O 1º de Maio já não é o que era – Miguel Bessa Soares

O povo português, quer o governo queira quer não, é um povo de tradições.
Em 2012 o Pingo Doce abriu as portas aquela, que nós, queríamos manter como uma tradição histórica. Não há português algum que recusasse sair de casa no 1º de Maio para comprar a loja com 50% de desconto.

Bem vistas as coisas, para a malta que nasceu na décadas de 70, 80, e muito mais de 90 em diante, o 1º de Maio é mais um feriado, com a mesma importância de um qualquer feriado religioso.
Nós não sabemos como era a vida antes de 25 de Abril ou do primeiro feriado de 1 de Maio de 1974. E a mensagem está claramente a esvair-se.

Começa a ser muito complicado explicar a nós e aos mais jovens, que a vida em Portugal era muito má durante o Estado Novo.
As pessoas passavam fome.
Portugal vivia mergulhado na crise.
Mantínhamos uma guerra colonial perdida.
O povo não ordenava.

O único factor positivo que salta à vista é efectivamente o facto de já não sermos um país em guerra. Mas será que ter abdicado da guerra, sem qualquer contra partida ou negociação, e até mesmo deixando lá portugueses sem qualquer protecção, foi um factor positivo?

Mergulhados na crise continuamos, a fome continua ai, as nossas finanças estão completamente descontroladas, e a classe política e o dinheiro, são as classes que nunca passam por momentos de aperto, sacrifícios, ou austeridade.

Se a nossa liberdade é poder sair no dia 1º de Maio à rua, se a nossa liberdade é dizer que o povo ordena, mas nunca ver isso de facto a acontecer, venham as promoções do Pingo Doce.

Retrato de um jovem de 34 anos que não viveu o 25 de Abril de 1974.

 

Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário