No vazio das redes sociais

     Sou do tempo em que os primeiros acessos à internet se faziam através da linha telefónica, à velocidade alucinante de alguns Kbps e não se podia estar muito tempo a navegar (a passo de caracol) porque a linha ficava ocupada, logo o telefone não funcionava.

     Em poucos anos evoluímos, tecnologicamente falando, de uma forma extraordinária. Porém, quando relembro o passado e olho para o dia de hoje, não consigo ficar indiferente a este novo mundo da internet e das redes sociais…fico apavorada quando penso no amanhã. Senão vejamos…

     Um grupo de amigos convive com o telemóvel na mão. Pouco conversam ou se olham, têm as cabeças inclinadas para baixo…estarão a dormir? Não, espera! O dedo está a mexer…para cima, para baixo. Já não se assistem a concertos como antigamente, agora a prioridade é fotografar ou filmar o evento. Depois, partilha-se uma foto e voilà, está tudo pronto a ser arrumado e nunca mais visto, já mostrámos que temos uma vida interessante.

     Mas há muitas mais coisas que me assustam. Fico perturbada quando vejo notícias de adolescentes em situação de perigo que, em vez de chamarem o 112 ou a polícia, partilham no Facebook; que as selfies matam mais do que os ataques de tubarões. Receber um “Like” tornou-se, de repente, a coisa mais importante na vida das pessoas.

     Eu, como sou meio autista, ligo tanto aos “Likes” do meu Facebook que estive um mês a partilhar coisas comigo mesma, e nem reparei… Só dei por ela porque uma amiga comentou que há muito que não via nada meu, por isso fui investigar, pois havia partilhado algumas notícias que achei interessantes e fotografias dos meus cães (acho que a minha conta é mais deles do que minha). Estranhei não ter “Likes” e comentários? Sim, estranhei porque tenho duas pessoas dedicadas, assíduas e atentas que comentam quase sempre o que publico mas…ainda assim não fui investigar essa ausência. Percebi depois que tinha alterado tudo para privado…eu sei…croma!

     Há também coisas que me ativam a urticária. Por exemplo, quando uma pessoa publica uma mensagem angustiante porque alguém próximo faleceu, ou um apelo de ajuda e 5 minutos depois publica uma anedota ou uma pergunta tipo “Onde posso comprar um cabo para o meu iPhone?” Estamos assim tão indiferentes?

     Este outro exemplo devia ser clinicamente estudado…aqueles concursos de selfies com pessoas falecidas…a sério! O que se passa com o ser humano? Além de mostrar uma total incapacidade de sentir dor pela perda de alguém, é um desrespeito. É simplesmente macabro! O que me dá calafrios são as expressões dos autores da selfies, ou a sorrir ou com uma cara de “snif snif” completamente isenta de sentimento…é no mínimo perturbador.

     Temos também a vertente deprimente, como estes tesouros nas fotos abaixo. Em cada uma das fotos estão comentários como “Ai, danada da minha namorada, apanhou-me a dormir!” e reforçam ainda que sim, têm namorada e que ela é bem real (nada pessoal contra o sexo masculino, o mulherio faz exatamente a mesma coisa). Podia rir-me ao ver isto mas…acho tão triste, dá-me pena, a sério (mas ainda assim, acho a ginástica fabulosa). Prova que estamos tão sozinhos, tão desejosos dos nossos “Likes” e comentários, de sermos virtualmente aceites e reconhecidos, sedentos de atenção. Entristece-me profundamente. As figuras que se fazem…e o porquê.

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     Por fim, temos a imensidão de sites da internet sem a mínima qualidade, que noticiam erradamente, com erros ortográficos colossais (não, nem estou a considerar o novo acordo ortográfico) ou até mesmo aqueles sites cor-de-rosa que fazem “notícias” Fulana “X” já não tem o mesmo corte de cabelo ou Famoso “Y” dorme com os cães, ou grande maluca “Z” fez topless na praia…Este mercado é como uma fábrica de encher chouriços, sendo que os verdadeiros chouriços ao menos têm conteúdo e ficam maravilhosos no caldo verde.

     O leitor pode até pensar “Olha-me esta chica esperta! Vem para aqui arrotar postas de pescada, reclama, mas a ver se não sabe os pormenores todos!” Claro que sei! Não fosse eu apaixonada pelo comportamento humano e principalmente pelos seus desvios! Mas leio, pesquiso e vejo, porque me faz pensar como será daqui a uns anos. O que será de nós?

     Uso redes sociais e internet? Claro, não sou hipócrita para dizer que não as uso. É uma forma excelente de encurtar distâncias e falar com a outra ponta do mundo. Uso-as para manter contacto com amigos e família que estão longe, partilho coisas que julgo de interesse (como por exemplo, as minhas crónicas no Mais Opinião), e publico muitas fotos dos meus cães. Com as redes sociais consegui encontrar imensos colegas e amigos de infância, o que acho fantástico. A internet também a uso. É uma fonte de informação (e desinformação) bastante útil quando se precisa e gosto de estar a par das atualidades mundiais (vou abster-me de mencionar os comentários e “ataques” gratuitos, cruéis e maldosos que facilmente se encontram publicados). Uso-as sim, mas não dependo de nenhuma delas.

     O que me atormenta é o facto de parecer cada vez mais que a nossa vida cá fora se vai perdendo, que vamos perdendo o contacto humano, o toque, o cheiro, a conversa de café, o convívio. Sim, eu sei, andamos todos a mil mas ainda existem alternativas, muitas até tecnológicas…bolas! Até já existem tarifas para se conversar horas sem pagar um tostão (eu não gosto muito de falar ao telefone…muitos anos de call center).

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     E pronto…já fiz uso da tecnologia, da forma que acho saudável. Até para a semana!