Nada como a privatização, como primeiro amor

Bem-vindos de volta a este meu canto, espero que, desde a última vez que falamos, continue tudo bem, (leia-se que continue desempregado, com um emprego onde não é valorizado ou emigrado – infelizmente é o mais provável).

Sente-se confortavelmente, acomode-se à cadeira, puxe de um copo de chocolate quente… Hoje o que aqui vão ler é uma história de amor.

Hoje não venho aqui criticar o governo, a maioria, ou as suas soberbas medidas de salvação da nossa economia. Afinal de contas, nesta temática eu compreendo-os perfeitamente. Faria igual, aliás, não me ficava só por ter privatizado a EDP, Galp, REN, CTT, entre outros. Privatizava ainda a Assembleia da República, a vista do Tejo, e a TAP. Note-se a tonelada e meia de ironia utilizada nas últimas 57 palavras. Eu compreendo estas privatizações, como disse antes. Também eu sou um homem apaixonado. Tive azar, que o meu primeiro amor não resultou, ao contrário do menino Pedro, esse tem a sorte de sentir o mesmo tipo de amor, o privado por mais de 10 empresas diferente. Agora, o homem não tem poderes sobre-humanos, em 3 anos de mandato, não consegue conquistar tantas vendas diferentes.

Explique-se então o significado de privatização: “é a alienação de uma empresa, ou parte maioritária da própria, a uma entidade privada, por parte do Estado”. Normalmente o Estado possui empresas nos ramos de “interesse nacional” – como os serviços básicos de saúde, educação, segurança ou no setor energético e das telecomunicações, pois considera-se que estas empresas garantem estes serviços à disposição da população em geral. Obviamente, isto revela ao Estado um caderno de encargos que nem sempre pode ser positivo, o mais flagrante é estas empresas, como todas as outras, poderem dar prejuízo. Aquando da alçada do Estado, a questão dos prejuízos são refletidas no bolso dos contribuintes, e segundo o que se diz, para estas empresas também há interessados. Pergunto eu, mais uma vez com uma tonelada e meia de ironia: Então mas, algum empresário compraria uma empresa, sabendo que ela dá prejuízo? Claro que não, o que me leva a uma conclusão: é a gestão defeituosa, feita constantemente na maior parte das empresas do sector publico, que levou a esta necessidade urgente, da tomada de medidas drásticas. Porém, com a continuidade destas administrações, com salários que claramente não são reflexo do seu sucesso, custaria ao Estado ainda maiores encargos.

Não trago à discussão o papel do Estado na economia, não quero comparar a nossa realidade com a Holandesa e a Americana nem com outra qualquer. Na verdade, qualquer que seja o papel do Estado na economia, em termos teóricos é idílico. É com a nossa realidade que temos de lidar, e essa dita-nos o seguinte: não fosse empresas como a Caixa Geral de Depósitos, a Portugal Telecom, a Transportadora Aérea Portuguesa ou os Correios, Telégrafos e Telefones, Portugal seria um país mais desigual, onde às áreas mais remotas do país ainda não teria chegado a eletricidade ou a água canalizada. Dessa forma deixo uma alternativa: abram concursos públicos a novas administrações. Adotem a meritocracia na escolha dos cargos e deixem de pagar favores com lugares em empresas como as Estradas de Portugal, que sucessivamente vão-se enterrando em deficit.

Deixo-vos, por último, com Rui Veloso: “ai o que eu passei só por te amar/ a saliva que eu gastei para te mudar/ mas esse teu mundo era mais forte do que eu/ e nem com a força da música ele se moveu!”

Até um próximo encontro, deste que tanto vos preza, e até lá não empenhem algum anel de rubi, a TAP, depois da greve, já não vale o preço da pedra.

PS: Obviamente, mais ironia, numa tentativa de criar uma despedida saudosa, que vos deixe um sorriso na cara, e que me evite processos.