Não lembrava ao Diabo mas lembrou-me a mim! – Laura Paiva

Na passada semana fui ao centro da cidade do Porto mais concretamente à Cordoaria.

Tratado o assunto que ali me levou, havia que aproveitar o dia lindo que convidava a passear. A zona, inundada de alegres turistas munidos das suas câmaras fotográficas, oferece um grande número de locais de interesse. Um desses locais é de visita obrigatória – a Livraria Lello. Ao descer a Rua das Carmelitas, a sua fachada não passa despercebida fazendo jus ao seu interior – foi, muito justamente, considerada a terceira livraria mais bela do Mundo.

Decidi entrar para a mostrar ao meu filho.

Mesmo ao chegar à porta, prendi-me na cara triste de um turista que, além da sua câmara fotográfica, se fazia acompanhar de um cão no final de uma trela. É mais do que óbvio que a entrada lhes foi barrada e ele era a desilusão em forma de gente…

O que fiz a seguir não lembrava ao Diabo!

Mudei o dicionário para inglês, clareei a garganta e abordei-o – perguntei-lhe se ele queria que eu tomasse conta do seu cão enquanto ele visitava a livraria. Não mais esquecerei o olhar que recebi acompanhado de um “no… no… no” aflito, seguido de uma fuga rápida para o lado contrário da rua.

É claro que não! Quem no seu perfeito juízo confiaria a guarda do seu animal a uma perfeita desconhecida? Nem eu nem ninguém, claro!

No que eu me meto… sinceramente não sei o que me passou pela cabeça, ou melhor, sei-o muito bem!

Imagino que durante os próximos anos o pobre homem necessite de recorrer a ajuda médica para superar o trauma e os pesadelos com que acorda, todas as noites, a gritar “no… no… no…” num pânico sem igual seguido da necessidade de se assegurar que o seu cão está são e salvo, longe daquela mulher louca!

Se me colocar no lugar dele, julgo que sentiria o mesmo (ou pior), riscaria Portugal do mapa de destinos de férias e passaria a palavra a toda a gente. Talvez até criasse uma página no Facebook para alertar o Mundo dos perigos que Portugal representa para os turistas caninos.

 Senhor turista, perdoe-me!

 A minha intenção era honesta e sentida. Juro-lhe que ficaria, o tempo que fosse preciso e de bom grado, com o seu fiel amigo à porta da livraria sem nunca, mas mesmo nunca, me ocorrer raptá-lo, magoá-lo ou qualquer outra atrocidade que lhe tenha passado pela mente! Por favor não deixe que um acto tresloucado da minha parte identifique e marque as suas recordações de Portugal e volte… volte sempre e volte sem medo porque eu prometi, a mim mesma, nunca mais repetir semelhante estupidez sejam quais forem as circunstâncias.

Daqui a uns anos, passado o choque, quando tiver coragem e quiser contar esta história aos netos, diga-lhes que a louca se chamava Laura e que, desde esse dia, não mais foi vista nas imediações da Livraria Lello!


Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos