esta politica errada. As exportações aumentaram, é certo. Equilibrou-se a balança comercial. É bom, garante o emprego de quem trabalha nas empresas exportadoras. Mas e as outras pessoas? E os outros cidadãos? Haverá com certeza bastantes que não trabalham porque não querem, mas há muitos outros que querem trabalhar e não podem. O que é que estas pessoas contribuem para a economia? Sendo o poder de compra quase zero, pois só recebem (os que recebem) subsidio de desemprego, contribuem com zero. Qual é o ganho do Estado? Zero. Até tem prejuízo, pois não consegue tributar vencimento e o consumo (porque não existe e/ou é irrisório) e tem despesa ao pagar subsídios. Qual é a resposta do Governo à criação de emprego? Zero.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…