Quem não te respeita, não te merece.

Se vieram a pensar que este é mais um texto sobre o Dia da Mulher, com especial incidência para a violência doméstica, tal o teor do título, desenganem-se. Ou desiludam-se, se forem pessoas que adoram textos moralistas em alturas específicas do ano. Esta crónica, incidirá na desvalorização, cada vez maior, dos clubes ditos “grandes”, pela Taça de Portugal. O desdém tido, o sacrifício feito para ter vontade de jogar e a constante minimização da mesma, são algumas das razões que levam a que esta mítica – e enorme! – competição esteja a ser vulgarizada.

Uma das maiores e mais míticas competições do desporto português, está a ser negligenciada. De ano para ano, de época para época, a Taça de Portugal tem vindo a perder importância, ou pelo menos, é assim que os clubes “grandes” querem que aconteça. Até se estar na final e se ganhar a dita competição, muitas vezes salvando a época, a Taça não conta para nada. É apenas uma forma de rodar jogadores, fazer uma pausa no campeonato ou simplesmente ganhar uns “míseros” cobres com as receitas. Esta forma de pensar tem-se vindo a perpetuar ao longo do tempo. F.C.Porto, Benfica e Sporting, têm vindo a contribuir para que os mais novos percam a magia do Jamor, a festa da Taça.

Este tipo de atitude desdenhosa e sobranceira, só prova que as rivalidades “tripolarizadas” estão fechadas no campeonato. A cegueira pelo título nacional faz com que não se respeite o futebol, as competições sagradas ou os troféus centenários. Chegámos ao cúmulo, de um treinador de um clube que não ganha um troféu desde 2008, vir a público retirar peso e importância à Taça de Portugal. Isto, ainda estando em competição. Seria para rir, caso não fosse tão triste. É exactamente por culpa desta mentalidade, à qual nem o Porto, nem o Benfica, são alheios, que se está a perder a mística. Valorizar depois de a ganhar não vale a pena. Desvalorizar quando se perde ainda menos. Menosprezar enquanto ainda se está em prova, é só entrar no ridículo. Não é esse o respeito que uma competição secular merece. Não é esse o respeito que todas as equipas – que são muitas – , que nela participam merecem. Não é esse o respeito que os adeptos do verdadeiro futebol merecem.

Em que outra competição se vê o incrível, o inacreditável, o pouco espectável, o utópico, o insano, a acontecer? Em que outra competição temos os adeptos a unirem-se junto à equipa da sua terra? Em que outra competição temos equipas da 2ªB a imporem-se a equipas da Primeira Liga? Em nenhuma. Toda a história da Taça de Portugal se escreveu com equipas como o Campomaiorense, o Estrela da Amadora, o Covilhã, o Torreense, o Atlético, o Barreirense, o Carcavelinhos, tudo equipas que chegaram à final da Taça quando ninguém o esperava. Equipas de divisões inferiores, ou mesmo da Primeira Liga mas com poucas aspirações, que chegaram ao topo, que venceram quem não se esperava, que superaram quaisquer expectativas e tiveram a alegria de poder sonhar levantar um troféu. Porque não recordar a história do Leixões? A única equipa da 2ªB a chegar à final da Taça de Portugal. Venceram tudo e todos até à final e na final, vincaram o pé a um todo poderoso Sporting. De sonho. O palco, esse, foi sempre o mesmo: o Jamor. O estádio da emoção, dos adeptos unidos, felizes e vibrantes; o estádio da sardinha assada, da febra e do courato; o estádio das amizades de longa data, do convívio, do abraço bi-clubista. Esse mesmo Jamor que agora é só mais um local velho e ultrapassado, dizem eles. Esse Jamor de tanta história, que hoje não passa de um local onde os “grandes” festejam para manter as aparências. Onde festejam com toda a hipocrisia adjacente. Onde vão matando, a cada ano, a festa do futebol.

Por tudo isto, a Taça de Portugal tem de viver. Tem de ser respeitada, acarinhada, valorizada. Tem de ser vista como um troféu de importância extrema, tal como ele é. A competição tem de ser encarada com a seriedade que merece, tem de ser vivida com a emoção que lhe é intrínseca. As tão “famosas” surpresas da Taça, não podem ser vistas como “estávamos a rodar jogadores porque não nos preocupamos com esta competição e acabámos por perder”, não. As surpresas da Taça são parte dela, são o seu sangue, a sua linhagem. É preciso parar com os treinadores que desvalorizam tão belo e clássico troféu. É preciso que os miúdos de hoje ouçam as histórias, aprendam a vibrar e mais do que isso, sonhem com uma ida ao Jamor. Querida Taça de Portugal, quem não te respeita, não te merece.