Noites de séries – Maria João Costa

Se não vês séries estás «Out»! Não fazes parte do mundo, nem dos grupos que frequentam os cafés de sábado à noite. Já ninguém fala mal de ninguém, a vida dos outros perdeu o interesse, e as mulheres que o digam. Falar das outras já não tem conteúdo (se é que alguma vez o teve). Já ninguém quer sair depois da meia-noite, já ninguém se preocupa com o que traz vestido, e já ninguém repara se temos máscara de pestanas, ou se não temos nada a não ser a pestana. Pelo menos o meu grupo de amigas não repara.

Não sei se é da idade (isto depois dos 23 fica difícil), ou se é mesmo a falta de vontade ou frio que se começa a sentir, mas já não «estamos para aí viradas», o que está a dar é trocar ideias intelectuais sobre séries, e o problema é que eu «não estou para aí virada». Não vejo, não sei, não percebo, e tenho inveja de quem vê.

Já lhes expliquei que faço zapping e que apanho Modern Family, Foi Assim que Aconteceu, Hawai Força Especial, e elas dizem logo que eu tenho que ver séries «a sério»: Walking Dead, Breaking Bad, Dexter, Suits, e mais não sei quantas que eu perco a conta. Elas, que percebem de séries, dizem que ver um episódio quando se apanha na TV não vale, é batota. Eu faço muita batota.

Fico contente quando vejo que elas se dedicam a pensar na melhor «receita» de séries para uma pessoa que nunca viu uma do princípio ao fim, eu; e a meio da conversa esse «eu» já não está incluído. Às tantas, já elas estão a discutir o porquê de uma personagem ter morrido ou sobrevivido, e eu volto a fazer zapping na minha cabeça.

Tenho que me dedicar, sinto essa necessidade; tenho que me dedicar às séries para ficar «In» na próxima vez que estiver com elas, as minhas amigas intelectuais. Tenho orgulho nelas.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!