Nelson Antunes – Vítima de Bullyng – A culpa que é de todos nós!

É com profundo pesar que escrevo hoje esta crónica. Estou completamente arrasada com a noticia desta semana sobre o Nelson Antunes. Sabem quem é o Nelson Antunes? Nelson é um entre os muitos jovens e crianças que sofrem de bullying neste país.

 Nelson tinha 15 anos quando no passado Sábado, à noite, suicidou-se, enforcando-se num pinheiro perto de casa, deixando duas cartas dirigidas à mãe e à namorada respectivamente. É nesta palavra que levamos uma espécie de murro no estômago, uma paulada bem forte no coração. Como é que é possível um jovem com 15 anos pôr termo à sua vida? Como é que possível este tremendo sofrimento ter passado despercebido aos pais, professores, colegas?

Eu nunca sofri de bullying na minha infância e adolescência, há 20 anos atrás não se usava este termo, mas os maus tratos a colegas na escola já existiam. Mas tenho um filho que estuda na escola primaria, na segunda classe, e sei o que se passa actualmente, mesmo nas escolas primarias. Há uma coisa que eu tenho sempre bem presente na minha cabeça: as crianças e jovens são cruéis, com seis, sete, oito anos já sabem distinguir o certo do errado, já gozam com os colegas, chamam-lhes nomes, perseguem-os no recreio, obrigam-lhes a dar o lanche, entre outras coisas, não se pasmem leitores, é esta a realidade das escolas do nosso país.

Nelson sofria de bullying há já algum tempo, humilhações severas ao ponto de o colocarem em cuecas em pleno recreio, e darem-lhe palmadas no rabo. Nelson vestiu-se e regressou à sala de aula sem protestar, sem lutar, sem dizer nada, completamente resignado. Conseguem sentir o sofrimento deste miúdo? Não há palavras que consigam descrever a minha angustia ao imaginar uma situação destas!

Agora que a tragédia aconteceu, apuram-se responsabilidades! Eu diria, tremenda falta de responsabilidade por parte de todos os intervenientes! Primeiro, não houve um colega, um amigo, algum chavalo da escola que o ajudasse quando estas humilhações aconteciam? Não havia uma alma que o defendesse? São estes jovens que, desculpem a expressão grotesca, cagaram completamente para o colega, são estes os jovens que serão os nossos futuros ministros, médicos e professores!!! Os pais destes jovens sabiam desta situação e nada fizeram, nem uma denuncia, nem uma reunião, porquê? Porque não era o vosso filho? Que falta de humanidade! Tenham vergonha na cara!

As auxiliares afinal que papel representam na escola? Não dêem a desculpa do costume, o Governo fez cortes na Educação e há poucas auxiliares para tantas crianças, tretas, só tretas, conversem menos nos cantos dos recreios, estejam mais atentas, sejam mais activas com os alunos, imagino que daqui a uns anos não haverá auxiliares mas sim policias de arma a punho nos recreios. Os professores, agora mais do que nunca devem desempenhar também o papel de aconselhadores, sendo uma elite tão respeitada, podiam ter rapidamente colocado um ponto final neste problema. E o psicólogo da Escola que acompanhava este aluno, também não deu conta de nenhum sinal de alarme? A direcção da Escola desvalorizou a situação afirmando que eram brincadeiras de crianças. Senhor Director da Escola EB 2.3 de Palmeira, se fosse o seu filho com certeza teria tomado uma atitude! Se todos fizessem o seu trabalho como deve de ser feito, situações lamentáveis destas não aconteceriam.

Até o pároco daquele concelho sabia que o jovem sofria de maus tratos por parte dos colegas! Só podem estar a gozar! Afinal toda a gente sabia mas optaram por não fazer nada, cada um na sua vida, quem está ao meu lado que se lixe! Como é que é possível uma merda destas?

E por ultimo os pais deste jovem. E aqui sim, a discussão é mais sensível. Afinal os pais têm culpa ou não? Poderiam ter evitado o suicídio do próprio filho? Como? Estamos numa era, infelizmente, em que o emprego, os  horários exigidos aos trabalhadores, os cortes, o dinheiro que é sempre pouco, as despesas que são sempre muitas, famílias desintegradas porque os pais têm de emigrar para sustentar os filhos, ocupam-nos de tal forma o pensamento, o dia-a-dia, a nossa vontade e paciência, que deixamos de ter tempo de qualidade para os nossos filhos. Tantos livros escritos, tantos workshops, palestras, filmes sobre como educa-los, mas a verdade é que não sabemos como o fazer.

É essencial o contacto diário com os nossos filhos, o dialogo diário, saber como correu a escola, o que comeram, o que fizeram, se aconteceu alguma coisa de especial no recreio, todas estas perguntas são necessárias. Actividades em conjunto sempre que possível, ajudar a estudar, acompanhar bem de perto os estudos, as actividades escolares, as amizades, colocar a criança/ jovem numa actividade desportiva e/ou lúdica, e duas coisas fundamentais: grandes doses de carinho e amor, uma criança amada não se sente sozinha, e sempre positivismo nas palavras e atitudes, uma criança segura de si mesma defende-se dos outros e faz sempre queixa a alguém.

E no funeral do Nelson Antunes juntaram-se centenas de pessoas…enquanto o jovem estava vivo e precisava de ajuda ninguém se importou, o jovem faleceu juntaram-se todos! Uma salva de palmas para este povinho de merda! Desculpem a minha revolta nestas palavras mas não consigo ser razoável quando me deparo com isto!

Podia ser o seu filho…de quem é a culpa? A culpa é de todos nós!

 

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense