Na escola de Bruno as orelhas de burro já não são castigo

Apesar da Liga Portuguesa ter começado esta sexta-feira, não foi, com toda a certeza, o prato forte desta semana que passou. Enquanto no Benfica se discutia o substituto de Artur, no Porto se debatia as horas em que Ruben Neves tinha nascido, de forma a ver se batia o record, no Braga se falavam de falta de certificados e no Belenenses da escassez de reforços, pelos lados de Alvalade as coisas eram diferentes e assumiam contornos mais graves. Notícia de choque: Rojo e Slimani forçam saída do Sporting.

Como é seu apanágio, seja para o bem, ou como é tendencialmente, para o mal, Bruno de Carvalho agiu prontamente e com ações. O jovem presidente do Sporting decidiu castigar tanto Rojo, como Slimani, de forma a que os dois percebam o “quão grande é a instituição Sporting Club de Portugal” assegurando assim a sua imponência e fazendo jus à tão famosa frase “comigo não fazem farinha”. O castigo passou pelo impedimento de entrarem na Academia e de se treinarem com a equipa principal. Muito se pode discutir e contrapor em relação às atitudes tomadas por Bruno de Carvalho, no entanto, o que é certo é que neste caso acertou na mouche e agiu conforme deveria.

A sanção imposta pelo presidente do Sporting só mostra que nenhum jogador está acima do instituição e que por mais que queiram não podem usar e menosprezar o nome do clube que preside. É justo chamar-lhe um acto de coragem e de mostra de poder, um gesto que todos os adeptos louvam e que só serve para mostrar força directiva. Carvalho fez o que tinha de ser feito e o que devia ser exposto e seguido como exemplo por todos os presidentes dos clubes, sejam eles portugueses ou não.

É impensável um jogador forçar a saída de um sítio que lhe proporcionou tudo. É desleal, mesquinho e de mau profissional, porém, não é novidade e vai continuar a acontecer. A necessidade de que se tomem decisões e se dêem castigos como este é muita, se não os jogadores continuarão a procurar única e exclusivamente satisfazer os seus interesses relegando os do clube que representam para um plano longínquo e despreocupado. Errado. A ingratidão é um dos maiores defeitos do homem e fazer força para abandonar o que clube que o mostrou “ao mundo do futebol” é mais do que ingrato. Um futebolista não pode ser só alguém que tem talento nos pés, na aldeia global em que vivemos é necessário ter cada vez mais precaução com as coisas que são ditas e como são ditas. Nem todos os clubes que não são o Real Madrid são uma rampa de lançamento, nem todos os que não pagam 5Milhões ano são clubes nos quais não vale a pena estar e nos quais se tem de forçar a saída. O mundo do futebol não funciona assim e este tipo de situações só ocorrem repetidamente porque os presidentes, directores, treinadores e staff não agem em conformidade e aqui, tem de se tirar o chapéu a Bruno de Carvalho.

Num futebol cada vez mais movido pelo dinheiro e pelas propostas milionárias, os jogadores vão baseando toda a sua carreira em cifrões e vão perdendo o gosto pelo desporto em si e o respeito pelas instituições que representam. Os castigos aplicados têm de ir mais além do que apenas multas ou repreensões, só assim terão consciência do quanto erraram e do que devem ao clube que, ao fim ao cabo – não falemos da nova moda dos fundos -, tem o seu futuro e carreira nas mãos. Em Portugal é tudo cozinhado em lume brando, é tempo de haver uma volta e começar a ferver logo ao inicio. Na escola de Bruno as orelhas de burro já não são castigo, agora só entra na sala quem respeitar o professor.