O NÃO que foi o Sim de que a Europa tanto precisa

A vitória do NÃO no referendo do passado domingo foi esmagadora, mas não surpreendeu. Inesperada talvez foi a demissão de Varoufakis da pasta das Finanças, alegadamente devido a um pedido de Tsipras que entendia ver o seu colega numa posição difícil perante os 18 colegas do Eurogrupo. Quem sabe se Varoufakis não defendia o Sim? Será que a próxima proposta de acordo incluirá ainda mais austeridade, e por isso mesmo não terá Varoufakis decidido sair?

Verdade seja dita, as alíneas de um novo projecto de acordo entre Grécia e credores estão a ser esboçadas pelo novo chefe da pasta das Finanças Tsakalotos, com a mediação de tecnocratas franceses. A restruturação da dívida é um dos pontos mais sensíveis a negociar, mas fica para já a ideia de que será necessário à Grécia cortar 12 mil milhões de euros em despesa pública (mais 3 mil milhões do que a proposta do Sim que foi a referendo), para que possa receber 50 mil milhões de euros ao longo de 3 anos. Esta foi a verba pedida por Tsipras, asseguradas que estão as verbas do BCE para necessidades de tesouraria mais urgentes.

A Grécia foi altamente fustigada nos últimos 5 anos pela perda de 25% do PIB e de 47 mil milhões de euros de cortes orçamentais. Os dois terços de votantes que recusaram mais austeridade poderão não aceitar outro pacote do mesmo género. Se Juncker já disse que o Eurogrupo está mesmo preparado para a saída da Grécia da zona euro, não menos preparada estará Atenas. Tsipras contará certamente com o apoio da Rússia e da China para que o berço da Democracia se financie, no sentido de lançar uma nova moeda corrente (ou mesmo de adoptar o rublo russo, por exemplo).

Só a cimeira do Eurogrupo que terá lugar em Bruxelas, neste Domingo, é que dirá um pouco mais. Eu sou europeísta, e defendo que a Grécia deve ficar na zona euro, contando com ajuda dos parceiros europeus. Serão muito maiores os custos de um abandono da zona euro por parte da Grécia, o chamado Grexit, do que os restantes 18 países aceitarem mais um perdão de dívida e suavização de cortes em despesa pública. Tsipras já tem o seu projecto de crescimento para a Grécia a dar resultados, com o aumento exponencial do turismo. A Comissão Europeia deve ajudar Atenas a ultrapassar algumas dificuldades, e entender o Estado Grego como sendo uma pessoa de Bem. E assim tudo correrá pelo melhor.