Morte de quem?

Pelas notícias vamos assistindo a tragédias, dia após dia. São os ataques ao Charlie Hebdo, são desaparecimentos e quedas de aviões difíceis de explicar, são armas disparadas acidentalmente, são pais que matam os filhos. São notícias que por vezes custam a ver mas que aconteceram. E a maioria destes acontecimentos passaram-se nos grandes continentes: Europa e América especialmente, por vezes na Ásia também (digamos que é um grande continente em rápido desenvolvimento).

Na semana passada escrevi sobre a terrível queda (ou viagem para a morte) do avião alemão. Na altura, ainda não se sabia alguns desenvolvimentos que hoje se sabem e que choca qualquer pessoa, no entanto desde a primeira notícia que se colocava a hipótese de acidente ou atentado terrorista. Depois de se saber o que se aconteceu, foram ainda noticiados todos os passos de quem fosse naquela zona tudo o que o co-piloto fez na vida, entrevistas da suposta ex-namorada, e mais e mais e mais.

Esta semana soubemos (muito por alto) que numa universidade do Quénia, mais de uma centena de pessoas foram mortos, a maioria jovens estudantes. Contudo foi basicamente isto que se ouviu. Onde estão as notícias sobre os pais destes alunos? A caça aos assassinos? As homenagens às vítimas?

Será que se o mesmo se tivesse passado na América ou na Europa ou com pessoas descendentes destes continentes já existiriam mais notícias? Até porque já se ouviram n notícias de pessoas, também jovens na sua maioria se não me engano, que entraram em escolas e/ou universidades de armas nas mãos e que mataram colegas, professores, etc. Este tipo de “história” que dá a notícia é semelhante ao que se passou no Quénia não? Estarei enganada? Será que a história é diferente?

Parece que é tudo para a Europa e América e nada para África. Não são todos os continentes habitados por pessoas? Todas iguais e ao mesmo tempo todas diferentes mas todas pessoas. Não merecem o mesmo respeito? A mesma solidariedade, o mesmo luto, demonstrado para tragédias semelhantes que aconteceram anteriormente?

A notícia ajuda à divulgação do acontecimento sim, só que neste caso não se pode dizer que tenha existido notícia. Jovens que morreram apenas porque estavam a estudar naquela universidade em questão. Todos nós conheceremos ou fomos nós próprio um simples jovem que estudava nesta ou naquela universidade. Também nos poderia ter acontecido o mesmo então.

Neste caso não sabemos nomes, não conhecemos rostos, não conhecemos histórias de vida, não conhecemos familiares que sofrem tanto ou mais do que outros familiares que vemos nas notícias. Se na altura do Charlie Hebdo diziam ser todos Charlie, porque não agora serem todos Quénia?

(peço desculpa pela brutalidade da imagem, mas por respeito a estes jovens, eles não devem ser esquecidos, a morte deles não deve passar despercebida apenas por viverem no Quénia, como parece ser o caso.)