Nunca gostamos tantos das “feiras” – Maria João Costa

Ninguém gosta, eu sei, e ficamos sempre com vontade de bater em alguém quando percebemos que está a chover lá fora e temos que nos levantar para mais um dia de trabalho. E tudo piora se for numa segunda-feira.

Mas não era do tempo que eu estava a pensar escrever, até porque podemos ter a sorte de sair de casa sem precisar de levar o guarda-chuva, e o texto perdia (quase) todo o sentido. Mas vou falar da “feira” de uma segunda-feira, com ou sem chuva.

Isto está bom é para eles, para aqueles que montam e desmontam em qualquer canto; para aqueles que levam tudo às costas; para aqueles que regateiam, e põe a mão na anca sem serem do norte; para aqueles que começam em cinco, e acabam em dois e meio sem prejuízo; isto está bom para aqueles que foram esquecidos quando alguém se lembrou de construir os “Shops” (como eles dizem, aqueles, os feirantes).

Ir à feira, numa segunda-feira era a melhor forma de começar a semana, e de encher a despensa. Tudo fresco, e ao preço da horta. Não passava pelos grandes mercados, nem pelas superfícies comerciais, depois do quintal, a panela do cliente era o próximo local. E o mesmo se passava com muitas das roupas, que não vinham da terra, mas do que ficava a mais nos armários, e nas fábricas que vestem os modelos das montras da Zara. E tudo com etiqueta.

Esses tempos pareciam dos avós, porque só eles é que ainda nos compravam as meias e o pijama do Natal na feira, mas como diria o Vítor Bandarra, “Isto anda tudo ligado”, e anda mesmo; agora somos nós que vamos de braço dado com a avó à feira. Ela ainda regateia preços e sabe quem é que tem os melhores espinafres para a sopa.

A crise, era caso para falar de mau tempo, está a trazer, aos poucos, uma mudança de mentalidades, de hábitos e valores que quase nos faziam esquecer de como uma segunda-feira é o melhor dia para ir à feira, de braço dado com a avó, regatear e negociar.


Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!