Uma Nêspera no Coliseu – Reportagem do Primeiro Espetáculo

O texto que se segue pode ferir as pessoas mais sensíveis. Por isso, esta crónica tem bolinha vermelha, logo se se ofender com as palavras ou frases que podem seguir, pedimos desde já desculpa.

Se é fã dos humoristas Bruno Nogueira e Nuno Markl, ou da música e livros escritos por Filipe Melo, é possível que conheça e até goste do podcast “Uma Nêspera no Cu”. O conceito é muito simples, fazer dilemas do estilo “preferias” mas com uma linguagem um pouco picante, digamos assim.

image2Mas passemos ao que importa, que é falar-lhe do que ocorreu ontem, dia 15 de Setembro, no Coliseu de Lisboa, quando Bruno Nogueira, Filipe Melo e Nuno Markl, subiram ao palco para fazer os presentes na plateia rir até ficar sem ar. E foi exactamente isso que aconteceu. Pelo menos a mim. Acho que nunca me tinha rido tanto num espetáculo de humor, ou sequer na minha vida. É que durante cerca de 2 horas, os dilemas, os convidados e os momentos musicais todos. A nêspera, como os fãs carinhosamente lhe chamam, foi tudo aquilo que eu esperava: Hilariante e Imprevisível. E acho que não podia pedir mais. É exactamente isto que um fã pode pedir. Isto e que não deixem a nêspera acabar, nem que seja daqui a 5 anos, voltarem com coisas diferentes, mas mesmo assim hilariantes.

O espetáculo da nêspera começou com alguns minutos de atraso, mas também se deve ao facto de à hora prevista para o início ainda estavam pessoas a entrar nos Coliseus. Mas quando a nêspera começou foi sempre a subir o nível de comédia. Com Markl a anunciar que o espetáculo iria conter linguagem que podia ferir as pessoas mais sensíveis, um pouco ao jeito do que eu fiz no início da minha crónica. Depois vieram as palavras que poderiam ferir as pessoas ditas por Bruno Nogueira, como foi feito num episódio do nêspera, por exemplo. Entre essas palavras, uma destacou-se de todas as outras. A palavra foi …. “Estarreja”. Exacto, caro/a leitor/a, aquela localidade perto de Aveiro, foi a “vítima” no meio de tanta palavra mais forte dita.

Mas é por isto que todos gostamos da nêspera, bom por isto e pelos dilemas absolutamente maravilhosos, que foram logo para cima da mesa mal os protagonistas entraram. E não foram nada meigos, antes pelo contrário. Começaram cheios de força, com dilemas que nos deixaram a todos a ponderar qual das hipóteses escolheríamos. Eram de factodilemas complicados, nenhum deles punha os envolvidos em situações agradáveis, mas dava para o público não parar de rir durante um segundo, e no fundo, é isso que se pede num espetáculo de comédia.

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Após terem entrado a todo o gás, pararam por uns segundos para apresentarem a primeira surpresa da noite, mas ainda não era um convidado. Esta surpresa era David Fonseca, mas não vinha, para surpresa de todos os presentes, nem para participar nos dilemas, nem para fazer aquilo que faz melhor, ou seja, tocar e cantar. Vinha isso sim, para ser “achincalhado” de forma fofinha pelos amigos. Um pouco de nonsense no meio de um espetáculo que, já por si é feito de nonsense puro e duro. Após este momento, uma paragem para vermos umas imagens, que eram, no mínimo, muito estranhas. Digamos que pareciam saídas de um sonho de alguém que tinha fumado substâncias psicotrópicas, ou seja, perfeitamente normais para a mente dos autores da nêspera.

Depois deste momento de imagens muito estranhas, que não eram da autoria do ilustrador da nêspera, o enorme João Pombeiro, que tem de ilustrar aquilo que as mentes doidas e poluídas (no bom sentido) dos autores da nêspera pensam, vieram finalmente os convidados. E o primeiro convidado, ou neste caso convidada, foi Cristina Ferreira. Sim, essa mesmo. A apresentadora da TVI. A presença da apresentadora foi para muitos, no qual eu me incluo, surpreendente. Não a via a estar presente numa coisa tão doida como o espetáculo d’Uma Nêspera no Cu, mas o que é facto é que ela participou e alinhou nos dilemas estrambólicos e preparou também o dela. E apesar de temer o pior, a verdade é que foi muito bom. Melhor do que aquilo que eu poderia achar de bom que, Cristina Ferreira poderia vir a fazer. E por isso, tiro o meu chapéu aos autores e à convidada.

Seguiram-se mais uns dilemas, cada vez mais difíceis de escolher a opção menos má, digamos assim. É que era muito difícil escolher fosse o que fosse.

