Momentos escatológicos e tecnologia, não combinam! – Ricardo Espada

Olá, amiguinhos! Como estão, hoje? Desculpem? Não ouvi nada… Ou estou a ficar surdo, ou então vocês estão a gozar comigo. Das duas, uma! Como é que é? Em que é que ficamos, pá? Hum? Como? Estão bonzinhos? Ah, assim está melhor… Estava a ver que íamos começar esta crónica com o pé esquerdo… Assim já sinto que estão reunidas todas as condições favoráveis para avançarmos com a crónica de hoje.

Conhecem aquela sensação estranha e, por vezes algo assustadora, que estão sempre no local errado à hora errada? Não? Mas, como não? Pff… vocês hoje estão mesmo do contra, hein?! É sexta-feira, pá! Animem-se… Bom, já que vocês não conhecem a sensação – por mim anteriormente referida – eu, tal e qual um bom samaritano, passo a explicar: «Estar no local errado, à hora errada», quer dizer que estão sempre num sítio em que acontece algo de errado, mau, ou apenas estúpido. Eu, para não fugir à minha sina, consigo quase sempre reunir os três adjectivos – não me chamasse eu, Ricardo Espada…

«Ó Ricardo, giro, giro, era explicares em que situação é que essa «sensação» te aconteceu, não? Em vez de andares aqui com rodeios! Eu tenho uma panela de sopa da pedra ao lume, e não posso estar aqui o dia todo – não vá a pedra saltar fora da panela e partir-me um mosaico do chão…» Uau! Calma, leitor. Eu compreendo que tenha os seus afazeres domésticos, mas está a ver os outros leitores a queixarem-se? Não, pois não? Então, vamos lá a ter calminha…

Bom, esta semana fui almoçar a um Centro Comercial muito conhecido, mas que, por razões óbvias, acho melhor não dizer aqui o nome «Atchim!! Dolce Vita Tejo, na Amadora!» Ah, porra… Desculpem! Foi do espirro… Não volta a acontecer. Bom, onde ia eu? Ah, sim… Fui almoçar a um Centro Comercial e, a dada altura, tive de fazer uma pequena visita escatológica à casa-de-banho. Ora, até aqui tudo bem. Mas, ao lado do meu cubículo, começo a ouvir alguém a falar. A falar num tom muito alto que, numa casa-de-banho pública, torna-se impossível não ouvir ou prestar atenção às palavras que essa voz entoa… A pessoa – dona dessa voz – estava a falar ao telemóvel com (possivelmente) a sua amada. Ora, existem conversas que, obviamente, não se devem ter numa casa-de-banho pública. Aliás, numa casa-de-banho pública, no meu entender, não se deve ter nenhuma conversa ao telemóvel. Até porque, todas as pessoas presentes na dita casa-de-banho, vão ouvir tudo e ficar a saber todos os pormenores da conversa em questão. Mas existem pessoas que ignoram esse pormenor… Oh, se existem… O diálogo (E antes que digam que era impossível ouvir a diálogo, eu aviso, desde já, que era possível sim senhor. A voz da senhora, do outro lado da chamada telefónica, ouvia-se a milhas!) que, inevitavelmente ouvi, foi algo deste género:

(Toca o telemóvel…)

Homem: Olá mor…

Mulher: Olá, o caraças!

Homem: Então, mor…? O que é que se passa?

Mulher: Ainda perguntas?

Homem: Oh… Não estou a entender o que se passa, apenas isso…

Mulher: Onde é que estás?

Homem: Então… Eu?

Mulher: Não! Eu! Sim, onde é que estás? Estou à tua espera há meia hora! Disseste que vinhas almoçar a casa! Não me digas que foste almoçar fora, outra vez, com a tua coleguinha de trabalho…

Homem: Então… eu? Não, mor… Olha, sabes que eu te amo muito, não sabes?

Mulher: Deixa-te de merdas, e faz o favor de me dizeres onde estás!!

Homem: Então… mor… eu… estou…

(Ouve-se o som escatológico: kaluff…)

Mulher: Que barulho foi esse?! Hã?

Homem: Então… barulho? Que barulho? Não ouvi barulho nenhum…

(Ouve-se o barulho de alguém a puxar o autoclismo…)

Mulher: E este barulho?! Estás na casa-de-banho, não estás!?

Homem: SIM, ESTOU! PRONTO! É ISSO QUE QUERIAS SABER, ERA?! E SIM, FUI ALMOÇAR COM A MINHA COLEGUINHA! CHATA! CIUMENTA D´ UM RAIO!

Mulher: ESTÚPIDO! ODEIO-TE! ESQUECE-ME!

(Ouve-se o barulho da chamada a cair…)

Homem: Pff… É sempre a mesma merda! Dass…

Ora, era escusado ter de ouvir isto tudo, certo? Era, sim senhor… Mas, confesso: foi muita divertido, c´um caraças! Amanhã, à mesma hora, vou voltar àquela casa-de-banho…

Até para a semana, malta deslumbrante… Só de saber que estão aí, desse lado, com os olhos esbugalhados a ler isto, até me cresce um mamilo nas costas, mesmo por baixo da omoplata. O que é chato, visto que passo a vida a entalá-lo, de cada vez que me sento e encosto as costas na cadeira… Mas, se este é o preço a pagar por ter leitores, então eu pago sem hesitar! E tenho dito!


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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