Na Grande Ressaca do Terror, em Paris

A noite de 13 de novembro de 2015 poderia ter sido apenas mais uma. Poderia ter tudo para ser mais uma em que muitos de nós fomos aproveitar mais um final de semana, relaxar e retomar a interação social, os jogos ou o simples descanso, que uma semana laboral implicou.

Poderia, também, ter sido business as usual para os Europeus, caso o enorme, chocante, atentado em Paris tivesse ocorrido fora das nossas fronteiras (como foi o caso do atentado em Beirut). Mas a verdade é que o referido ataque, pelas suas implicações políticas, nos afeta a todos, na Europa dos direitos humanos e da tolerância.

Sejamos claros: todos os dias ataques destes ocorrem no Mundo inteiro, particularmente no Médio-Oriente. Todos os dias, centenas de pessoas morrem com explosões e balas, trespassadas pelo fundamentalismo de quem foi armado pelas falhas das políticas ocidentais, originárias no século XIX, pela tentativa de partilha de um Mundo, por uma oligarquia Estatal e Nacional. Mas nada disto torna menos grave o que sucedeu ontem à noite. Por duas razões: porque Paris é uma capital cultural, muito mais do que económica e política, estando próxima da emocionalidade dos Europeus, e porque a sua exposição política é… terrivelmente extraordinária.

Na altura em que escrevo, as informações ainda são escassas. Pelo menos 128 morreram e mais de 200 ficaram feridos, sendo expetável que estes números tendam a subir ao longo do fim-de-semana. As fronteiras estão fechadas e uma caça ao homem, como não se via desde a 2ª Grande Guerra, foi encetada pelo Estado Francês.

As reações ao ataque não se fazem esperar e muitos utilizadores das redes sociais já vieram expressar o seu repúdio pelo ataque, porém, muitos dos que advogam a intolerância foram mais longe: culpando refugiados e o islão, como um todo. Nada mais erróneo… Que certamente será captado pelo discurso da extrema-direita. Marine Le Pen tem tudo para vencer, ao manter o discurso xenofóbico. Fala-se, inclusivamente, na possibilidade de se criar um campo de concentração para suspeitos de terrorismo, em França. Reage-se, portanto, ao terror, em Paris, com mais terror…

Por fim, e por outro lado, este ataque representa uma renovação do intencionalismo do DAESH (ou o autoproclamado Estado Islâmico), em travar uma Guerra com os Europeus e a Ocidentalidade, em geral. Atendendo às declarações de François Hollande, o Presidente Francês, esta é uma possibilidade em cima da mesa… A Guerra já chegou, nova e finalmente, ao solo Europeu. Resta saber como é que os países Europeus irão reagir.

Ontem, e para minha enorme tristeza, pode ter acabado o Acordo de Schengen. A Europa como a conhecemos, pode ter terminado no momento em a primeira bala trespassou o ar, trespassando, também, a paz europeia.

Muitas incertezas ainda subsistem. Iremos para a guerra, sabendo que uma intervenção militar vai provocar uma polarização de posições de ambos os lados, sem uma assunção de resolução de conflito convencional, uma vez que o DAESH sabe que não tem a capacidade de defrontar as nações europeias no campo de batalha? Iremos expulsar muçulmanos, por serem muçulmanos, criando campos de concentração e expurgando a nossa humanidade? Escolheremos uma limpeza étnica, tornando-nos iguais aos militantes extremistas e à barbárie Nazi e Estalinista? Ou vamos intervir de modo a manter a nossa humanidade e trazer, ao de cima, os perpretadores, resolvendo, de uma vez, os problemas sociais que deram origem ao extremismo e ao fundamentalismo religioso?

Para quando uma verdadeira União Europeia, pelas pessoas e para as pessoas?