Posteriormente, veio o segundo convidado. E este seria apenas conhecido de quem fosse seguidor assíduo do podcast. Refiro-me ao convidado do primeiro episódio da segunda, e até ver última, temporada da nêspera. Este episódio de seu nome “Uma Nêspera no Cu Kids”, teve como convidado uma criança de 11 anos, de seu nome Bernardo. E mais uma vez, o dilema foi esplêndido. Deixo aqui o dilema para que o/a caro/a leitor/a possa decidir por si próprio: “Estão num lago a afogar-se duas pessoas, a vossa mãe e a Scarlett Johansson. Qual é que salvavam, sabendo que tinham de ter relações sexuais [não foi esta a palavra usada, mas acho que percebe qual foi] com a que escolhessem salvar?”. Um dilema mais complicado, provavelmente, para os fãs do sexo masculino. Posso dizer-lhe que os autores da nêspera não tiveram facilidade em escolher, ponderando tudo muito bem. Mas a melhor parte da participação deste segundo convidado foi quando Bruno Nogueira lhe perguntou o que escolheria, ao que ele lhe respondeu qualquer coisa como “fosse qual fosse a opção acho que iriam presos por pedofilia”. Esta resposta foi o que motivou provavelmente um dos maiores risos da noite.

Mais um dilema sem convidados seguiu-se, para vir posteriormente aquele que foi para mim, o melhor convidado da noite: Miguel Guilherme. O actor e apresentador de um dos projectos mais loucos da televisão portuguesa, o “Último a Sair”, voltou a juntar-se a Bruno Nogueira num projecto de comédia. Miguel Guilherme é uma das personalidades mais respeitadas no nosso país e mais uma vez, participa em projectos loucos sem medo do ridículo ou de que possa vir a ser desrespeitado, isso por si só é de louvar. O actor deu um dos dilemas mais complicados da noite, que embora não me lembre de todo posso adiantar que envolvia pêlos do rabo, unhas dos dedos mindinhos das mãos e alisar e entrançar os mesmos. Dito assim sei que pode parecer nojento, mas dito pelo actor garanto que tinha piada, sobretudo pelo facto de estar envolvido no contexto do dilema.

Seguiu-se aquele que é provavelmente o melhor jogo de sempre: O Azar do Caralho. Caso não conheça eu passo a explicar: o jogo consiste em pegar no telefone de um dos participantes (é preciso no mínimo dois jogadores) e fazer um scroll nos contactos, de cima para baixo, ou de baixo para cima até o dono desse telefone dizer stop. Após isto diz-se o nome do contacto e o dono do telefone tem de ligar para essa pessoa e dizer uma palavra escolhida pelos jogadores que não são o dono do telefone, sendo que não podem ser nem palavrões, nem insultos. Convém, no entanto, que sejam palavras fora do comum de uma conversa normal. O dono do telefone pode, apesar disto tudo, escolher não ligar, contudo tem de pagar um valor (alto, de preferência), que será sorteado no fim para saber quem fica com esse mesmo valor.

Regras entendidas? Então vai gostar de saber que o último convidado participou no jogo e conseguiu ainda arrancar poderosas gargalhadas devido às palavras que tinha de usar. Quem teve muita sorte foi Bruno Nogueira, que numa das vezes calhou ligar para Nuno Markl. E o mais azarado foi, de facto, Nuno Markl. É que para além de ter calhado ligar para Cláudia Semedo, (que se encontrava, notoriamente, a dormir dado o estado avançado da hora) e calhou ainda ter de telefonar à ex-sogra, coisa que deixou todos os presentes na sala expectantes para o que iria acontecer, sendo que o telefone estava desligado, levando a que Nuno Markl tivesse ido fazer uma dança da vitória, coisa que Bruno Nogueira tinha feito anteriormente por motivos semelhantes, quando teve de ligar para uma pessoa com quem não falava há anos.

No entanto, o espetáculo não acabou com o jogo, mas sim com uma actuação musical. A segunda actuação musical da Nêspera ficou ao cargo de um dos visados em piadas e dilemas. Refiro-me a Armando Gama, que apareceu para cantar e tocar ao piano a sua música mais famosa, “Esta Balada que te Dou”. A música que este convidado dedicou, em tempos, à sua mulher na altura, Valentina Torres.

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No geral, posso dizer que adorei o espetáculo. Foi, sem dúvida, o melhor espetáculo de comédia que já vi e fez-me rir do primeiro ao último minuto. Acho que é a melhor coisa que se pode pedir a um espetáculo deste tipo. Tenho pena que tenha sido numa sala com uma capacidade tão limitada, tendo em conta o número de fãs que existem. Mas, provavelmente, não teria sido tão intimista, dado o facto de terem uma sala tão cheia num espetáculo cujo conceito é, basicamente, criar dilemas dementes e saber qual a preferência de três pessoas conhecidas do público. Sendo que toda esta gigantesca adesão surgiu de um programa feito em podcast, mostrando assim a dimensão, cada vez maior, que a internet tem conseguido obter.

Se tiver oportunidade não deixe de ouvir os episódios, que estão disponíveis tanto em podcast como no youtube. E gostaria muito que os autores pudessem gravar (apesar de duvidar que isso esteja a ser feito) e editar em DVD, pelo menos um espetáculo.