Nuclear Espanhol: risco real em Portugal!

Esta semana, e porque durante a mesma estará em cima da “mesa” na Assembleia da República esta matéria, falarei resumidamente da Central Nuclear de Almaraz, uma das sete existentes em Espanha e do perigo que oferecem a Portugal que, e bem, a meu ver, não tem nenhuma.

A central nuclear espanhola mais próxima de Portugal é a de Almaraz, situada junto ao Rio Tejo e refrigerada pelas suas águas, dista 100 km da fronteira portuguesa, situando-se junto aos distritos de Castelo Branco e Portalegre.

“Azar” ou não, esta é precisamente a Central que apresenta agora, de acordo com informações reveladas há uns dias atrás, “problemas de manutenção e funcionamento” no sistema de arrefecimento, apresentando aparentemente sérias dificuldades de operacionalidade em segurança. Esta central deveria ter terminado atividade em 2010, mas a sua “vida” foi prolongada até 2020. Ao que parece esta velha central, está obsoleta, tendo aliás chumbado num dos testes de resistência realizados durante o ano passado por intervenção da Greenpeace.

Há na verdade um perigo muito razoável de existir um acidente grave com esta central nuclear, ditavam os testes anteriores, confirmam agora os novos dados revelados de falhas no sistema de arrefecimento.

Sem alarmismo mas com responsabilidade e em consciência, analisemos resumidamente o que aqui está em causa, começando pelos factos anteriores, e que quanto a mim já determinavam uma ação por parte do nosso governo, uma vez que o país se encontra em risco:

A central nuclear de Almaraz, funciona desde o começo da década de 1980, sendo a proposta de desativação para 2020.

Em Julho de 2015, soaram os avisos da Greenpeace e da Quercus, quando esta central chumbou no teste de resistência pedido pela própria organização internacional Greenpeace.

Não houve no entanto qualquer intervenção ou pedido de intervenção por parte do governo português na altura, mostrando-se o mesmo confiante de que “nuestros hermanos” estariam a par e a controlar a situação…
Pergunto eu: Se não temos nuclear, desde quando nos podemos deixar à mercê dos que ao nosso lado têm, e, mais grave, com influência direta no nosso território, e na nossa população, em caso de acidente?…Confiar sem analisar e sem verificar dados nos que decidiram ter Nuclear, e têm, não parece uma sensatez da nossa parte…mas avancemos.
Qual foi o teste em que chumbou esta central afinal?…

Bem, é muito simples, o teste de resistência relaciona-se com as válvulas de segurança, aquelas que têm de existir e funcionar perfeitamente se não queremos acidentes nucleares como o que aconteceu recentemente na central de Fukushima, no Japão.

Foi este o teste onde esta central chumbou, não estão presentes estas válvulas de segurança.
Perguntamos nós: Como não estão presentes?…É básico…temos “em tudo o que é aparelho” estas válvulas de segurança que permitem o controle de fugas…Mesmo quando o problema de fuga é de “água” potável, os equipamentos mais básicos e até domésticos, possuem válvulas de segurança…
Pois, mas não nesta central nuclear, nem em muitas delas aliás…

Se o perigo do nuclear é imenso, e desnecessário quando a inteligência humana conseguiu encontrar formas alternativas de energia, renováveis e não poluentes, parece óbvio que o perigo aumenta severamente quando existem falhas deste tipo.

Depois do acidente de Fukushima as Entidade reguladoras da Europa e as autoridades recomendaram a colocação urgente deste tipo de sistemas, com válvulas de segurança, nas centrais nucleares; este tipo de válvulas impedem uma explosão de hidrogénio. No entanto na central nuclear de Almaraz elas ainda não foram instaladas, nem há previsão da sua instalação antes do final de 2016.

Em caso de acidente nesta central em Almaraz a evacuação da população seria feita até um raio de 30 km de distância da central, ocupando portanto um perímetro totalmente localizado em terras de Espanha já que a mesma central está a 100 km da nossa fronteira.

Em estudos efetuados prevê-se que em caso de um dos cenários credíveis ocorrer, relativamente a uma libertação – fuga da central de Almaraz, e em condições atmosféricas desfavoráveis, 7% do território português é abrangido por ações de mitigação, sendo que em zonas de baixa densidade populacional isto corresponderá a aproximadamente 2% da população portuguesa. As ações de mitigação previstas são restrições de duração curta, que se referem sobretudo ao consumo de água e de vegetais, abrigo nas edificações normais ou duche após a exposição no exterior.

