Nala, a cadela cronista

Au-au (Olá) leitores! Eu sou a Nala e tenho sete meses, ainda sou uma cadela bebé embora não aparente. Cheguei a esta família de doidos com pouco mais de dois meses, nessa altura era pequenina, com um focinho mimoso e olhar inocente, os meus donos não previam que eu ia me tornar uma valente peste, mas vamos deixar estas conclusões para o final desta crónica.

Enquanto a minha dona ronca no sofá (já fiz o teste da lambidela na cara e ela não acordou, por isso ela está mesmo a dormir profundamente e deve estar a sonhar com o não sei das quantas Tatum), eu aproveito para escrever esta crónica e desabafar um pouco com os leitores, o quanto a minha vida de canina é difícil.

Primeiro a minha alimentação é mais aborrecida que um discurso do Paulo Portas. Só como cereais, eu anseio por um delicioso bife cru, umas fatias finas de fiambre, um belo osso cheio de gordura para eu devorar, ou até mesmo um rato…podia passar agora mesmo aqui um rato, que eu chamava-lhe um figo! Os meus donos todos os dias me dão cereais para comer, porque dizem que estraga o pêlo, que me faz mal aos intestinos, bla bla bla, só paneleirices, e depois não querem que eu ande a roubar restos nos sacos do lixo (sim, eu espalho o lixo todo pelo chão da minha casa, e qual é o problema? Eu ainda sou bebé ) , não querem que eu abocanhe a comida que está na mesa, pronta para comer…ah…aquela bela posta de bacalhau, posta grossa às lascas, pronta para assar na brasa, que eu roubei da travessa que estava em cima do balcão, soube-me pela vida! E aquele bife temperado, pronto a grelhar, que eu roubei do grelhador que estava em cima do fogão, quando me lembro até uivo de felicidade, e o pão com manteiga que roubei da boca do fedelho mais novo, cinco estrelas!

Não entendo a atitude da minha dona, quando chega a casa é: minha menina linda! Tinhas saudades tinhas? Minha fofucha! Aperta-me o focinho e as orelhas e eu salto de tanto mimo. Passado uns minutos já se está a passar: Nalaaaaaaa! F… para a f… da p… da cadela, c…! Parte–me o coração canino! Eu só estraguei duas ou três coisas…furei o sofá que só foi comprado há dois anos, o cadeirão branco, as pernas das cadeiras e da mesa da sala estão ligeiramente roídas, estraguei três tapetes, lingerie da minha dona totalmente furada, toalhas de banho, panos da cozinha ídem aspas, pastas dos dentes, escovas dos dentes, chinelos, sapatos, cordões de umas sapatilhas, uns quantos brinquedos que vou apanhando no chão, desde carros, cartas, peluches e os meus preferidos bolas. Ah, e uns quantos vasos dos vizinhos…sinceramente não entendo a razão de tanto alarido da minha dona!!!

E os passeios? ah, adoro ir passear as patas! Ladro a toda a gente, não gosto de coleiras, só quero caminhar à beira dos fedelhos, jogar à bola, cheirar todos os postes e esquinas. A minha dona fica toda raivosa quando vou sair sozinha com o meu dono, é que ela sabe que as chavalas metem-se todas com o meu dono por minha causa! Ah pois é, bebés! Everbody loves me!

Um dia destes trouxeram um gatinho para casa, pequenino, todo remelado coitado, ai tadinho do gatinho, vou limpa-lo, dar-lhe de comer e devolve-lo à mãe, disse a tinhosa da minha dona. Fiquei louca com o gato, a minha dona também, estava receosa que eu chegasse à beira dele e fizesse dele palito para os meus belos e grandes dentes! Por vezes a minha dona é um bocadinho estúpida, dah…as fêmeas são instintivamente maternais! Quando ela me viu a lamber o gatito, a colocar o meu focinho gigante enroscado naquele ser minúsculo, ficou toda enternecida…se ela já me amava ainda ficou a amar-me mais!

Ela chama-me vaca louca, até entendo o adjectivo louca (ela ainda não se deu conta que está bem mais louca do que eu), mas não percebo o porquê do nome vaca se eu sou uma cadela! Não dá para entender estes humanos.

“Chegará o dia em que todo o homem conhecerá o intimo dos animais. Nesse dia, um crime contra um animal será considerado um crime contra a própria humanidade.”

Leonardo da Vinci