Não sejam maus para ela

Muito se falou da Dora vestir a farda do Mc Donald`s, de tirar Mcflurrys de Oreo e de sorrir como se servisse apenas Happy Meals. Houve quem se não acreditasse na notícia do Correio da Manhã, quem soltasse uma gargalhada de «mal-dizer», mas também houve quem tivesse humildade suficiente para perceber que não há vergonha em trabalhar, e que conseguir um salário dignamente nem deveria de ser motivo de notícia (ou se calhar devia).

Desengane-se quem pensa que vida de artista é um verdadeiro filme de princesas; é um verdadeiro filme de ação com comédia, amor e tragédia à mistura. Eles não são intocáveis, não são mais nem menos do que a empregada do supermercado de Rebordosa, eles também pagam contas, também comem, também ficam sem trabalho, também choram. Estranho, não é?

Acredito que o «caso» da Dora possa ter despertado a atenção para um problema que passa ao lado de muitos, a cultura em Portugal. Os cantores não vivem de Somos Portugal, nem de Portugal em Festa; os atores não vivem da ficção nacional; e o cinema não vive dos portugueses, parece-me normal que eles tenham que fazer outras coisas para conseguirem ter uma vida.

Falou-se da Dora mas ela não é a única. São muitos os que estão a trabalhar em cafés, lojas de roupas e outros trabalhos que não incluem autógrafos e sorrisos para as câmaras; e são muitos que entre uma novela, uma peça de teatro, um concerto, tiram a maquilhagem, arregaçam as mangas e vão à luta, sem vergonha e humildade. E nós só temos que pedir um Happy Meal, um autógrafo e um «Quando é que posso ver um concerto seu outra vez? Gostava muito de a rever no palco!».

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!