Não É Para Quem Quer, É Para Quem Pode – Carla Vieira

Toda a gente tem opiniões. Todos os seres humanos que já nasceram ou irão nascer têm opiniões acerca disto e daquilo. Eu, por exemplo, tenho opiniões acerca de quase tudo e raramente me ouvem a dizer que não tenho uma apreciação formada sobre qualquer coisa. Qualquer que seja o assunto, há sempre alguma coisa a dizer. Embora não seja muito fluente em politiquices, não concordo nada com quem diz que os eleitores que se abstêm não podem reclamar com o estado do país, por exemplo. Então mas porque não votam, deixam de ter boca para falar? Não é bem assim.

Uma das coisas que me incomoda acerca de opiniões é as celebridades não poderem expressar os seus pontos de vista em público. Todos nós já quisemos (e alguns de nós ainda temos o sonho bem vivo) ser celebridades, mas se não pudermos ter uma opinião concreta sobre assuntos importantes, de que valerá sermos conhecidos? Vale a pena ser o melhor actor do mundo se não se puder falar de religião, aborto, política, todos esses assuntos que são tão prementes na sociedade de hoje?

Não acho justo que haja censura das celebridades enquanto há por aí muito boa gente que cada vez mais fala daquilo que não conhece e diz coisas que não caberiam sequer ao menino Jesus. Quando um Zé Ninguém qualquer diz uma barbaridade tremenda, ninguém se opõe, mas quando uma estrela de cinema faz parte de uma manifestação, a primeira reacção é pô-la atrás das grades.

Dizem que vivemos numa época em que não há censura e todos podemos dizer aquilo que bem nos aprouver, mas se pisarmos os calos a alguém, vamos pagar bem caro por isso. Ora, eu aprecio a minha liberdade para falar e dizer coisas com quem muita gente não concorda, a verdade é essa. Até hoje nunca ninguém foi bem-sucedido a tentar calar as minhas palavras e quero que as coisas continuem assim, mas no entanto também quero fazer um nome para mim própria neste mundo. No entanto, se tiver de escolher entre poder falar à vontade e ser reconhecida na rua, acho que prefiro continuar no meu cantinho desconhecido à maior parte do mundo.

De que vale sermos reconhecidos se o preço a pagar for silêncio eterno acerca das coisas importantes da vida?


Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente