Mundo ao Contrário – Carta ao Pai Natal

Com o aproximar do Natal é normal as pessoas escreverem uma carta ao Pai Natal. Apesar do Natal ser uma época de paz e amor, de partilha e gratidão, os professores e pais educam os putos a massacrar um velho com pedidos.
E com o homem ninguém se preocupa?
Eu sou diferente, por isso, este ano, hoje, escrevo novamente ao velhinho, pela primeira vez desde 1986:

Porto, 8 de Dezembro de 2011

Caro Pai Natal,
Diria que gostava que esta carta te encontrasse de perfeita saúde, mas sei que tal não é possível. Na tua avançada idade deves estar já a debater com os problemas de saúde que lhe são inerentes. Por outro lado o peso também não é teu amigo, nem quero imaginar nesta altura como estão os teus diabetes, colestrol e triglicerídeos. Bem sei que vives na Lapónia, mas será que aí ainda não existe o programa “Peso Pesado”?
Em 1986 tinha 6 anos, e na derradeira carta que marcou o rompimento da nossa relação, recordo-me especificamente de te ter pedido para me trazeres uma bicicleta e uma faca de mato… Sobre isso queria dizer-te duas coisas:
-Primeiro o meu pai não é teu lacaio, se eu te pedi a ti a bicicleta tu é que devias ter descido a chaminé com ela no saco. E nunca devias ter posto o meu pai a subir as escadas com ela às costas.
– Segundo, e mais importante, nunca cheguei a receber a faca de mato. Se a entregaste ao meu pai por favor verifica com ele porque ele não me entregou.
Espero que ao fim destes anos tenhas deixado de delegar funções a quem não percebe do assunto.

Este ano não te escrevo para pedir nada, não é que não necessite.
Necessitava que tirasses Portugal da crise, mas não te preocupes porque já chamamos os senhores do FMI. Também podias resolver o problema do desemprego em Portugal, mas já está tratado porque o Eng.º Sócrates ficou de nos arranjar 150 mil postos de trabalho.

Aproveito para te avisar da forma que as coisas estão, e com o IVA dos produtos alimentares a aumentar, é recomendável que não entres no país de renas. Deves saber que vistas no ar podem bem ser confundidas com vacas voadoras e ainda te arriscas a levar um tiro.
Por falar nas renas, aquela que tu tinhas com problema de alcoolismo, que andava sempre de nariz vermelho já está melhor? Acho inadmissível que isso aconteça, se já é perigoso um condutor alcoólico, imagina quando se trata do próprio veiculo…

Por falar em álcool… há uns anos atrás o meu pai queixou-se que tinham aberto uma garrafa de whisky que ele andava a poupar. Isto coincidiu com a tua habitual visita, afinal o teu ar coradinho não é só aspecto supostamente saudável…

Ainda faltam alguns dias para o natal, e esta é a altura em que apostas no teu marketing pessoal. Mas tenho mesmo que te avisar. Nos dias de hoje, um velhinho, sentar criancinhas no colo, a dizer que lhes vai realizar desejos… é estranho.
Por outro lado o comunismo caiu um pouco por todo o mundo, e o vermelho já não está muito na moda. Podias rever esse guarda roupa.

Vou pedir-te um favor, manda os esquilos para o mato outra vez. Já ninguém consegue ouvir os jingles de natal pela voz do Alvin e amigos, se não consegues arranjar um novo Frank Sinatra não ponhas bichos a fazer o trabalho dele, ninguém aguenta a chinfrineira daqueles gajos, que os putos tanto gostam.
Ahhhh, é verdade, outro favor que podias fazer era queimar o filme “Música no coração”, aquilo é uma história muito bonita, de uma menina que ia ser freira mas não resistiu aos prazeres da carne (e do dinheiro) e fugiu com um velho rico cheio de putos, mas a malta está farta de ver situações dessas no dia a dia, não é preciso o filme no dia de Natal.

Fica bem, dá cumprimentos meus ao aniversariante, epá… e tem cuidado com os doces, se calhar opta por uma coisa mais light este ano.

Atentamente,
Bessa Soares

Crónica de Bessa Soares
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