Mulher modelo vs. modelo de mulher

Não coro diante de uma modelo brasileira ou de outra nacionalidade que não me mostre como é uma mulher de verdade. De uma estrangeira que tendo feito uma dieta louca, nas últimas três semanas tenha perdido os 15 quilos que lhe faltam para ser perfeita como tu!

Diante de nenhuma delas eu quero ser confundido com a legião de admiradores que incansáveis as seguem como se participassem numa corrida de fundo sabendo que nunca conseguirão alcança-las.

Gosto de ti como és: sem complexos, nem a veleidade de achar que em mulheres de cinturinha de vespa estão todos os homens à espera de verem transformar-se as que têm em casa.

O estereótipo de beleza a que elas se associam, representa mulheres que diferem de ti em tudo o que me leva a preferir-te. Cansa-me, quando falo delas, não poder mencionar nenhum dos aspetos de que mais gosto em ti, como mãos firmes e coxas que sejam suficientemente robustas para, enquanto sentir que me apertas entre elas, ter a certeza de que não te sou indiferente.

Prefiro um minutinho na tua companhia do que os quinze de fama a que teria direito por ser visto a andar com uma que me esqueceria ao fim desse tempo.

No teu corpo de formas generosas, prefiro poder entregar-me de olhos abertos do que, com outra, ter que fechá-los depois para não ver que era afinal uma desilusão.

Gosto de sentar-me contigo e, de braço a enlaçar-te a cintura, espreitar por cima do ombro a história que lês para sentir mais de perto o teu cheiro.

Gosto de sentir-me observado por ti enquanto esperas que saia de dentro de mim, já homem, o rapazinho que viste entrar e não troco a necessidade que por vezes tenho de ficar sozinho para escrever pelo prazer que me dá ver-te chegar, carregada de livros que, no teu caso, poderiam representar uma pequeníssima parte do conhecimento que te foi transmitido tanto por pais e avós como pelos professores que foste tendo ao longo da vida.

E talvez, sem o saber, estejas na posse de um segredo que te permita elaborar uma fórmula que possa erradicar de mim todos os defeitos, igualando-me a ti. Talvez, de mãos postas no teu ventre roliço me apeteça fazer-te pensar que, por fazerem sempre todas as tuas vontades, elas já são mais tuas do que minhas.

Distante do sol, em redor do qual orbitam todos os planetas, rivalizas com ele na importância que a sua presença tem nas nossas vidas.

Respondem mais pelo que sentes os teus olhos de mel quando brilham, do que me sinto em condições de fazê-lo por mim quando te aproximas, de tão sensual que te acho.

Começo por achar-te mais distante do que na realidade estás de mim se não vens armada de um sorriso que no mínimo possa igualar o meu. A esse, consigo sem esforço distingui-lo de entre uma centena daqueles com que me acenam diariamente, como se pela atenção que algumas pessoas me prestam quisessem convencer-me de que sou mais importante do que tu. Porém, tão pouco devem ser sinceros alguns vindos de pessoas que mal me conhecem, como alguns rumores de que por causa deles sentes ciúmes de mim, com mulheres que têm ainda menos em comum comigo do que contigo e só por isso as não desejo.

Todas tão altas e elegantes que lhes bastaria ter crescido até à tua altura para, a meu ver, darem muito mais nas vistas. De olhos azul-turquesa, digno de uma paisagem, capazes, a respeito de uma alma conturbada, de passar a ideia de ser um mar de calmaria. Todas elas mais magras do que tu, mas de esqueleto a roçar a pele limpa de estrias que lhes retira o aspeto natural que tanto me atrai e de ventre liso sem outro motivo de interesse além do de imaginá-lo completamente diferente.

Não me envergonho de te confessar que recuaria perante o assédio de uma modelo brasileira ou natural de qualquer outro país que podia até saber expressar-se na tua língua mas jamais seria capaz de me dizer tanto como tu.

E só na presença de uma delas eu coraria se estivesses presente e pedisses que substituísse o texto que até agora escrevi e de olhos nos olhos tivesse a coragem de numa palavra simplesmente dizer que te amo.