O Milagre de Jesus na Páscoa

Passada a época Pascal, todos esperam um texto para explicar o que se passa. Não procurem mais, aqui está ele. Aqui está toda a verdade por trás do milagre de Jesus. Estamos então a falar do homem que, alegadamente, desapareceu numa sexta-feira e só voltou a um domingo. Estamos a falar do homem a quem todos exclamaram milagre, quando no dia santo, apareceu sem ressaca alguma.

Claramente já percebeu de quem estou a falar. Refiro-me ao homem que pôs 6 milhões de vivos e mortos a sorrirem durante anos. O homem que pôs três milhões de palermas, no mesmo estado, de Setembro a Janeiro. O homem que passa de besta a bestial da forma mais rápida possível, por ter mudado a cor da camisola, ou por pôr o Teo a jogar. Falamos de Jorge Jesus. E agora o leitor atento diz: “mas ele não desapareceu numa sexta, e apareceu no Domingo. Esse foi o outro.” Acha mesmo?

Ao que o Ideias e Opiniões pôde apurar, este homem desaparece por volta das 22 da noite, desta Páscoa e só voltou no Domingo, feriado. Esta é a única explicação que encontramos para o possível interesse no octingentésimo nonagésimo quarto argentino esta semana. O homem, conseguiu um contrato melhor com a NOS que a própria entidade empregadora! Ele passa as noites inteiras a ver o campeonato argentino, brasileiro, chinês, mexicano (…) boliviano, moçambicano, sérvio (…) terceira liga turca, e por aqui adiante.

O famoso scouting da equipa técnica do Jorge Jesus, baseia-se nele, em boxers, a fazer a lista de compras. Podia ser eu, podia ser o estimado leitor, mas sejamos honestos, nenhum de nós tinha paciência para ver o duelo Água Santa x Palmeiras às 2 da manhã! A não ser que estejamos ébrios. Pois, ele é como nós. Ele claramente tem, em parte do seu salário, um subsídio para as minis e tremoços que rebenta em quanto vê versões atualizadas do Alan Kardec, do Bruno Cortez e do Barcos. É então, por isso normal, que ele veja em cada Sidnei, o próximo David Luiz. É o mesmo que quando estamos bêbados num bar, e chega-se até nós “aquela gorda!”. Aquela que nós nem um abraço conseguimos dar – simplesmente as mãos não conseguem tocar uma na outra – e mesmo assim dizemos “ela até nem é má!” Com ele passa-se o mesmo. Ele olha para a Gorda Sidnei – e reparem como neste caso até se adequa – e diz “se deixar crescer o cabelo, é o próximo David Luiz. Se não, o próximo Luisão!”

Isto toma proporções ridículas porque estamos a falar das noites agarradas à Super fresquinha. Há noites em que na vez do tradicional Ice Tea de Cevada, está o malte. Normalmente isso acontece quando naqueles e-mails correntes, lhe mandam o golo do Kevin no dragão, ou a fotografia do Carrillo. Aí está tudo estragado. Ele pega na Chivas, acabada de comprar, abre a pobre coitada, que mal sabe o que lhe está prestes a acontecer, e dá-lhe o maior beijo francês da história. É menino para virar aquilo mais rapidamente que a dívida pública cresce!

Liga a televisão, vai à grelha de canais. Próxima paragem Sport TV 2. Trata-se do canal que passa o futebol que não interessa. Ainda para mais às tantas da madrugada, não interessava mesmo, nem ao menino Jesus. Mas com o estalo que ele está, até um Cerca vs A-dos-Cunhados, parece uma final da Liga dos Campeões. Enquanto grita, sozinho na sua cave, por ajuda miraculosa, de forma a mudar o rumo do passado, olha para todos os jogadores que correm pela televisão, como opções para evitar erros futuros. Olha para o trinco suplente duma equipa que luta pela manutenção na segunda liga brasileira e pensa “Se ao menos o tivesse, não tinha de pôr o Roderick!” E se assim pensa, melhor faz. Pega no telemóvel. Toca duas vezes – às 4 da manhã ninguém atende à primeira. Ouve-se uma voz rouca do outro lado “Sim amor..? Não és tu mulher, dorme!” “Sim Bruno? Olha estou aqui a ver um puto, snif, chama-se Bruno Paulista, snif, ele é a alternativa ideal ao William!” “Jesus, repara, já veio o Aquilani, mantivemos o Adrien e o João Mário, achas mesmo isso necessário, ou é só mais um Bel Fodil?!” “PÁRA BRUNO, PÁRA!!!! SIM É NECESSÁRIO!! Reages sempre assim aos meus pedidos!” “Pronto amor, tudo o que quiseres! Epá dorme, já disse pá! Não estou a falar contigo! Desculpa, a minha mulher está para aqui a chatear-me! Já não há o mínimo de respeito! Incomodar as pessoas a esta hora da noite. Pronto Jesus, amanhã tratamos de tudo!” Desliga-se o telefone. O Jorge Jesus olha para o lado e vê a garrafa já vazia. No seu rosto sente o conforto das lágrimas já secas.

Isto meus caros, vale 6 milhões de euros limpos por ano. Ora, por metade eu esgoto um pacote de Kleenex por semana! Mais, faço-me sócio gold da Renova! Agora, seis milhões de euros para estar de boxers a noite toda, alcoolizado a ver a bola!? Eu pago para isso! É injusto, eu sei.

E agora o leitor diz “mas às vezes ele traz jogadores de classe! Como o Di Maria, o Ruiz ou o Ramires” Certo, mas mesmo um bêbado, às vezes safa uma miúda gira. A única diferença é que o bêbado precisa que a miúda gira esteja ainda pior que ele, ou seja vesga, e Jesus só precisa de mais um milagre na Páscoa.