Mundo ao Contrário – Introdução

Não consigo entender como já passaram 20 anos, desde o dia que saí orgulhosamente da Tubitec, a carregar o álbum Nevermind dos Nirvana, que tinha acabado de sair. Não consigo entender como a minha Geração Rasca, se revia e exprimia em músicas de revolta em gritos de “– eu existo”. E a geração de hoje que está à rasca, se revê e exprime em música de festa, alegre e com toques latinos.


Não consigo entender como os heróis do meu tempo, eram tipos como o Son Goku e o He-Man, que lutavam contra todas e quaisquer adversidades, e por serem inconformados conquistavam tudo. E os heróis de hoje em dia são um carteiro e um construtor.
Não consigo entender como o Alf era o ser vivo mais cool deste planeta, e hoje em dia todos os alienígenas que vêm à terra, vêm para exterminar a raça humana. Também não consigo entender porque só falam Inglês e por norma aterram na América.

Não consigo entender como Portugal vivia num regime sem liberdade, mas tinha a moeda mais poderosa da Europa. E hoje que somos livres, temos de pedir ajuda ao FMI.

Por haver tanta coisa em que encontro disparidades tão grandes, penso mesmo que vivemos num mundo ao contrário.

Pela mesma razão aceitei escrever uma crónica semanal (e até acabaram por ser duas). O Vilarinho que é um rapaz porreiro, daquele tipo de pessoas que se gosta logo disse-me “Ou escreves uma crónica ou parto-te todo.” Em abono da verdade ele não usou a palavra “parto-te”, usou outra, que me faz alguma confusão dita de um homem para outro homem… não que eu seja contra um homem e outro homem… quer dizer não é que eu goste que um homem e outro homem… quer dizer, já me desviei do assunto.

Ele fez a proposta, e eu pensei: desde Abril de 74 que há liberdade de expressão; o governo Português é constituído por uma coligação que não foi a sufrágio; Francisco Louça teve uma derrota histórica, mas ainda acha que tem apoio para se manter e falar como fala; temos um governo, mas somos geridos pela Europa e pelo FMI.

Isto é mesmo capaz de ser a altura perfeita para começar a escrever uma crónica.