No banco das Urgências – Maria João Costa

Quando estiverem com pouca vontade de trabalhar, com vontade de ligar ao chefe a tossir e com aquela voz do faz de conta que está doente, lembrem-se que podiam estar mesmo doentes com um free pass para as urgências. E pior do que combater a preguiça matinal, é perder uma tarde sentada num banco de plástico, com uma pulseira no pulso e com frasquinhos de “xixi” a centímetros de distância. É melhor ir trabalhar, até porque o horário é apenas de oito horas, e aqueles bancos amarelos aguentam para lá das dez horas seguidas … o que pode não aguentar muito são os glúteos de quem espera e desespera.

Há de tudo, há os doentes que não estão doentes e só estão lá a ocupar espaço; há os que já são da casa, que os médicos já reconhecem pelos sintomas; há os que pedem soro depois de um lanche reforçado no bar; há os que enchem frascos de “xixi” como se de água se tratasse; há os que querem atenção das enfermeiras, enquanto o médico passa mais uma receita de Benuron. As enfermeiras tentam. Elas mostram paixão pelo que fazem, cuidam, e não tiram os olhos de quem realmente precisa delas. Os médicos, há os que desfilam nos corredores há procura de qualquer coisa que nem eles sabem muito bem o que é; mas também há quem recuse chamar pelo doente no microfone, como se de um empregado de limpeza do Pingo Doce se tratasse, procura o doente, e leva-o para a sala improvisada com toda a dedicação e motivação de um verdadeiro senhor de bata branca.

As horas passam, os doentes ficam impacientes, querem ir embora com uma solução para a dor, mas essa hora demora a chegar. Mesmo assim, nada justifica os insultos a quem trabalha, a quem faz de tudo para os socorrer, a quem é funcionário público, não por desporto, mas por amor à profissão!

 

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!