O 1º Natal depois do Fim do Mundo – Pedro Nascimento (Extra – Natal)

Que chatice! Estou inconsolável! A minha família fita-me com aqueles olhares mortíferos de reprovação e os meus amigos não me respondem à mensagem “onde é a passagem de ano”. Caramba, tudo porque estava tão convencido que o mundo acabava a 21 que não comprei prendas para ninguém.

Que maçada, … Afinal, tanta coisa com o calendário maia e aquilo sai-me o maior furo desde o massacre nas aulas de Newtown (what, too soon? :$). Eu, que estudo estas coisas das humanidades, sinto-me enganado! Mais, ultrajado! É que se o calendário fosse da Maia, pá… um gajo nem lhe dava crédito. Só podia ser uma partida de uma costureira de cuecas ou meias da fábrica têxtil. Tipo uma certidão de óbito a brincar que uma fazia do marido da colega de linha de montagem e que depois só lhe dava a certidão no dia 21 ou assim.

Isto é, é que se o calendário fosse Damaia eu nem sequer lhe passava cartão. Coisa que eu também nunca passava na máquina de multibanco lá do sítio. De qualquer das maneiras, na Damaia o fim do mundo ser marcado para um dia específico é tão especial como um carro funerário chegar ao cemitério no domingo quando a empresa tem trabalho todos os dias. Quer dizer, acabar o mundo na Damaia é como ir à praia no Algarve – todo o dia há alegria.

É que a previsão até podia ser da Maya! Que isso p’ra mim era sorrir e brilhar o olho contente à espera do fracasso alheio. Sim, porque isso as cartas dos “tarados” são um bocado de papel mas com mais tinta. Além disso, eu não recebo conselhos de alguém que se diz capaz de prever o futuro e vai pôr umas mamas de plástico das que se vêm a provar tóxicas. Quer dizer, a falta de vergonha está na cara. Nenhuma advinha que se preze põe mamas podres no peito. Só se for doida. E para ouvir conselhos de gente doida ligo a TV em dia de manif – fica tudo embrutecido, é só disparates.

Só que o visado não é o calendário da Maia, nem da Damaia, nem da Maya. Estamos a falar do grandioso calendário Maia! E eu pensei: pá, estes gajos eram muita espertos portanto não vou ‘tar a gastar trocos p’ró Natal este ano. O problema é que a crise está ao contrário na minha família. A minha mãe comprou-me uma mansão em Miami. O meu pai deu-me um Ferrari. E a minha irmã, forreta, comprou-me só ali a península de Tróia, em Setúbal. Vergonhoso. E eu, convencidíssimo que o mundo acabava a 21, fui gastando o que tinha ao longo do ano em putas e vinho verde. E agora? Agora é que me tramaram! Tenho a maior desgraça a braços: dinheiro nenhum no banco e uma centena de putos com baba e ranho a chorar brasileiro e ucraniano à minha porta. Pior, milhares de notificações do tribunal na caixa do correio para ir fazer testes de paternidade. Esse atrasado maia que fez o calendário merecia era um estaladão daqueles que fica a marca. Idiota do car@£&§ !

PedroNascimentoLogo1Crónica de Pedro Nascimento
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