Parece simples não?…Afinal é só isto…e com estes dados se desvaloriza de ambos os lados da fronteira os danos que poderiam estar em causa para Portugal, se um acidente ocorrer.

O problema é que os danos causados a curto e a médio prazo por um acidente nuclear estão longe de ser tão facilmente previstos e ainda menos resolvidos, tal como a história tem provado; e já não falando daquilo que não se prova ter associação direta mas que pode ter…

O problema é que no nosso país decidimos não ter nuclear e estamos expostos de igual forma.
O problema é que o governo anterior em Portugal nada exigiu realmente a Espanha, e manifestou a sua confiança na política de cooperação com Espanha na monitorização do “nuclear”, assumindo de igual forma pela voz do seu ministro à época que desconhecia o relatório da organização Greenpeace… Bem, digo eu, se desconhecia não é um bom sinal…

Verdade é que continuamos expostos a um eventual acidente, mesmo depois dos alertas da Greenpeace e da Quercus, e pelo ainda incumprimento desta central em colocar o respetivo sistema, continuando a mesma a funcionar sem sistemas de ventilação filtrada.

Surgem agora novos dados de falhas graves nesta central, de dificuldades de operacionalidade segura, de falhas no sistema de arrefecimento…enfim dados que são absolutamente graves e que demonstram a necessidade de intervenção para já!

Em 2015 a própria Greenpeace incentivou Portugal a apresentar uma queixa às autoridades competentes, internacionais, alegando que a Convenção determina que, no que se refere às declarações do impacto ambiental além fronteira, estará Espanha obrigada a comunicar os estudos de que dispõe em termos de impacto, a Portugal, e que tal não estaria à data a suceder.

Chumbada num dos testes de resistência, esta central de Almaraz tem a análise de situação efetuada por parte de Espanha, por um lado exatamente porque tem Portugal ao seu lado, ou seja, qualquer problema afetará um outro país da União Europeia, o que implica que tenha de ter este tipo de análises elaboradas, por outro lado, esta análise é necessária sempre porque, precisamente, Almaraz é da mais velhas centrais em funcionamento em Espanha, o que implica maiores precauções e cuidados teoricamente. Na prática estas análises teriam de estar sempre atualizadas e serem comunicadas a Portugal, ou exigidas pelo mesmo país, o que alegadamente não estaria a acontecer, nem o Governo da altura o exigiu.

Agora o problema surge novamente, com novos incidentes e falhas no funcionamento desta central.
O Nuclear é sempre um perigo real para o Ambiente, para as pessoas, e aumenta exponencialmente quando não são cumpridas as regras essenciais de funcionamento e dos sistemas, e quando se sucedem falhas e incidentes no seu funcionamento.

Se um pouco por toda a Europa a análise não é positiva – parece que “andamos a jogar à sorte” as vidas das populações até à desativação das centrais nos casos em que tal está previsto, em Espanha e consequentemente para Portugal, o risco de acidente nuclear é neste momento considerável, no sentido de que são demasiadas as falhas no sistema da velha central de Almaraz, e isso expõe-nos a todos a um perigo que é real.

A Greenpeace detetou várias deficiências e falhas na prevenção de acidentes em centrais nucleares por toda a Europa, tendo sido verificado que não foram aplicadas as medidas de proteção necessárias em caso de catástrofe natural, como sismos e terramotos ou inundações, nem no que se refere a acidentes de funcionamento como o são as explosões de hidrogénio.

A ausência de instalação, de resto recomendada na Europa depois do acidente de Fukushima, das referidas válvulas de segurança por forma a prevenir a fuga/libertação de radioatividade em caso de acidente, é uma das mais evidentes e perigosas falhas que está presente.

É o problema que está também presente na central de Almaraz, a que se juntou agora um novo problema de funcionamento no sistema de arrefecimento – um problema de operacionalidade grave aparentemente que determina que é provavelmente impraticável o bom funcionamento desta central em segurança no estado em que se apresenta.

Urge tomar decisões deste lado da fronteira. Decisões que dizem respeito a todas e a todos nós.