Na casa da avó da gente…

O cheiro, a coisa antiga, a história, cada pedaço, cada canto! Em cada espaço um passpartout com fotos de toda a gente, netos, bisnetos, tios, tias, avôs e tetravôs, quanta gente, a nossa gente, a nossa história!

O quase silêncio, só interrompido pela nossa brincadeira (nossa e dos nossos primos), acredito que na casa dos nossos avós era proibido mexer no que quer que fosse, pelo menos assim dizia a minha avó….

“Não bulas aí nino, que isso é do teu avô!”

A minha avó dizia assim, para tirar a culpa do cartório, a cristaleira era dela, cheia de copos, de todos os feitios e cores, mas ela sabia que eu os ia partir!

O meu avô do alto da sua contínua calma, respondia: “Deixa-o mexer, se partir, partiu…tens aí tanta bugiganga!” No meio de uns quantos palavrões!

Os napperons de crochet em cada canto, como medalhas, e o orgulho da minha avó quando dizia que me ia fazer uma pantufas em crochet! Ora, ora, já tinha prenda de Natal!

Como era bom, ao cair da tarde, sentir o quente do velho fogão a lenha, a carburar a todo vapor, enquanto a chuva lá fora se fazia sentir!

O velho relógio na sala, marcava a hora, enquanto a gata siamesa passarinhava como se fosse dona do pedaço, a espera pelos meus pais na altura parecia longa, se fosse hoje seria pouca, porque a saudade como sempre aperta!

Tenho saudades de ver o meu avô desligar o aparelho auditivo só para não ouvir os queixumes da minha avó, só era traído pelo feedback que o aparelho dava de vez em quando, denunciando-o, dizia a minha avó: “Desligaste o aparelho filho da pucha…” sim porque ela não dizia palavrões!

Eu por exemplo segundo ela, era o judeu da Santa cruz, ou era o demoine! Vá-se lá saber o que era isto!

Toda esta escrita para quê, para lhes dizer meus queridos amigos e amigas, que nós infelizmente só damos valor as coisas quando já não as temos, achamos plenos de direito que as pessoas e as coisas duram para sempre, está errado!

Se tiverem um avô ou uma avó, falem com eles, abracem-nos, acarinhem-nos, acima de tudo visitem-nos, nem que seja por meia hora do vosso precioso tempo!

Hoje temo-los, amanhã teremos ou não!

Esta crónica é em memória do meu avô! J

Não se esqueçam de recordar e sonhar porque a vida é feita de sonhos!