Mulheres!!! – Laura Paiva

Mas o que se passa com certas mulheres?

Reunidas à volta da mesa do almoço, debitam opiniões jucosas sobre vidas alheias – normalmente sobre vidas de mulheres que não estão presentes – como se disso dependesse o êxito da sua, provavelmente miserável, existência. Não são comentários construtivos mas sim opiniões que contêm uma quantidade letal de fel. Na presença das visadas, são hipócritas ao ponto de as felicitarem e elogiarem, como fazem as melhores amigas do Mundo.



Criticam o corpo, a roupa, a maquilhagem, a personalidade, o modo de vida, as escolhas, as prioridades, enfim, tudo o que é passível de ser criticado!
Se compra roupa e vai ao cabeleireiro é porque é uma esbanjadora e não define bem as suas prioridades – com esta crise, como é possível? Se não o faz, é uma pobre e nem percebem o que faz ao que ganha nem como o marido/companheiro, que até é jeitoso, aceita ter uma matrona em casa!
Se a desgraçada da visada vive em função dos filhos, é uma mãe galinha que nem tem tempo para viver. Se não o faz, é uma mãe desprendida e isso não é maneira de educar os filhos, que por acaso até conhecem e sabem como são umas pestinhas.
Se é bonita, tem a mania e é preciso ter cuidado porque o chefe só tem olhos para ela. Se não está dentro dos padrões de beleza física que elas estabelecem, coitada, é feínha que se farta.
Se faz alguma cirurgia plástica, continua a ter a mania que é melhor que as outras. Se não faz, precisava urgentemente.

Mas continuo a pensar que as mulheres sofrem de um qualquer problema genético que provoca tanta instabilidade. Só isso justifica esta característica das mulheres que nunca lhes permite estar satisfeitas, com elas e com os outros.

Vejamos:
se temos o cabelo curto queríamos mesmo era tê-lo bem longo, tipo Rapunzel. Se a cabeleira é farta, maldizemos o ADN familiar. Se os cabelos são naturalmente encaracolados, passamos a vida a esticá-los. Se são lisos, o nosso sonho era que fossem ondulados. Se são escuros, pintam-se de loiro. Se são loiros, desejavamos, de todo o coração, que não fossem. Se temos um metro e meio de altura, usamos mais meio metro de salto. Se temos um metro e oitenta, o homem dos nossos sonhos tem um metro e setenta e, por isso, passamos a ser adeptas incondicionais dos rasos. Se temos sardas, fazemos questão de as esconder. Se não temos, vamos tatuá-las. E poderia ir por aqui fora, numa interminável desgarrada…

Não há santo que aguente tanta lamúria!

Pelo menos os homens são mais prácticos: ou falam de futebol ou de mulheres – aka “gajas” – das deles ou das dos outros. Nem nisso são esquisitos.
Tendo os seus cuidados básicos de beleza, não andam a reparar nas falhas dos outros e, se o fazem, é directamente.
São camaradas, são de abraço – apoiam-se e tratam-se de uma forma que me faz sentir inveja.

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos