Não quero um filho homossexual!

” Se o meu filho fosse homossexual, seria um desgosto, deixaria de ser meu filho…podia entrar em minha casa, mas não vinha gajo nenhum com ele. Isso é uma doença, tem de ser tratada. Mas felizmente ele gosta de mulheres, porque já teve com algumas.”

Foram estas as palavras, mais ponto, menos virgula, mais erro, menos verdade, que eu ouvi esta semana numa conversa banal. Caramba, levei um murro no estômago, fiquei nervosa mas também estagnada porque não pude dizer o que pensava.

A sociedade não mudou,  as mentalidades retrogradas continuam, os  estigmas camuflados também. Nós erramos ao educar, nós erramos ao ensinar, quando as crianças começam a ter capacidades para absorverem o que os rodeia, especialmente o que o seu educando faz e diz. O que dizemos a uma menina de quatro anos? Então como se chama o teu namorado? Já deste um beijinho ao menino que tu gostas? O que dizemos a um menino de seis anos? Olha para aquela miúda, bonita não é? Então como se chama a miúda da escola que tu gostas? Assim, inocentemente, sem nos passar tal coisa pela cabeça já estamos a errar, porque as pessoas percebem desde tenra idade se gostam de pessoas do mesmo sexo ou se gostam de pessoas do sexo oposto, e tentarem lidar com isso sem perceberem o que significa, deve ser das coisas mais dolorosas pela qual um ser humano tem de passar, ao definir a sua personalidade.

Os meios de comunicação falham neste problema social, especialmente a televisão, os anúncios para venda de casa o que aparece no ecrã? Uma mulher e um homem. Publicidade a preservativos que imagem vemos? Um homem e uma mulher. Anúncios com bebes e crianças? Um homem e uma mulher, até nos anúncios publicitários de produtos para animais o que visualizamos? Um homem, uma mulher e um cão. Na Internet existe ainda um preconceito enorme, gay, paneleiro, rabicha, são sinónimos recorrentes nas redes sociais para negativar. A realidade é que não estamos preparados para  lidar com a homossexualidade exposta, se ver duas mulheres juntas é encarado de uma forma erótica, fazendo até parte das fantasias sexuais da maior parte dos homens, ver dois homens juntos já provoca reacções opostas.

Desde o dia seis de Junho de 2010 que é possível um casal gay casar em Portugal ( apenas pelo civil, porque a religião católica não aprova o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo, eu podia enumerar agora mesmo um numero infindável de regras que a igreja de Deus tem, que são no mínimo, hediondas , mas vou deixar para uma próxima oportunidade), mas, infelizmente, o mesmo casal que pode casar não tem permissão para adoptar crianças, Portugal é o único país em que não é permitido a adopção homo parental. E cá estamos nós, aprovamos uma lei, damos um passo em frente  e dois para trás. É preferível ter crianças institucionalizadas do que a viverem num lar cheio de amor.

Como consequência da sociedade intolerante e discriminatória, muitos casamentos vivem de fachada, filhos que se criam sem amor, adolescentes que se tornam vitimas, mulheres que se sentem infelizes e muitos homens vivem uma vida dupla. Ao contrario do que aquela mãe afirma, o filho pode ser homossexual e estar com mulheres, e porquê este comportamento? Exactamente por existir pessoas como ela! A homossexualidade não é uma doença, como essa senhora e alguns médicos afirmam, a homofobia é que é uma doença, de foro mental e social.

Para finalizar, escrevo como mãe. Não consigo saber ou perceber com criaturas ainda tão pequenas, se eles gostam de meninas ou meninos, e também não é assunto que me tire o sono, porque honestamente não me interessa. Não vou incutir aos meus filhos nenhum tipo de más ideias ou preconceitos, quero que eles tenham a mente livre e sejam crianças bem informadas, para que se tornem adolescentes tão seguros de si que não tenham qualquer problema em fazer as suas escolhas e tomarem decisões. Quero que as minhas crias sejam, futuramente, adultos felizes, com um homem ou uma mulher a seu lado.

“Ninguém nasce homofóbico”